Brilhante talvez seja o termo. Ellis e seu alter-ego com menos cabelo, muito menos, Spider Jerusalém (tenho certeza de não estar muito longe da verdade ao afirmar isso), me conquistaram desde a primeira vez que os vi em uma comic shop.

Os delírios do autor são magistralmente interpretados pelo lápis de Darick Robertson, que subverte a realidade de maneira surpreendentemente aceitável, a tal ponto que acreditamos em gatos fumantes de duas cabeças como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

Como todos devem saber (se não sabem, deveriam) Spider Jerusalém é um repórter contratado do The World, jornal virtual em tempo real de um futuro sem data.

Neste número, Spider Jerusalém descasca as religiões que infestam o seu mundo futuro (qualquer semelhança com o nosso é mera coincidência). Religiões e cultos como a Igreja dos Amorosos Jardineiros Alienígenas; a Igreja Sérvia de Tesla (o polêmico cientista precursor dos raios laser), única que pode salvar seu campo elétrico polifásico intrínseco, conhecido pelos não-engenheiros como alma; a Igreja do Amor ao Câncer, que adora o corpo mumificado de John Wayne; o culto sempre crescente do pobre e maldito Onam, que reúne em suas assembléias masturbadores inveterados; o Sacerdócio de Odin, na sua incansável busca de virgens que desejem deixar de sê-lo para a graça divina; a Igreja de Cobain, que distribui pequenas cartucheiras de ouro para serem usadas como medalhinhas Santificadas etc.

Como dirigir-se de forma inteligente a uma sociedade onde grupos de pessoas acham que a verdade está codificada nas reprises da série The Nanny ou consomem publicidade como: "Você quer provar Peiote ou comer carne humana no caminho da descoberta espiritual, mesmo que seja somente pelo puro prazer de havê-lo feito? Entre para a Igreja do Culto Ancião de Anazzasl. Seja ele quem for."

É neste mundo que vive nosso herói, em uma cobertura, comendo hambúrgueres de carne de macaco, olhos de Caribou e fumando seus cigarros marca Anjos Carcinoma, com seu gato (que, aliás, também fuma) de duas cabeças e três olhos e sua secretária gostosa (a qual estranhamente não come). Suspeito que o herói não sinta mais desejos carnais vivendo tão somente para o prazer de foder com o cérebro de uma sociedade prostituída.