Ainda a mesma coisa
Mais uma vez me pego tentando escrever alguma coisa, qualquer coisa, sobre quadrinhos que ainda não tenha sido dita, e falho miseravelmente.
Por incrível que pareça, as duas únicas colunas que tiveram algum feedback de leitores (na verdade, são amigos, em sua maioria, que doam seu tempo para comentar minhas opiniões quase nunca acertadas) foram as últimas que, para mim, soaram como chover no molhado. Uma sobre a linguagem dos quadrinhos, outra a respeito do "por quê" não se faz quadrinhos de super-heróis no Brasil.
Esmiuçando em minhas notas, pensei a respeito de escrever algo na linha de um "do-it-yourself" para proto-roteiristas, até porque outra pessoa além de mim demonstrou interesse em saber qual é o processo que utilizo na composição de uma história.
Bom, vai ficar para a próxima.
Estou mais interessado em algo que surgiu numa discussão com minha mulher, a respeito da postura dos cidadãos norte-americanos diante da assim chamada "Guerra do Iraque". Provável que abastecidos com combustível provido por Michael Moore em seu discurso na entrega do Oscar (pelo documentário Bowling for Columbine) e subseqüente texto (re)publicado em jornal brasileiro de grande circulação, dançamos nossa pequena valsa de "concordo" e "discordo" por um tempo razoável. E chegamos à seguinte conclusão: os norte-americanos são, supostamente e em comparação com os brasileiros, melhores preparados no quesito "política" para questionar, haja visto a reação do jornalista já citado e de vários de seus pares, incluindo um certo Peter Arnett, recém-"limado" por dar suas opiniões sobre a invasão em entrevista a uma emissora de televisão, por assim dizer, "do outro lado".
Óbvio que há exceções dos dois lados e que tanto brasileiros quanto americanos estão sujeitos à manipulação por via dos meios de comunicação em massa, mais notadamente, a televisão. O grau de eficácia da mencionada manipulação depende do que faz a diferença entre os dois povos: politização.
Apesar do alto grau de aprovação do presidente americano "Alfred E. Neuman" divulgado pelas emissoras de seu país, seus cidadãos ainda saem às ruas para protestar contra a guerra. Você consegue imaginar cena parecida acontecendo aqui, no Brasil?
Certo, nos anos 90 tivemos os "caras-pintadas" e tudo mais, mas esse movimento não existiria sem a mão pesadíssima da mesma superpotência televisiva (Globo, se você gosta de nomes) que deu posse ao famigerado Fernando Collor de Melo. Além disso, houve os casos de revolucionários massacrados nos anos 60 e 70 pela ditadura militar. O que mais?
Nada.
Como bom nerd, não consegui deixar de relacionar todas essas pequenas voltas dadas pelas engrenagens do que se passa por meu cérebro com o mundinho minúsculo das histórias em quadrinhos.
O que me traz de volta à pergunta da coluna anterior: Por que não é possível fazer uma história convencional de super-heróis brasileiros?
Porque nós somos um povo acomodado. Culpemos o sangue indígena.
Sem mais delongas e antes que você ache que se trata de uma "errata" da edição anterior da Entre Quadrinhos, quero destacar o adjetivo "convencional". Sim, não dá para acreditar num sujeito que ponha suas cuecas por cima das calças e saia para combater o crime por aqui a troco de nada, maaas... Imagine o que aconteceria se tivéssemos um supercara que fizesse das suas, desde que levasse alguma vantagem... soa mais brasileiro? Ou que, ao invés de desvendar enigmas herméticos, simplesmente "desse um jeitinho", fizesse uma "gambiarra" qualquer.
Alguém aí lembra da "Lei de Gérson"? Enfim, as possibilidades são grandes e poderiam explorar imagens regionalistas estereotipadas (ver Casseta & Planeta), como a do baiano preguiçoso (antes que algum baiano ofendido escreva me xingando, saiba que sou natural da Bahia) e outras mais ofensivas... se a idéia for provocar. Ou até mesmo ressaltar esse aspecto "acomodado" tão típico do brasileiro.
Enfim...
Abs Moraes, numa daquelas noites em que as idéias menos absurdas se propagam, transmitindo diretamente de sua cabeça para você.