Feliz (?) Ano Novo!
Ano novo, vida nova. Será?
Pelo menos quando o assunto é quadrinhos, nem sempre a frase acima é verdadeira. Mesmo com um panorama mais estabilizado do que o do início de 2002 (quando a Panini Comics assumiu as publicações da Marvel e a Editora Abril dava sua última cartada com a linha da DC Comics), os leitores sempre têm a expectativa de mudanças e, se for possível, para melhor.
Depois de tudo o que ocorreu ano passado, o que de bom poderia acontecer agora? Quais as novidades e decisões que ajudariam o mercado a crescer e saciar a vontade dos fãs?
Bom, tudo o que acontecerá realmente só saberemos em dezembro, mas que tal especular um pouco e, pelo menos, desejar que o ano transcorra com boas novas? Afinal, o País está entrando numa época de otimismo e renovação, ainda que o cenário mundial esteja provocando calafrios.
Cinema
O cinema finalmente descobriu o filão das adaptações de quadrinhos. Com filmes aclamados pela crítica e com sucesso de público, os estúdios de Hollywood estão de olho nas HQs para lançar o próximo arrasa-quarteirão de bilheterias. E não só com super-heróis.
Produções como Ghost World, Do Inferno e Estrada para a Perdição já provaram que os quadrinhos oferecem uma vasta linha de opções, enquanto X-Men, Homem-Aranha e Demolidor estão aí para arrecadarem milhões de dólares.
O ano de 2003 será o da afirmação para esse mercado, e a chance das editoras finalmente saberem como tirar proveito da situação. Hulk e X-Men 2 estão prestes a estrear, enquanto a Warner começa a desenvolver projetos com heróis da DC Comics, como Superman e Batman. Aliás, tomara que a Warner se reencontre e prove que também sabe fazer adaptações dos personagens para a telona.
Não seria ótimo que esses sucessos refletissem em vendas para as revistas e, conseqüentemente, num crescimento do mercado? A esperança é que as editoras não "aproveitem" o momento da pior maneira possível, lançando 30 revistas por mês de cada personagem, sendo que 80% delas são superficiais e inúteis, servindo apenas para abarrotar os pontos de vendas e a paciência do leitor.
Rob Liefeld
Ele tenta, mas não consegue. Depois de ser expulso da Image Comics e ficar alguns anos afastado do mercado, Rob Liefeld está voltando para desenhar uma edição comemorativa dos 10 anos da criação do grupo Youngblood, que terá argumentos de Mark Millar.
Pena que não aprendeu nada durante esse período. Além de seu traço continuar com os mesmos velhos problemas (veja imagem ao lado), seu cronograma continua impecável: os constantes atrasos para terminar de ilustrar a revista fizeram o lançamento ser adiado por tempo indeterminado. Para o bem do mercado e para não influenciar (negativamente) ninguém, seria bom ele continuar longe!
Neil Gaiman versus Todd McFarlane
McFarlane foi um dos criadores da Image Comics, com a idéia principal de que os criadores deveriam ter liberdade para trabalhar e receberem créditos por suas criações. Mas, na primeira oportunidade, fez com Neil Gaiman aquilo que tanto parecia lutar contra. A justiça acabou dando para Gaiman os direitos sobre os personagens que criou para a revista Spawn, mas ainda falta Miracleman.
Este ano poderia marcar a vitória definitiva de Gaiman, com o material de Miracleman podendo ser finalmente republicado, além do escritor lançar o final da saga, até hoje inédito.
Preços e aumento do dólar
Você pode até perguntar "Ei, o que o dólar tem a ver com quadrinhos?".
E a resposta seria: "Tudo"!
Claro que isso não depende dos leitores ou das editoras, e sim de um governo forte e sustentável para equilibrar a economia do País, mas acaba tendo grande influência no mercado.
A instabilidade da moeda brasileira e o aumento do dólar atingem algo vital para a produção de quadrinhos: o papel, provocando conseqüente aumento das publicações. Isso sem falar nos royalties pagos pelas editoras.
E não só nos quadrinhos. Todo o comércio sofre, provocando aumentos e inflação. Queira ou não, o Brasil ainda é um país de terceiro mundo, com distribuição de renda desigual e graves problemas sociais. HQs deveriam ser sempre produtos de consumo para massas, e não o nicho no qual está se transformando.
O preço não é o único problema das baixas vendas, mas, sem dúvida, contribui para essa situação. E, sejamos sinceros, os valores que são cobrados atualmente já estão bem apertados, não?
Quem sabe novas iniciativas, como a linha econômica da Panini? Ou então uma parada na busca incessante pela qualidade gráfica cada vez maior nas publicações, chegando a superar os materiais originais? Aí entra também a mentalidade do leitor.
Quadrinhos Nacionais
Há anos vivendo na "clandestinidade", parece cada vez mais difícil ver um mercado sólido de quadrinhos nacionais. Super-heróis, mangás e fumetti estão chegando aos montes, mas produções tupiniquins continuam sendo poucas e muito segmentados.
Com exceção da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, e as honrosas exceções Holy Avenger e Combo Rangers, parece que nada mais consegue sobreviver. Fanzines existem aos montes. Talentos também estão surgindo. Mas onde publicar de maneira que se crie um mercado de verdade?
Na verdade, trata-se de uma faca de dois gumes. Se materiais famosos, como os de super-heróis, vendem pouco, imagine, então, obras desconhecidas. Mas é preciso que se inicie de alguma maneira, para que o mercado se desenvolva. Quem sabe iniciativas como as da Devir e Opera Graphica não se tornem mais freqüentes em 2003, e marquem o começo de algo novo?
