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Dez marcantes momentos da indústria dos quadrinhos nos anos 1990

23 abril 2015


Para o bem ou para o mal, alguns fatos, dentro e fora dos gibis, contribuíram para a década de 1990 ficar marcada para sempre na mente dos fãs de quadrinhos.

 

A chamada "década perdida dos quadrinhos de super-heróis" é sempre lembrada para ninguém esquecer que ela tem que ser esquecida. Confuso? Pois é típico do que aconteceu nesses anos em que os gibis dos supertipos da Marvel e da DC, via de regra, caíram consideravelmente de qualidade, marcados por roteiros estapafúrdios e personagens com formas anatomicamente improváveis. Nesse período, as duas editoras também viram surgir muitas concorrentes com produtos de gosto duvidoso.

Mas como nem tudo se resumia às HQs de super-heróis nos anos 1990 e até o que foi ruim nessa área não consegue sair da cabeça de quem viveu aqueles tempos, vale a pena recordar - ou conhecer - alguns desses fatos que marcaram época.

• X-Men # 1 lançou a moda das capas alternativas, em 1991. O primeiro número da nova série dos Filhos do Átomo, por Chris Claremont e Jim Lee, inaugurou a onda das capas variantes para uma mesma edição. O gibi vendeu oito milhões de cópias e a ideia se popularizou. Até hoje, de acordo com o Guinness Book - o Livro dos Recordes -, essa edição continua sendo a revista em quadrinhos com a maior vendagem da história da nona arte, em quantidade de exemplares e valores arrecadados.

X-Men # 1, capa de Jim Lee

X-Men # 1, capa de Jim Lee

• Surge a Image Comics: Em 1992, sete dos artistas mais badalados da época, sob a batuta de Todd McFarlane, resolveram criar uma editora para concorrer com a Marvel e a DC. O mercado foi invadido por novas HQs de super-heróis e a Image foi responsável pela deflagração de um estilo de roteiros e desenhos de qualidade duvidosa que se espalhou por toda a década, contaminando até a concorrência. Por obra do sempre polêmico Rob Liefeld, muitas das primeiras criações da nova editora foram constrangedoras cópias descaradas das concorrentes.

Youngblood, criação de Rob Liefeld pela Image Comics

Youngblood, criação de Rob Liefeld para a Image Comics

• A morte do Superman: O evento gerou mídia espontânea nos quatro cantos do mundo e, independentemente do que se possa dizer sobre a qualidade editorial, é um dos mais memoráveis na história dos quadrinhos.

No Brasil, os leitores foram atingidos em cheio pelo spoiller da notícia divulgada em revistas informativas e telejornais - o Jornal Nacional, da TV Globo, dedicou a última notícia de uma de suas edições ao maior acontecimento do mundo dos quadrinhos até então, fazendo chamadas antes do intervalo de cada bloco.

A morte do Homem de Aço aconteceu em novembro de 1992, em Superman # 75 (a data de capa indica janeiro do ano seguinte), mas somente em novembro de 1993 as histórias dessa tragédia épica chegaram ao Brasil, num kit especial da Editora Abril, que continha o gibi com o arco completo - em capa cartonada e detalhes em alto relevo e pintura metálica -, uma reprodução (em inglês) da edição original em que o herói morria, um jornalzinho com a cobertura completa dos eventos e um pôster retratando o funeral.

A Morte do Superman

A morte do Superman

A Saga do Tio PatinhasPublicada originalmente pela editora dinamarquesa Egmont como uma minissérie em 12 capí­tulos, em 1992, The Life and Times of Scrooge McDuck (nome original) angariou prêmios em diversos países - incluindo o Brasil -, ganhou várias republicações em álbuns de luxo e elevou à categoria de estrela - e à imortalidade no panteão dos mestres Disney - o quadrinhista Keno Don Rosa, escritor e desenhista da série. Mais do que isso, a importância dessa obra para a turma de Patópolis é comparada ao que Carl Barks realizou com esses personagens. Não por acaso, a série foi supervisionada pelo Homem dos Patos e desenvolvida com base nas HQs que ele escreveu e desenhou para os patos entre os anos 1940 e 1960.

Traçar cronologicamente a vida de um personagem Disney, a partir de seu nascimento (não no sentido editorial), conferindo-lhe humanidade, envolvendo-o em dramas pessoais e familiares, situando-o em contextos históricos - com direito a contracenar com personagens reais - e citando visual e textualmente passagens de HQs produzidas por Carl Barks já foi algo bastante inusitado. Somando isso à qualidade da narrativa e a muito humor, tem-se o porquê de tanto sucesso.

Lançada tardiamente no Brasil pela Editora Abril em 2003, dividida entre os dois volumes de 40 Anos da Revista Tio Patinhas, a Saga do Tio Patinhas voltou às bancas do País em 2007 e em 2015, em edições luxuosas sem a menção de Don Rosa nas capas ou no conteúdo interno - como consequência do entrevero que envolveu o quadrinhista e a Abril, tornado público pelo Universo HQ quando o artista entrou em contato com o site e expôs o assunto.

A Saga do Tio Patinhas

A Saga do Tio Patinhas

A Saga do CloneTalvez a mais controversa saga dos quadrinhos de super-heróis não apenas na década de 1990, mas em todos os tempos. A mais xingada e comentada, também. Mas não há dúvidas de que ninguém consegue esquecer, mesmo porque ainda hoje rende um bom papo nerd.

