Chester Brown é hoje o principal artista dos quadrinhos canadenses. Suas HQs autobiográficas têm definido muito do que se entende por quadrinho alternativo contemporâneo e influenciado artistas de todo o mundo. O livro A Playboy (184 páginas, R$ 21,00), que está sendo lançado pela Conrad Editora, em abril, é um dos seus trabalhos mais expressivos.

Com um humor melancólico e, ao mesmo tempo, brutal em sua franqueza, Chester Brown retrata a história de sua adolescência e seu "romance" secreto com a revista Playboy. Uma história de amor, culpa e ódio por uma revista, vivida desde a sua adolescência, quando se masturbava (sim, aquela mancha branca na mão que aparece na capa É EXATAMENTE o que você está pensando!) freneticamente vendo as beldades expostas nas páginas, até 1990, data do lançamento do primeiro volume da série A Playboy.

O contraponto da história é justamente a reação do então garoto Chester, que comprava a revista escondido de todos, por vergonha e medo de ser "descoberto". Afinal, o que pensariam a seu respeito se descobrissem que ele era leitor "desse tipo de publicação"?

Chester Brown escancara de maneira até cruel a sua intimidade, mostrando até como ele se masturbava (o cara era pra lá de criativo, como você pode notar nas imagens) e deixando claro o seu preconceito racial pelos negros.

A narrativa de Chester Brown é um capítulo à parte. Para dar um tom de fantasia à obra, ele utiliza uma reprodução de si mesmo, que parece uma mistura de anjo e diabo, por causa de suas asas, similares às de um morcego. É ele quem comanda a "viagem no tempo" na vida do autor, até os dias em que adquiriu sua primeira Playboy.

Além disso, Brown rompe com o convencionalismo no visual das páginas, que possuem, no máximo, 3 quadrinhos, sempre envolvidos por um fundo preto. Graças a essa estratégia e ao seu desenho enganosamente ingênuo, o autor consegue algo muito difícil de se conseguir nos quadrinhos: retratar o silêncio.

Sobre o autor - Chester Brown nasceu em 1960, em Montreal, no Canadá. Ele fez sua estréia em 1972, com uma tira publicada no jornal The St. Lawrence Sun. No entanto, sua entrada no "mercado editorial" aconteceu, mesmo, em 1983, quando vendia gibis da série Yummy Far, feitos em xerox, numa esquina de Toronto, por 25 centavos de dólar. Em 1986, essa mesma série começou a ser publicada em forma de revista, tornando-se uma das mais duradouras HQs independentes: foi até o número 32, em 1994.

Como quadrinhista, Brown publicou quatro livros: Ed The Happy Clown(1989), A Playboy (1992), I Never Liked You (1994) e And The Little Man (1998). Ele já ganhou dois Harvey Awards, como Melhor Cartunista e Melhor Graphic Álbum. Atualmente, está produzindo uma biografia do anarquista Louis Riel.