Festival de Amadora: uma festa dos quadrinhos mundiais
Com o tema 17 Graus Periféricos e o Resto do Mundo, a 17ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em Portugal, um dos cinco maiores eventos de quadrinhos da Europa, reuniu autores de vários países e apresentou diversas exposições, mas não agradou a todos
Por Sidney Gusman
(19/12/06)
Os portugueses têm com o 17 uma relação quase mística. O filósofo das
artes Manuel Gandra, por exemplo, tem uma tese segundo a qual as magias
ligadas ao número remontam a D. Afonso Henriques (1109-1185), o primeiro
rei de Portugal.
Apostando nisso, o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem
escolheu como tema para a 17ª edição do Festival Internacional de Banda
Desenhada da Amadora, considerado hoje um dos cinco maiores eventos
de quadrinhos da Europa, 17 Graus Periféricos e o Resto do Mundo.
E foi o foco que se viu de 20 de outubro a 5 de novembro, no Centro
Cultural Luís de Camões: quadrinhos dos mais distantes pontos do planeta.
Havia exposições (detalhes abaixo) muito interessantes de trabalhos da
América Latina, África e Leste Europeu, sem contar as de artistas ou destinadas
a determinada série. Eram cerca de 200 autores, de 40 países.
O
principal destaque entre os convidados foi o brasileiro Mauricio de Sousa,
que atraiu as maiores filas de autógrafos durante o final de semana (28
e 29 de outubro) em que esteve em Amadora.
Os outros autores presentes, que participaram de sessões de autógrafos,
palestras e debates, eram poucos conhecidos do grande público, apesar
da qualidade de seus trabalhos. Nomes como os franceses Frank Giroud,
Jean-Claude Denis (do álbum Belém, da Coleção Cidades Ilustradas,
da Casa 21), Lucien Rollin, Frédéric Boilet (de O
Espinafre de Yukiko e Garotas
de Tóquio, ambos da Conrad), Étienne Davoudeau (ganhador
de três prêmios em Angoulême este ano, com Les Mauvaises Gens),
Aurelia Aurita (de origem chinesa) e Eric Lambé; o italiano Alessandro
Barbucci (um dos criadores, ao lado de sua esposa Barbara Canepa, do sucesso
Witch,
da Abril); o sérbio Aleksandar Zograf; os espanhóis Ángel de La
Calle (de Modotti
- Uma Mulher do Século XX, Conrad), Lorenzo Gomez e David
Rubín; o húngaro Balazs Grof, o esloveno TBC (pseudônimo de Tomaz Lavric);
os belgas JP Stassen e Sérgio Salma; e outros. O pernambucano Lailson
Cavalcanti também esteve lá, divulgando sua obra Lusíadas
2500.
E foi justamente nos convidados que "a coisa pegou". O foco da organização
era mostrar a diversidade das histórias em quadrinhos pelo mundo. E conseguiu.
Contudo, sites portugueses especializados em quadrinhos e muitos fãs se
queixaram especialmente da falta de autores do mainstream, fossem
eles do mercado norte-americano ou do japonês. Ou seja, exceto por Mauricio
de Sousa, bastante admirado por lá, faltaram nomes capazes de levar ao
evento centenas, talvez milhares de fãs.
Exposições
para todos os gostos
Se para os fãs mais radicais as exposições não chamavam tanto a atenção,
para quem estuda e pesquisa quadrinhos ou mesmo para os curiosos de plantão
eram um deleite. Em espaços amplos, bem iluminados, com cenografias interessantes
e uma disposição que facilitava a visualização, havia opções para todos
os gostos.
A mostra da série O Decálogo, da Asa, que conta várias histórias,
em diferentes épocas, ligadas ao Nahik, um livro sagrado - imaginário
- que traria os dez mandamentos islâmicos escritos pelo profeta Maomé,
era belíssima. Além de pranchas originais dos dez tomos da série escrita
por Frank Giroud, havia a maquete de um cenário marcante da aventura.
Cada edição foi desenhada por um artista: Joseph Behé, Giulio de Vita,
JF Charles, TBC, Bruno Rocco, Alain Mournier, Paul Gillon, Lucien Rollin,
Michel Faure e Franz Drappier.