Mangás
Com a ajuda dos animês (desenhos animados japoneses), os mangás conseguem alcançar boas vendas no Brasil, e são um fenômeno crescente em vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos. Mas há espaço para crescer ainda mais.
Os mangás acabaram assumindo o papel de renovação de leitores, algo que os super-heróis já deixaram de fazer há algum tempo. Tendo materiais que alcançam crianças, mulheres e adultos, esses títulos vêm atraindo a atenção de leitores.
Pena que ainda exista um preconceito tolo de muitos leitores com o mangá, assim como muitos fãs dos quadrinhos japoneses torcem o nariz para outros materiais. São duas formas de arte que se completam, e que possuem boas e más histórias.
Marvel e DC Comics
O ano começou promissor, com a DC Comics promovendo uma reestruturação editorial. Parece que agora vai correr atrás do tempo perdido, ficando aberta a novas idéias e acirrando a disputa com sua "rival", a Marvel.
Concorrência ainda é uma das melhores coisas que pode haver para estimular o mercado e promover novidades. Quem sai ganhando com isso é o leitor, inclusive o brasileiro, já que os projetos que saírem por lá acabarão chegando também por aqui.
O que acontecerá ainda é um mistério, mas a torcida é para que, ocorra o que ocorrer, provoque um novo crescimento do mercado. E que venha 2003!
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Na última coluna, deixei um pedido para que os leitores entrassem em contato, para deixar sua opinião sobre os fatos marcantes de 2002. Obrigado a todos que escreveram! Aqui estão três e-mails comentando fatos que não estiveram no artigo.
Samir, legal o seu "review of the year". No entanto, acho que faltou uma nova crítica sobre preço. Afinal, aquela outra já tem um ano e pouco, e algumas críticas mais claras:
1) A Pandora Books, excelente editora, que não consegue manter seus títulos mensais. Então, seria melhor publicá-los somente no formato minissérie.
2) A Panini, que já publica a Marvel há um ano, e ainda atrasa e distribui mal suas revistas, especialmente agora, com as da DC Comics.
3) A Mythos Editora e também a Pandora, que podem e devem sempre indicar a edição (revista, número, mês e ano) original de suas histórias, mesmo os fumetti.
4) A Panini, que tirou do mercado a DC Millennium, que publicaria as boas séries The Power of Shazam, The Legion of Super-Heroes e The Legionaries, e não pretende publicá-las.
De qualquer modo, seu artigo estava excelente, mas gostaria de ressaltar estes pontos.
Jamerson Albuquerque Tiossi
Jamerson, aí estão suas opiniões publicadas. Quanto a uma nova coluna sobre preços, realmente a antiga já tem quase dois anos. Para você ver como a situação pouco ou nada mudou nesse período.
Você não é a primeira pessoa que pede para o Universo HQ abordar esse tema mais freqüentemente, mostrando que é um assunto que interessa aos leitores e continua sendo um incômodo na hora de comprar suas revistas!
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Em primeiro lugar, quero elogiar a excelente retrospectiva de 2002, que conseguiu captar com precisão as inúmeras mudanças e reviravoltas que atingiram o mercado brasileiro de HQs.
Senti falta apenas de não ter sido feita nenhuma referência ao fechamento da Meribérica no Brasil, fato lastimável, uma vez que os leitores brasileiros terão dificuldades para conseguirem ter acesso às tão famosas Bandas Desenhadas européias. Personagens como Bernard Prince, Blueberry, Tanguy e Laverdure certamente irão deixar muitas saudades.
Um abraço
Sergio Shuravel Filho
Sergio, você está certíssimo! A saída da Meribérica do Brasil é um fato muito importante e triste, que aconteceu ano passado, e acabou ficando de fora. Seu e-mail veio corrigir esse erro! Aproveitando o espírito desta coluna, quem sabe os quadrinhos europeus não encontrem um novo caminho para chegar novamente aos leitores brazucas?
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Olá, Samir.
Acompanho sempre o Universo HQ, vi sua coluna de retrospectiva de 2002 e não pude deixar de citar que faltou o Digital Artist Online, que re-estreou no ano passado (veja em "Sobre o Site" mais detalhes) e, inclusive, completou no dia 21 de janeiro, 9 meses de nova fase.
O Digital Artist Online já saiu no Universo HQ e trata-se de um site sem fins lucrativos que incentiva os artistas nacionais, publicando e divulgando portfólios de profissionais e amadores gratuitamente. Temos grandes desenhistas, como Mike Deodato, Rod Pereira, Emir Ribeira, Daniel HDR, entre dezenas de outros nomes famosos, juntamente com desconhecidos de grande talento, que buscam seu espaço no mercado.
Desde já agradeço,
Alexandre Soares
O Digital Artist Online já foi divulgado no UHQ e continuará sendo sempre que tiver novidades, assim como todos os projetos relacionados a quadrinhos e cinema!
Acontece que procurei manter a coluna voltada às editoras e publicações nacionais, deixando de lado o que rolou na internet e até mesmo no exterior, com exceção de alguns comentários sobre as brigas judiciais que aconteceram nos Estados Unidos.
Mas aí está registrado o retorno do Digital Artist Online, Alexandre!
Samir Naliato, no final de 2002, pulou sete ondas, comeu romã e lentilhas e fez mais uma pancada de simpatias. Quem sabe assim seus desejos pro mercado de quadrinhos se tornem realidade...