A trajetória do Homem-Aranha nos quadrinhos
As mulheres de Peter Parker
A primeira paixão de Peter Parker foi Liz Allan (cujo nome é frequentemente grafado errado pela própria editora, como Liz Allen), nos seus tempos de ginásio, e com quem ele nunca namorou.
Naquela época, Liz era a namorada de Flash Thompson. O vilão Mark Raxton, o Magma, é meio-irmão de Liz. Anos mais tarde, ela se casou com Harry Osborn, amigo de escola de Parker, que durante alguns anos assumiria a identidade vilanesca de seu pai, Norman Osborn, o Duende Verde.
Após os eventos de Um dia a mais (One more day), em 2007, Liz – como a grande maioria dos personagens do Universo Marvel – "esqueceu" que Peter Parker era o Homem-Aranha. Nessa nova fase, ela nunca se casou e Harry Osborn ainda está vivo.
A personagem surgiu oficialmente em The Amazing Spider-Man # 4, em 1963, embora muitos autores assumam que ela é a loira (sem nome) que aparece em Amazing Fantasy # 15. Liz também foi namorada de Foggy Nelson, o advogado amigo de Matt Murdock, o Demolidor.
Betty Brant surgiu em The Amazing Spider-Man # 4, em setembro de 1963. Ela era, na época, a secretária de J. Jonah Jameson no Clarim Diário. Peter e Betty estiveram envolvidos romanticamente e ela foi o primeiro grande amor do herói. A moça culpava o Homem-Aranha pela morte de seu irmão, durante um confronto do aracnídeo com o Dr. Octopus, e isso atrapalhou muito o romance de ambos.
Anos mais tarde, Betty se casou com Ned Leeds, um repórter do jornal, que, manipulado por Roderick Kingsley, assumiria a identidade do Duende Macabro. Ele foi o terceiro personagem a usar a máscara do Duende Macabro.
Irritado com Flash Thompson, Leeds fez com que ele fosse preso pelos crimes do vilão. Betty descobriu que seu marido era um criminoso pouco antes de ele ser assassinado por outro bandido, o Estrangeiro.
Todos esses fatos, somados à morte de seu marido, levaram Betty a uma crise de insanidade. Alguns anos depois, ela conseguiu limpar o nome do falecido marido, provando que Kingsley era o verdadeiro Duende Macabro.
Mas o grande amor de Peter Parker foi Gwendolyne Stacy. A personagem estreou em The Amazing Spider-Man # 31, em dezembro de 1965. A revista é a primeira parte do arco clássico Se esse for o meu destino, uma das melhores histórias do Homem-Aranha, escrita por Stan Lee e ilustrada por Steve Ditko. A Panini Comics republicou essas aventuras, no Brasil, há alguns anos, no encadernado Biblioteca Histórica Marvel – Homem-Aranha – Volume 4.
Gwen estava interessada em Peter, mas ele andava tão preocupado com a saúde de sua tia May, que estava no hospital, que não deu atenção à jovem. Ela namorou os dois colegas de Peter, Flash e Harry.
Quando Betty termina o seu relacionamento com Peter, o romance entre ele e Gwen se desenvolve, mas a vida do Homem-Aranha é complicada e, mais uma vez, Peter se vê prejudicado pelo seu alter ego.
O pai de Gwen, o capitão de polícia George Stacy, é hipnotizado pelo Dr. Winkler e pelo Rei do Crime (The Amazing Spider-Man # 59 e # 60) e ataca Peter, que se defende. Ela inicialmente acredita que o rapaz o atacou e encerra o namoro.
Tempos depois, com a verdade revelada, eles reatam, mas novamente surgem problemas. A moça culpa o "Cabeça de Teia" pela morte de seu pai, durante um confronto com o Dr. Ocotpus (The Amazing Spider-Man # 90), quando, na verdade, o Homem-Aranha estava tentando salvá-lo.
Antes de morrer, contudo, o capitão Stacy revela que conhecia a identidade secreta de Peter, sem nunca ter contado nada para a sua filha, e o aracnídeo se sente ainda mais culpado pelo incidente.
O romance entre Peter e Gwen termina em tragédia, quando o Duende Verde (Norman Osborn) joga a garota da ponte George Washington, em Nova York, para se vingar do Homem-Aranha, que tenta salvá-la, mas não consegue evitar sua morte. A aventura foi publicada em 1973, em Amazing Spider-Man # 121 e # 122, com enredo de Gerry Conway, desenhos de Gil Kane e arte-final de John Romita.