Filipe Abranches, escolhido no festival do ano passado como o melhor desenhista
português, assinou o cartaz do evento e ganhou uma mostra exclusiva, na
qual mostrou um trabalho impactante. Seus personagens deformados, temas
de HQs fortes, sem dúvida brilham mais quando suas páginas são em preto-e-branco.
Aproveitando o gancho do tema do evento, havia a exposição 17 Autores
Portugueses Contemporâneos, com Alain Corbel, André Lemos, António
Jorge Gonçalves, Daniel Maia, Diniz Conefrey, Filipe Abranches, Isabel
Carvalho, João Fazenda, José Carlos Fernandes, Luís Louro, Miguel Rocha,
Nuno Saraiva, Pedro Nora, Ricardo Ferrand, Richard Câmara, Rui Lacas e
Susa Monteiro. Nas paredes, claro, estavam originais dos autores, mas
a grande sacada foi cenográfica. Havia 17 grandes baús onde cada um definiu
com um objeto três temas: Portugal, Viagem e Esboço.
Aí, foram diferentes e criativas viagens.
Num setor mais "escondido", somente maiores de 18 anos puderam conferir
as artes da mostra erótica BD Voyeur. Entre os sensuais traços
de autores portugueses como Álvaro, Machado, Horácio e Maria João Careto,
havia até HQs com cenas de zoofilia. Mas não eram poucos os que riam em
frente às tiras de Pedro Alves, sempre sacaneando os super-heróis. Numa
delas, em pleno ato sexual, Bruce Banner cede às provocações da parceira
e vira o Hulk. Imagine o resultado.
Os autores que ganharam mostras individuais foram Barbara Canepa e Alessandro
Barbucci, com o deslumbrante Sky Doll, lançado em Portugal pela
Vitamina BD - havia até esboços dos roteiros; David Rubin, com
Os Deuses Caídos, obra de traço expressivo e enquadramentos e narrativa
de primeira, que saiu na Espanha com prefácio de Miguelanxo
Prado; Ángel de La Calle, com Modotti: uma mulher do século XX;
Lorenzo Gómez, com O Diário Sentimental de Julian P; e Sérgio Salma,
com pranchas de Catarina, nome com que a irrequieta menina Nathalie,
que surgiu em 1989, na Tintin Reporter, foi batizada em Portugal.
No Centro Cultural Luís de Camões, o local principal dos eventos,
havia ainda outras exposições. Os Lusíadas mostrava originais de
duas versões da obra máxima de Luis de Camões: a do mestre português do
traço José Ruy e a do brasileiro Lailson Cavalcanti, com sua versão futurista,
recentemente lançada pela Companhia
Editora Nacional.
Made in Portugal apresentava páginas de três portugueses que estão
desenhando para o mercado norte-americano: Ana Freitas, Miguel Montenegro
e Zeu (Eliseu Gouveia).
Novidades Editoriais - Autores Portugueses era focada nas obras
de Sergei, Mário Freitas e Carlos Pedro e Fernando Campos, Filipe Teixeira
e Carlos Geraldes.
Nouvelle Manga na Amadora exibia os trabalhos de Aurelia Aurita,
Emmanuel Guibert, Étienne Davoudeau, Frédéric Boilet, Hideji Oda, Moyoko
Anno, Nicolas de Crécy, Kazuichi Hanawa, Daisuke Igarashi, Little Fish,
Taiyo Matsumoto, David Prudhomme, Joann Sfar, Kan Takahama, Jiro Taniguchi
e Fabrice Neaud.
Olhar
o Outro, o Olhar do Outro mostrava obras de autores de vários países,
como Alain Corbel (Portugal/França), Eric Lambé (Bélgica), Guy Delisle
(Canadá), JP Stassen (Bélgica), Marjane Satrapi (Irã), Clément Obrerie,
Marguerite Abouet e Yvan Alagbé (França).
Mas a grande diversidade ficou por conta das exposições ... E o resto
do mundo. A organização de Amadora reuniu, provavelmente, a maior
e mais significativa mostra de quadrinhos da América Latina em todos os
tempos. Havia trabalhos do Brasil, Argentina, Peru, Bolívia, México, Costa
Rica, Cuba, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Venezuela e Chile, com uma diversidade
que ia do super-herói ao terror; do humor à aventura. Era especialmente
interessante conhecer características de mercados tão próximos fisicamente
ao nosso, porém tão distintos.
