Roberto Bolaños: uma saudade egoísta
Como explicar o sucesso de uma atração televisiva infantil com baixo custo de produção, protagonizada por adultos vestidos como crianças, cheia de piadas previsíveis e reprisada diariamente há décadas sem perder o encanto?
A questão fica ainda mais difícil de responder quando se adiciona a esses elementos o fato de que essa série de TV é amada (repita-se, amada) não só por crianças, mas por jovens, adultos e até idosos.
Eu já tinha 16 anos quando conheci Chaves. Meu pai, também um fã incondicional da série, tinha 42. Meus irmãos, na época crianças, cresceram assistindo ao seriado. Minha avó paterna se impressionou tanto com nossas risadas na primeira vez que assistimos, que passou a acompanhar o programa, mesmo sem a empolgação do restante da família.
E depois vieram Chapolin e Chespirito, a admiração pura por aqueles personagens/atores e uma “intimidade” com aquelas pessoas que durante tantos anos me acompanharam nos diversos horários em que o SBT transmitia fielmente os episódios abençoadamente repetidos e repetitivos. Sem contar os DVDs que tenho em minha coleção (que inclui gibis e um álbum de figurinhas) de Chaves e Chapolin.
É nesse estágio em que nos encontramos, durante todo esse tempo, eu e milhares (milhões?) de fãs na América Latina: pouco conhecemos da vida pessoal do comediante Roberto Bolaños, mas o amamos por causa do cativante garoto Chaves, personagem que ele interpretou com tanta mestria e convicção que, ao menos em nossa mente, transformou-se em sua cria.
Embora sempre buscando informações sobre ele e sua trupe (os atores que encarnaram Seu Madruga, Senhor Barriga, Dona Florinda, Quico e outros no seriado), somente tracei um quadro sobre a vida e a obra de Bolanõs há dois anos, quando li a biografia Chaves - A história oficial ilustrada (olha aí o título provando que criador e criatura já não podiam ser tratados como seres distintos).
Ator, diretor, produtor, compositor, cantor, dançarino, escritor e desenhista - sim, um exímio artista gráfico, tanto nos desenhos realistas quanto nos cartuns -, Bolaños tinha um rico currículo artístico e uma história de vida que justifica tamanha admiração que despertava e continuará despertando.
Seu passamento, no dia 28 de novembro de 2014, deixou inconsolável uma imensa legião de fãs envoltos em uma saudade egoísta, aquela que dói por levar embora aquilo que dava prazer e alegria a quem ficou.
Não convivi com Roberto Bolaños, nunca o vi pessoalmente e não sei nada sobre seu caráter e personalidade além do que li – e gostei – no livro que conta sua história. Mas ele levou embora o Chaves. E estou triste por isso, acometido por uma dolorosa saudade egoísta.
Eu queria que ele continuasse aqui, iludindo-me com a esperança de que ainda faria algum trabalho inédito na televisão, fazendo-me rir com uma bobagem infantil qualquer. Onde quer que ele esteja agora, espero que perdoe meu egoísmo.
Juro que foi sem querer querendo.