Segundo Romita, a inspiração para essa inesquecível aventura veio das tiras de Terry e os piratas, de Milton Caniff. A morte da personagem Raven Sherman, em 1941, chocou os leitores. Para alguns especialistas, a história da morte de Gwen Stacy marca o final da chamada Era de Prata dos quadrinhos estadunidenses.
Como consequência, o Duende Verde ganha o status de maior inimigo do Homem-Aranha, posto que pertencia ao Dr. Ocotpus, e Peter Parker inicia um novo relacionamento com Mary Jane Watson.
Infelizmente, para os leitores, a morte não encerra a história da personagem. Os fãs se revoltaram, inundando a redação com cartas de protesto e até ameaças de morte. Durante uma palestra, numa escola, Stan Lee, disse que não sabia que a personagem morreria e sugeriu que o enredo havia sido feito sem seu conhecimento, enquanto ele estava viajando - o que não era verdade - e prometeu o retorno da moça.
Gerry Conway foi forçado por Stan Lee a ressuscitá-la - nem que fosse por apenas uma edição. Em 1975, a Saga do Clone introduz pela primeira vez um clone de Gwen Stacy, criado por Miles Warren, o Chacal.
Essa duplicata da moça desaparece por vários anos, até retornar em 1998, quando o Alto Evolucionário anuncia que não se tratava de um clone, mas de uma mulher, Joyce Delaney, modificada geneticamente para ser uma cópia de Gwen Stacy.
Essa versão foi "desmentida" outra vez alguns anos depois, quando esse clone estava casado com o clone de Miles Warren, adotando o nome Gwen Miles, na controversa Saga do Clone (sim, o nome foi o mesmo), da década de 1990.
Como se toda esta confusão já não bastasse, em 2004 J. Michael Straczynski mexeu no passado de Gwen Stacy, no arco Sins Past (The Amazing Spider-Man # 509 a # 514, batizado no Brasil de Pecados pretéritos), criando um retcon (continuidade retroativa) no qual a moça teria tido um breve romance com Norman Osborn – que então já havia ressuscitado (ver abaixo) e estava escondido em Paris, na França.
Gwen fica grávida – o que, na opinião do escritor e da equipe editorial envolvida, criava um motivo ainda mais forte para Osborn matar a moça –, dá à luz um casal de gêmeos e quer criar os filhos afastada de Norman, junto com Peter.
Inicialmente, Straczynski queria que as crianças fossem filhos de Peter, mas os editores vetaram, com a desculpa de que isso envelheceria demais o personagem, e a paternidade acabou ficando mesmo com Osborn.
Os filhos de Gwen são Gabriel e Sarah, que têm um crescimento anormal, muito mais rápido, devido às modificações genéticas no corpo de Osborn. Ambos são “envenenados” pelo pai para odiar Peter Parker e o Homem-Aranha.
Mais tarde, Sarah faz as pazes com Peter, mas Gabriel assume a identidade de Duende Cinza e segue um caminho similar ao de Norman Osborn.
Depois de Gwen, a mulher mais importante na vida de Peter foi Mary Jane Watson, que surgiu em junho de 1965, em The Amazing Spider-Man # 25, embora seu rosto esteja oculto propositalmente e só seria visto em The Amazing Spider-Man # 42, publicado em novembro de 1966.
Sobrinha de Ana Watson, a vizinha de Tia May, a personagem – também conhecida como MJ – sempre esteve envolvida com Peter Parker, mesmo antes da morte de Gwen Stacy. Após a tragédia, a principal rival de Mary Jane era Felícia Hardy, identidade secreta da vilã Gata Negra, que teve um relacionamento com o aracnídeo. Peter propôs o casamento a MJ duas vezes, sempre com resposta negativa.
Mary Jane só aceitou a proposta após o terceiro pedido. O casamento ocorreu em The Amazing Spider-Man Annual # 21 (Homem-Aranha # 100, no Brasil), de 1987. A Marvel tratou o matrimônio como um evento real, inclusive com uma cerimônia realizada no estádio Shea, em Nova York, antes de uma partida entre os times de beisebol New York Mets e Pittsburgh Pirates.