Pena que a mostra brasileira era tão fraca. Meros 15 artistas representavam
nossa escola: Renato Guedes, Mike Deodato, Júlia Bax, Gabriel Bá e Fábio
Moon, Mauricio de Sousa, Jayme Cortez, Luiz Gê, Rodolfo Zalla, Paulo Caruso,
Ziraldo, Eugênio Colonnese, Henfil, Primaggio Mantovi e Nico Rosso. Todos
grandes nomes, sem dúvida, mas havia espaço para vários outros - nossa
exposição não conseguiu sequer preencher uma baia inteira! O espaço teve
que ser preenchido por trabalhos mexicanos.
Faltaram artistas que mostrassem a diversidade do traço nacional. Gente
como Lourenço Mutarelli, que já teve até exposição individual em Amadora,
Flavio Colin, Julio Shimamoto, Erica Awano, Ivan Reis, José Aguiar, Marcelo
Quintanilha, Lélis, Manoel Magalhães, Miguel, Gilmar, Spacca, Angeli,
Laerte, Glauco, Adão Iturrusgarai... A lista seria longa.
Além disso, foram exibidas revistas das editoras Press, Catania,
Ebal, Maciota, Minami Cunha e Abril; e exemplares
do Pasquim, Gibi Semanal, Sesinho, A Gazeta
e Suplemento Juvenil. Foi pouco.
E a disparidade na quantidade ficava ainda mais evidente frente à exposição
argentina, que ocupava duas baias, com originais de muita gente boa. Também
havia espaço para as publicações locais - lá estavam exemplares de Misterix,
Rico Tipo, Patoruzú, Tia Vicenta, Hora Cera Extra
e Frontera -, mas principalmente para quase 40 artistas.
Os destaques eram as páginas de Alberto Breccia, Alberto Salinas, Angel
Lito Fernandez, Arturo del Castillo, Domingo "Cacho" Mandrafina, Carlos
Gomez, Carlos Meglia, Enio Leguizamon, Enrique Breccia, Gustavo Trigo,
Horacio Altuna, Juan Zanotto, Jorge Moliterni, Quino, Enrique "Quique"
Alcatena e até Hugo Pratt, da fase em que o criador de Corto Maltese
trabalhou no mercado argentino.
Os quadrinhistas africanos que mais chamaram a atenção foram Francis Taptue
Chrisany (Camarões), com um traço voltado para o humor; Esale Bokungu
(Costa do Marfim), com nativos superpoderosos; Al'Mata (Congo), dono de
um desenho com forte influência européia; Redouane "Red One" Assari, com
um estilo de "linha clara"; e mais Conrad Botes (África do Sul), Adérito
Wetela (Moçambique), Ahmed Nouaiti (Marrocos) e Mohamed "Maz" Mazari.
Do Leste Europeu, uma escola que exporta novos talentos a cada temporada
para grandes centros europeus e até para os Estados Unidos, os destaquem
eram o iugoslavo Milan Pavlovic, os sérbios Aleksandar Zograf e Wostok,
o húngaro Grof Balász, o esloveno Tomaz Lavric, o TBC, que fez o quarto
tomo de O Decálogo, e o versátil polonês Krzysztof Gawronkiewicz,
bom em várias técnicas, com um traço que vai do detalhamento extremo ao
humor.
Realmente era preciso fôlego para ver todas as exposições. Ou, o ideal,
mais de um dia. Afinal, ainda havia as artes dos participantes dos concursos
de novos talentos e até papéis desenhados na hora por crianças que visitavam
o evento e "inspiradas" faziam seus rabiscos, que eram colados nas paredes.
Isso sem contar os outros pontos de Amadora que abrigavam mostras. A mais
impactante delas era O Mosquito, uma máquina de histórias, na sede
do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem. Não bastasse o
resgate das edições históricas - a publicação durou de 1936 a 1953 -,
os organizadores restauraram até as máquinas que as imprimiam. E o melhor
estava no chão, que reproduzia a capa de um número de O Mosquito.
Uma fantástica homenagem.
