Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Demolidor, literalmente, um homem sem medo

1 dezembro 2001

Daredevil #1É raro encontrar alguém que não tenha simpatizado logo de início com este simpático demônio ao serviço do bem. Afinal, o Demolidor assume os requisitos prediletos de Stan Lee, o de alguém com falhas humanas que se dedica ao combate do crime com as dificuldades inerentes, que são levadas ao extremo pelo fato de ele ser cego.

O herói foi criado em 1964 por Stan Lee e pela arte de Bill Everett, apresentando um uniforme caricato, com as cores amarelo e vermelho escuro predominando nas suas primeiras aparições. Na sua origem, logo é mostrado tudo o que o leitor precisa saber e, felizmente, esta é pouco repetida ao longo dos anos, ao contrário, por exemplo, do Batman e do Homem-Aranha.

Matt era um adolescente normal criado por seu pai, um lutador de boxe fracassado e que pretendia que seu filho fosse algo mais na vida, usando a cabeça em vez dos punhos. Isso causou uma infância complicada para o garoto, que era gozado pelos outros moleques, que o apelidaram de "Demolidor", por andar sempre carregado de livros.

Daredevil #7Para descarregar a raiva, Matt soca um dos instrumentos de treino de seu pai e percebe sua força. Ele decide, então, treinar escondido do pai, ao mesmo tempo em que continua dando duro nos seus estudos.

Seu pai, entretanto, decide sair de sua má forma da pior maneira: aliando-se a um vigarista que "arranjava" resultados de jogos, o que se tornaria fatal mais para frente da história. Nessa mesma altura, Matt sofre o acidente fatídico. Após salvar um velho de ser atropelado por um caminhão desgovernado, ele é atingido por isótopos radioativos, que ao caírem do veículo sobre seu rosto, o cegaram para sempre.

Logicamente que nos anos 60 isso era encarado como "normal", e o personagem rapidamente se conformou com sua situação, e, anos mais tarde, formou-se em Direito e seguiu em frente com seu colega Foggy Nelson.

Daredevil #21, arte de Gene ColanSeu pai, no entanto, rapidamente foi confrontado com a vigarice dos seus empregadores, que lhe pediram para cair numa luta, que estava sendo assistida pelo seu filho. Por isso, ele decide não forjar seu próprio nocaute e vence. Claro que, seguindo a linha de tantos outros supertipos, o mesmo teve que ser morto para despertar o herói no personagem, que já tinha percebido o quanto seus outros sentidos (audição, tato, olfato e paladar) ganharam sensibilidade sobre-humana.

Seguindo a tradição de que qualquer um sabia costurar um uniforme e criar suas próprias armas naqueles tempos, Matt modifica sua bengala de modo que esta se torne num bastão de arremesso, que lhe proporcione vantagem numa luta.

Daredevil #30, arte de Gene ColanClaro que, como todos os outros personagens que passaram por isso (excetuando Batman, que só mais tarde conseguiu), logo na história de origem ele conseguiu apanhar os vilões responsáveis pela morte de seu pai. E estava assim lançado mais um herói.

Infelizmente, talvez devido à feroz concorrência de um certo escalador de paredes, sua popularidade foi sempre algo periclitante, especialmente quando ele copiava alguns atributos do Aranha, como as constantes piadinhas em momentos de perigo.

A partir do número 7, o herói muda de uniforme para o clássico e maneiro vermelho escuro, numa história na qual ele enfrenta até a exaustão o príncipe Namor, o anti-herói predileto daquela altura. O Príncipe Submarino chega a admitir que o Demolidor tinha sido o mais persistente de todos os seus adversários, sublinhando o que, até então, era apenas um slogan bacana, e tornou-se sua marca registrada: "Homem sem medo".

Daredevil #158, o primeiro de Frank MillerDemolidor foi assinado por algumas das maiores feras dos quadrinhos, como Gene Colan e Gil Kane, por exemplo, dando um ar refinado e clássico às suas aventuras, embora isso nunca tenha se refletido na popularidade e nas vendas de duas revista. O sucesso veio quando o até então desconhecido Frank Miller passou a trabalhar com o personagem, em janeiro de 1981, e o afastou definitivamente do cancelamento.

Logo na sua estréia, Miller brindou os leitores com a apresentação da ninja mais sexy de todo o universo dos quadrinhos: Elektra!

Curioso como desde sua primeira história, o mago Frank Miller extrapolou em todos os clichês que utilizaria no futuro, numa das fases mais brilhantes do personagem e das HQs em geral. A constante utilização de recordatórios em vez de balões, a chuva e o ambiente sombrio a todo momento; os seis quadrados fechados com ação non-stop; e a utilização de artes marciais no seu esplendor foram usados e abusados pelo autor, para nosso prazer e satisfação.

Daredevil #175, de Frank MillerMais tarde, Miller teve uma atitude irresponsável e impensável para muitos: o assassinato de sua grande criação, a ninja Elektra. Sozinho ou associado a Mazzuchelli, ele produziu obras magníficas, que colocaram esta personagem nos píncaros do universo quadrinhístico e que, certamente, muito contribuíram para o filme que chega agora aos cinemas.

Ao longo dos anos, o Demolidor foi utilizado tanto na sua vertente advogado, quanto na de herói no Universo Marvel. Ele se tornou um bom amigo do Homem-Aranha, amante da Viúva Negra e inimigo feroz do Rei do Crime, tendo cada um acabado com o outro em fases distintas das carreiras.

Daredevil #181, onde Frank Miller mata ElektraO personagem teve combates mortais com um dos melhores personagens do "lado mau": o Mercenário; combateu várias vezes o Justiceiro em nível físico e ideológico; e chegou a dar muito trabalho a Wolverine.

O que nos faz, então, gostar deste personagem? Sua ideologia de que a justiça prevalecerá? Seu fator "deficiente" da cegueira? Talvez tudo isto e um algo mais: a esperança de que ele continue nos agradando durante muitos anos, sem que seja necessário os roteiristas recorrerem a truques baixos para chamar a atenção para ele.

Hugo Silva foi visto nas ruas de Lisboa trajando uma roupa colante vermelha e com um estranho capuz com dois chifres...

 

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