O vestido de noiva da Mary Jane e o terno de Peter, usados no evento, são criação do designer Willi Smith. A campanha promocional incluiu a publicação um anúncio do casamento no jornal New York Times.
A cerimônia foi realizada no dia 5 de junho de 1987, por Stan Lee, que "casou" a modelo Tara Shannon, interpretando Mary Jane, com um ator usando o uniforme do Homem-Aranha – e de terno e gravata –, diante de um público de 50 mil pessoas. O casamento foi "testemunhado" por atores vestidos como Homem de Gelo, Flama, Capitão América, Hulk e o Duende Verde.
A ideia do casamento foi de Stan Lee. O criador do aracnídeo estava afastado das atividades diárias da redação – sob o controle do editor Jim Shooter – e envolvido com outros projetos da Marvel, em Los Angeles, além de atuar como consultor do desenho animado e produzir os roteiros das tiras diárias, na época desenhadas por Floro Dery.
Quando Lee soube que Mary Jane havia descoberto a identidade secreta do Homem-Aranha – fato ocorrido em The Amazing Spider-Man # 257 –, ele usou a ideia nas tiras e isso foi uma das razões para ele casar os personagens nas histórias que saíam nos jornais.
A ideia ganhou ímpeto, apesar de muitos autores, como o escritor Gerry Conway, serem contrários à proposta. Jim Shooter, o então editor-chefe da Marvel, teve que reintroduzir repentinamente Mary Jane na vida do herói (na época, ela não era sua namorada e nem morava em Nova York), para colocá-los no altar nas revistas em quadrinhos antes que Stan Lee o fizesse nas tiras.
O relacionamento passou por diversos problemas, muitos derivados das atividades do Homem-Aranha, outros em função da carreira de modelo de Mary Jane. Além disso, situações mais comuns, como o sequestro dela por um fã, Jonathan Caesar, e a gravidez que terminou em tragédia com a morte do feto, também afetaram a vida do casal.
Muitos anos depois, nos bastidores, a equipe editorial procurava uma maneira de desfazer o casamento, considerado por muitos um erro que limitava as oportunidades criativas e narrativas dentro das aventuras do Homem-Aranha. Uma primeira tentativa ocorreu quando uma pessoa sem nome e com poderes telepáticos causou a morte de Mary Jane, explodindo o avião no qual ela viajava (The Amazing Spider-Man # 13 – Volume 2, em 2000). O episódio era uma farsa e MJ retornou, gradualmente, depois de pouco mais de um ano, à vida com Peter.
A dissolução do casamento só ocorreu de fato após a saga Guerra Civil, no controverso arco Um dia a mais, escrito por J. Michael Straczynski (e até ele se declarou insatisfeito com a história), no qual Tia May é baleada e fica em coma.
Então, o demônio Mefisto oferece a Peter a chance de salvar sua tia, se ele concordar em desfazer seu casamento da linha temporal. O evento (visto em Amazing Spider-Man # 545, de 2007) apaga qualquer memória ou menção do casamento – e outros fatos, incluindo a revelação da identidade secreta de Peter Parker feita em público – e altera outros elementos da vida do herói.
Essa solução editorial Deus Ex Machina foi usada para alterar vários elementos da cronologia do Homem-Aranha, como o retorno do falecido Harry Osborn, o amigo de colégio de Peter Parker.
O expurgo do casamento do Aranha da cronologia e os eventos ocorridos naquele dia, segundo a "nova cronologia", foram mostrados no arco One moment in time (Um momento no tempo, no Brasil).
Depois disso, Mary Jane voltou a ser vista nas histórias, com seu namorado, o ator Bobby Carr.
Outras namoradas importantes na vida de Peter Parker foram: a vilã Gata Negra, Felícia Hardy, que formou um triangulo amoroso com Peter e Mary Jane após a morte de Gwen Stacy; Debra Whitman, que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1979, em Amazing Spider-Man # 196, e foi uma personagem importante na série de TV Spider-Man Animated, de 1994; Sarah Rushman, a mutante Medula (Marrow), que integrou os Morlocks e os X-Men e namorou Peter quando estava sob controle da S.H.I.E.L.D., durante a fase que o Homem-Aranha acreditava que Mary Jane havia morrido numa explosão de avião; e, mais recentemente, Carlie Cooper (cujo nome é uma homenagem à filha de Joe Quesada), criada em The Amazing Spider-Man # 545, de 2007.