A exposição ficará aberta à visitação até o dia 1º de junho de 2007 e,
na saída, o visitante pode adquirir um lindo catálogo com a história da
publicação.
Editoras a postos
As principais editoras lusitanas estiveram presentes ao evento. E se isso
parece óbvio, vale lembrar que nas duas últimas edições do Festival
Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em 2003 e 2005, nenhuma
editora brasileira montou um estande ou fez alguma parceria com a organização.
Em Amadora, a Asa era a dona do maior espaço, assim como ocorre
no mercado. A editora destinou prateleiras exclusivas para a série O
Decálogo e para os trabalhos do excelente desenhista suíço Enrico
Marini (Rapaces, O Escorpião, Gipsy e A Estrela
do Deserto), com promoções do tipo "compre três álbuns e pague dois".
Cada um na média de 12 euros.
Além disso, havia muitas ofertas de livros a 2, 3 ou 5,50 euros. E tudo
em capa dura, papel muito bom e, o principal, com grandes HQs, como dois
álbuns coloridos de Ken Parker (Lily e o Caçador e Lar,
Doce Lar) ou obras de Milo Manara, Enki Bilal e Moebius.
As outras editoras ocupavam espaços menores, sem estandes. Os livros ficavam
dispostos em balcões e prateleiras - algumas só abriam nos finais de semana,
em virtude da queda de público de segunda a sexta-feira. Mas nem por isso
deixaram de apresentar novidades. A Devir lançou os encadernados
Sandman - Terra dos Sonhos, Homem-Aranha e Gata Negra - O mal
que os homens fazem; Demolidor Amarelo, Novos X-Men - Capítulo
8 - Planeta X e Tratado de Umbrografia, escrito por José Carlos
Fernandes e desenhado por Luís Henriques.
A novata BD Mania atacou de Wolverine - Saudade, uma história
do mutante canadense feita para o mercado europeu. A Polvo, que
lança materiais norte-americanos, tinha entre suas atrações os dois primeiros
volumes de Peanuts Completo, por 42 euros. Era lá que estava à
venda Salazar, agora na hora da sua morte, o grande vencedor do
concurso do 17º FIBDA (veja abaixo). A caprichosa Vitamina BD
também oferecia ótimas opções, como as séries Korrigans e Senda,
cujos primeiros volumes chegaram a ser vendidos no Brasil pela Comix
em 2003. A Loja Tintim tinha livros e produtos diversos da criação
máxima de Hergé. A Kingpin Comics estreou com duas revistas de
autores locais: C.A.O.S. - Livro Um e Super Pig. E ainda
tinha espaço para a venda do BD Jornal, de revistas antigas e de
action figures e badulaques variados.
Atualmente, o mercado português está quase todo voltado às livrarias,
um quadro que preocupa os leitores, pois, claro, as edições saem caprichadas
graficamente, mas a preços muito mais elevados do que os praticados nas
bancas.
Premiação
Uma das atividades paralelas do festival é a realização de um concurso
que premia os principais lançamentos do mercado português e novos talentos,
em diversas faixas etárias. Confira abaixo os vencedores.
Melhor Álbum Português
Salazar, agora na hora da sua morte, de João Paulo Cotrim (roteiro)
e Miguel Rocha (desenho), pela editora Parceria A.M.Pereira
Melhor Argumento de Autor Português
João Paulo Cotrim (Salazar, agora na hora da sua morte)
Melhor Desenho de Autor Português
Miguel Rocha (Salazar, agora na hora da sua morte)
Melhor Álbum Estrangeiro
Cidade de Vidro, de Paul Auster (texto) e Paul Karasik e David
Mazzucchelli (desenho), pela Edições Asa
Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
O amor é um inferno, de Matt Groening, pela Gradiva
Melhor Ilustração para Literatura Infantil
Alain Corbel, por A máquina infernal, da Caminho
Clássicos da 9ª Arte
História de O, de Guido Crepax, pela Marginália
Melhor Fanzine
O menino triste - Os livros, de J. Mascarenhas
Troféu de Honra da Cidade da Amadora
Mariana Lopes Viegas, a "Tia Nita"
A festa de premiação foi realizada num teatro e contou com a divertida
apresentação de um grupo de atores. O ponto alto foi o discurso da "Tia
Nita", que quando tinha 18 anos passou a dirigir o suplemento feminino
de O Mosquito, denominado A Formiga. Nele, ela "encarnava"
uma mulher mais velha para responder as cartas de jovens leitoras.
