Como Guerras Secretas ajudou o Thor pós-Walt Simonson
O caminho para a escolha dos substitutos foi tortuoso
Walter Simonson é um gigante dos quadrinhos e seu arco à frente do Poderoso Thor é uma de suas obras mais consagradas e queridas pelos leitores. O autor substituiu Alan Zelenetz nos roteiros, Mark Bright nos desenhos e Bob Layton e Bill Sienkiewicz nas capas.
Sua jornada teve início em The Mighty Thor # 337, em 1983, e na capa já mostrava a que veio. Bill Raio Beta, personagem criado por Simonson, quebra o antigo logotipo do título, que seria substituído na edição seguinte por um design mais nórdico criado pelo autor.
O trabalho de Simonson foi até a edição # 382, em 1987. Em quatro anos, o autor criou o Ragnarok, deu uma nova identidade secreta para o herói, deu vida a coadjuvantes importantes, fez Thor assumir o trono de Asgard e até mesmo o transformou em sapo! Tudo em meio a batalhas épicas e inesquecíveis para os leitores.
A fase de Walt Simonson foi recentemente republicada no Brasil em um omnibus, pela Panini. Mas já havia sido compilada antes em cinco edições na coleção Os Maiores Clássicos do Poderoso Thor, entre 2006 e 2012, da mesma editora, e também em três volumes de capa dura pela Salvat em 2018, intitulados Marvel Edição Especial Limitada – Thor.
Na época do sucesso de Simonson à frente do título, a pergunta que se fazia no mercado norte-americano era: após a saída dele, quem poderia manter o personagem à altura?
O autor fez roteiro e desenhos até a edição # 368, quando recebeu o apoio de Sal Buscema na arte, que não queria deixar o título. Então, a Marvel procurou um roteirista, e Tom DeFalco, que acabara de sair de O Espetacular Homem Aranha, foi o escolhido.
Simonson e Buscema haviam acabado de concluir Thor de forma épica. Depois da Guerra de Surtur, uma história que estava na sua cabeça desde que ele começou a desenhar profissionalmente, Simonson gastou quase um ano para lidar com as consequências da história, terminando com a invasão de Hel. Ao final, sem mais objetivos para continuar, o escritor deixou a série.
Buscema ganhou uma folga nos três números seguintes, enquanto a Marvel procurava um novo escritor. Foram feitos os famosos fillers, histórias que servem para preencher espaço. Em The Mighty Thor # 383, Tom DeFalco escreveu, Ron Frenz desenhou e Brett Breeding arte-finalizou uma aventura não contada de Thor na época da saga Guerras Secretas.
Na edição seguinte, a equipe introduziu um Thor do futuro e na # 385, Jim Shooter (então editor-chefe da “Casa das Ideias”), Stan Lee, Erik Larsen e Vince Colletta trouxeram uma história não contada com Hulk e Thor.
Jim Shooter gostou muito do que DeFalco e Frenz (que trabalharam juntos no Homem-Aranha, principalmente na fase do herói com o simbionte) fizeram na edição # 383, usando a saga Guerras Secretas, escrita por ele mesmo. Aliás, para saber tudo sobre a saga, escute o episódio 202 do Confins do Universo, clicando aqui.
Frenz comenta, no podcast Comic Book Historians, que Shooter na época gostou muito e disse a DeFalco: “Bem, por que não colocamos Frenz no Thor com você, Tom?”. E Tom respondeu: “Tudo bem, mas Thor já tem um artista”.
“Bem, vamos dizer ao Sal que você está trazendo o seu próprio desenhista. Se bem que isso não é verdade. Não, não vamos fazer isso”, disse Jim Shooter, mudando de ideia.
Frenz não queria tirar a revista de Buscema. Por isso, teve uma conversa com DeFalco. “Tom, desculpa. Se acha que vou ficar aqui e ver o Sal saindo de um título por minha causa, isso não vai acontecer. Não. Nem pensar”, relatou.
No entanto, os astros dos quadrinhos se alinharam e, naquela mesma época, o editor Jim Salicrup estava procurando um artista para o título Espetacular Homem-Aranha, e perguntou se Sal Buscema estava livre para assumir o desenho. Obviamente, ele não recusou e permaneceu no título por mais de sete anos.
E surge o Thor de jaqueta
Com Buscema no Aranha, Frenz assume Thor ao lado de DeFalco a partir da edição # 386. Eles permaneceram no título pelos cinco anos seguintes, saindo em The Mighty Thor # 459. A dupla produziu uma série de histórias importantes para o personagem, principalmente a criação de Eric Masterson, um arquiteto que se tornou amigo de Thor e depois ficou ligado ao Deus do Trovão, substituindo Don Blake como a identidade secreta do herói.
Eric ficou no lugar de Thor após seu banimento, ao ser acusado de assassinar seu irmão Loki. Ele então assumiu o manto do Deus do Trovão na Terra até o original retornar, depois de um ano.
Nos Estados Unidos, Eric acabaria se tornando o herói Thunderstrike, traduzido no Brasil como Trovejante. Foi o famoso Thor de jaqueta, que chegou a aparecer no filme Thor – Amor e Trovão.
O Trovejante ganhou uma série por DeFalco e Frenz após deixarem o título de Thor. Mas este material nunca foi publicado no Brasil.
No Brasil, grande parte da fase DeFalco e Frenz à frente de Thor foi publicada na revista Superaventuras Marvel, da Abril.