Foram mais de dois anos (setembro de 1994 a novembro de 1996) de dúvidas, incertezas e falsos alarmes sobre quem era o verdadeiro Peter Parker; uma Gwen Stacy clonada ou rediviva; um clone assumindo o uniforme (remodelado) do Homem-Aranha; e mais uma porção de reviravoltas e revelações mirabolantes e estapafúrdias. Quando tudo acabou, a própria Marvel chegou a lançar uma edição especial cômica chamada 101 maneiras de terminar a Saga do Clone. No Brasil, a Editora Abril publicou toda a bagunça em pouco mais de um ano, no período de março de 1997 a dezembro de 1998.

A Saga do Clone

A Saga do Clone

• A ascensão do selo Vertigo: A criação da linha de HQs adultas da DC Comics foi um alento para uma fase em que todos os gibis da editora pareciam mostrar mais do mesmo.

Na década de 1990, títulos como Hellblazer e Sandman deram uma nova dimensão aos quadrinhos. E a série Vertigo, publicada no Brasil pela Editora Abril, a partir de março de 1995, fez história e deixou saudades, apesar de apenas 12 edições lançadas.

Vertigo

• A arte realista de Alex Ross: Quem disse que a década de 1990 também não produziu quadrinhos de super-heróis de alta qualidade, tanto nos roteiros quanto nos desenhos? E duas dessas grandes obras contaram com a arte de Alex Ross, que estava começando sua carreira de mestre da pintura realista.

O primeiro trabalho de Ross com quadrinhos de super-heróis foi realizado em 1994: a minissérie Marvels, escrita por Kurt Busiek, em que pessoas normais eram os protagonistas que presenciavam o surgimentos dos superfantasiados do Universo Marvel, no período de tempo compreendido entre 1939 e 1974. Logo depois, em 1996, Ross ilustrou outra fantástica minissérie: Reino do Amanhã, com roteiro de Mark Waid, que se passava num futuro em que os tradicionais heróis da DC Comics estavam mais velhos, aposentados e ultrapassados por novos superseres violentos e irresponsáveis, o que causou uma guerra de gerações de proporções épicas.

Ambas as séries ganharam prêmios, aplausos da crítica e admiração dos leitores, alçando Alex Ross ao panteão dos maiores desenhistas da história dos quadrinhos. Quando foi publicada no Brasil, em 1995, Marvels ganhou um acabamento de luxo para lá de especial: cada edição vinha com uma sobrecapa em plástico de alta gramatura, com o logotipo da série impresso. As duas séries foram publicadas por aqui pela Abril Reino do Amanhã chegou em 1997.

O Reino do Amanhã

O Reino do Amanhã

• O fim das tiras de Calvin e Haroldo: Foram dez anos de publicações em mais de dois mil jornais espalhados pelo mundo, além de coletâneas especiais lançadas em vários países. Mas, no dia 31 de dezembro de 1995, foi publicada a última tira inédita da série Calvin & Haroldo, do cartunista norte-americano Bill Watterson, que resolveu interrompê-la alegando mudança de interesses e necessidade de trabalhar em um ritmo menos intenso.

Humor inteligente - basta saber que Hobbes, nome original de Haroldo, foi inspirado no filósofo inglês Thomas Hobbes -, verdadeiramente engraçado e convidativo à reflexão eram as características principais da série, que ainda contava com uma bela arte, composta por desenhos detalhados e expressivos.

A influência dos personagens pode ser vista em muitas outras criações dos quadrinhos que surgiram durante e depois da publicação de suas 3160 tiras, inclusive no Brasil (como a série Cabeça Oca, do goiano Christie Queiroz).

Calvin e Haroldo

Calvin e Haroldo

Marvel versus DC: Um embate sem precedentes e que foi aguardado por várias gerações de leitores. Finalmente, em 1996, se saberia quem eram os super-heróis mais fortes entre as duas editoras. E quem decidiu o resultado das lutas foram os fãs, por meio de votação - só que um acordo de comadres entre as publicadoras acabou não mostrando os vencedores (embora tenha dado Marvel na cabeça).

A série fez tanto sucesso que rendeu mais duas continuações e um selo chamado Amálgama, que mesclava alguns heróis Marvel e DC e os transformava em um único e esquisito personagem. Ainda surgiu a ideia, não realizada, de fazer o personagem Acesso - responsável pela abertura do portal entre os dois universos - continuar aparecendo nos gibis regulares das duas editoras e ser de propriedade comum a ambas. Os confrontos foram publicados no Brasil a partir de março de 1997, pela Editora Abril.

Marvel versus DC

Marvel versus DC

• A falência da Marvel Comics: Uma dívida bancária de mais de 500 milhões de dólares, a queda nas vendas das revistas em quadrinhos e o ano anterior fechado no vermelho decretaram o processo de falência da Marvel, anunciado em dezembro de 1996. O então proprietário da editora, Ronald Perelman, tentou montar um império multimídia, comprando várias empresas - incluindo a Malibu Comics - e o resultado foi catastrófico.

Em 1998, Isaac Perlmutter e Avi Arad, donos da Toy Biz - subsidiária da Marvel fundida com esta com a concordância dos bancos credores como forma de credibilidade e garantia de recuperação da empresa -  assumiram o controle da Marvel Enterprises e conseguiram recapitalizá-la, auferindo lucro já no ano seguinte.

Marvel Comics

Marcus Ramone não tem memória seletiva dos anos 1990 e lembra do que foi bom e ruim nos quadrinhos. E o pior: sente saudade de tudo!

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