Em sua fala, a hoje idosa "Tia Nita" falou de forma emocionada do amor
que a movia em sua função, da dedicação que tinha aos quadrinhos e do
quanto se sentia recompensada. Muitos na platéia foram às lágrimas.
Um evento a ser conservado
Ao final do 17º Festival Internacional de Banda Desenhada de Amadora,
o saldo foi positivo. Têm razão, sim, os que reclamam de uma possível
"elitização" do evento (algo que também acontece no brasileiro FIQ).
Afinal, quadrinhos são, antes de tudo, uma arte popular. Então, nada melhor
do que levar - também - autores que atraiam muita gente. É preciso pensar
nisso. Seria uma forma de fazer com que os leitores do mainstream
conhecessem outras vertentes da arte seqüencial e vice-versa.
No entanto, há uma dose de exagero nos que só enxergam pontos ruins. Trata-se
de um grande evento, feito por pessoas sérias, que conseguiram colocá-lo
entre os cinco maiores do Velho Continente. A respeito das críticas sobre
a verba para o festival ser pública, isto é igual em qualquer parte do
planeta, mas se não for assim, fica difícil realizar ações semelhantes.
Ou seja, é preciso saber conviver com isso.
As provas do bom trabalho dos organizadores (que são, antes de tudo, pesquisadores
de quadrinhos, vale lembrar) são várias. No começo de outubro, Nelson
Dona, o presidente do festival, Helena Santos e Ana Cardoso publicaram,
pela Edições Afrontamento, o livro Práticas na Banda Desenhada
- Os Visitantes do 16º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora,
um estudo baseado nas respostas de quem compareceu ao evento em 2005.
Além disso, o festival de 2006 já começou com seu catálogo - graficamente
impecável - impresso. São 184 páginas com resumos das exposições, textos
de feras como o francês Claude Moliterni, artes e até HQs feitas especialmente
para o álbum. Para os europeus, isso pode até ser usual, já no Brasil...
Do ponto de vista da pesquisa, este ano Amadora também deu uma valiosa
contribuição. Foi possível para profissionais (desenhistas, roteiristas,
jornalistas e editores) de diversos países trocar informações a respeito
de cada mercado e conhecer trabalhos interessantes como, por exemplo,
as peruanas Pandemia e Drak (cuja capa lembra o estilo de
Dave McKean em Sandman), ambas com participação do promissor roteirista
Diego Rondón Almuelle; ou Machera, uma coletânea de autores venezuelanos.
Hoje, para o mundo, a relação de Amadora com os quadrinhos portugueses
(há até um álbum, de 1999, chamado Levem-me nesse sonho... Acordado,
de José Ruy, que conta a história da cidade) é comparável à que a italiana
Lucca tinha com os fumetti.
Quando o festival de Lucca era badaladíssimo, os prêmios Yellow Kid
eram os mais desejados do planeta. Com o tempo, essa "magia" foi enfraquecendo
e
hoje o evento é uma pálida lembrança do que foi no passado.
Eis, portanto, a importância de se ter um evento forte, representativo.
Quando feito em parceria e com o apoio dos principais "braços" do mercado
(as editoras), a tendência é um benefício para todos os envolvidos, inclusive
os leitores. Mas é um processo por vezes lento, trabalhoso. O francês
Angoulême é a prova disso, e vem crescendo ano a ano.
Amadora tem erros? Evidente! Como Angoulême, San Diego, Belo Horizonte,
Bruxelas, Milão e tantos outros também têm. Por isso, soam bastante exageradas
as críticas mais ácidas de que o evento "caminha para o fim". O importante
é que esses equívocos continuem a ser corrigidos a cada edição. É um processo
constante em busca de uma utópica perfeição.
Então, que Amadora termine mais uma edição de seu festival como tantas
histórias em quadrinhos (ou bandas desenhadas): com o tradicional "Continua..."
Sidney Gusman esteve pela primeira vez em Amadora e voltou com excesso
de bagagem e um rombo na conta bancária, em virtude das compras que realizou
em Portugal