FIQ 2018 apresenta uma cara nova e jovem do quadrinho nacional
Depois da incerteza de ser realizado ou não, evento se reinventou
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Mesmo depois de dúvidas, adiamentos e greves, aconteceu, de 30 de maio a 3 de junho, o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, o FIQ. E comprovou, mais uma vez, sua importância para o cenário nacional. Especialmente para os autores independentes.
Desde o seu cartaz, assinado por Cris Eiko, o FIQ 2018 apostou na relação emocional do público com os quadrinhos, ao mostrar uma explosão saindo da revista e o olhar admirado do leitor.
Iniciado em 1997, ainda como Bienal de Quadrinhos (que antes teve duas edições no Rio de Janeiro, em 1991 e 1993), o FIQ tem um clima de encontro entre quadrinhistas, editoras e leitores, dos mais diversos estilos. Dentre os visitantes, é fácil notar essa diversidade: tem espaço para fãs novos e veteranos, famílias e escolas, e a entrada é gratuita.
O grande destaque deste ano foi a renovação da área dos artistas, onde se viu diversos iniciantes. O crescimento da produção jovem trouxe um espírito empolgado e com vontade de investir cada vez mais nos quadrinhos. O revés disso, claro, é que havia muitas obras ainda irregulares ou de pouca qualidade, mas, num passeio mais atento pelas mesas, era possível reconhecer muitos talentos brotando aqui e ali.
Grande parte dessa juventude deve-se aos “filhos” do FIQ Jovem, curso gratuito de formação de quadrinhistas, que teve nova edição confirmada. Dentre eles, vale destacar Rafael Torres. “É incrível estar entre artistas que eu admiro. No último evento, eu nem imaginava que estaria aqui com o meu quadrinho”, conta o autor, que lançou o álbum Melina (leia aqui o review da edição).
A exemplo de todas as edições anteriores, o evento cada vez mais se reafirma como uma vitrine para os autores independentes. E a ausência de editoras como JBC, Panini, Quadrinhos na Cia., SESI-SP e Mythos, por exemplo, passa como algo comum pelo público. Mas ainda é de se chamar atenção a falta de interesse dessas empresas.
Felizmente, algumas editoras estiveram presentes, seja com estandes, casos da Mino (que era o mais agitado, e teve até campeonato de sinuca), Shockdom, Lote 42, Nemo e Draco ou de representantes que participaram da produtiva rodada de negócios, como Veneta, Balão, Zarabatana, Pipoca & Nanquim, Miguilim e Marsupial.
Abraçando a ideia de incentivar a nova geração, durante todos os dias do festival foram oferecidas oficinas focadas em criação de personagens e construção de narrativa, como a Chibi Mangá e Pintando Quadrinhos com Aquarela, por exemplo. Além disso, houve muitas palestras e debates com os convidados do evento.
No entanto, o festival não se ateve a olhar somente o futuro, e buscou homenagear personalidades do quadrinho nacional de diversas formas, como batizando espaços com nomes como Álvaro de Moya, Toninho Mendes e Douglas Quinta Reis, todos falecidos em 2017. Além disso, a grande homenageada deste ano foi a desenhista Érica Awano, de Holy Avenger e outros trabalhos que influenciaram diversos artistas.
Os convidados internacionais, como Zerocalcare (Kobane Calling), Mario Alberti (Nathan Never e O fio da navalha), Gauthier (Justin) e, principalmente, Dave McKean (Orquídea Negra, capas de Sandman e o lançamento Black Dog, da Darkside) geraram filas enormes para autógrafos e excelentes bate-papos. Contudo, segue sendo necessário um investimento maior na parte da tradução simultânea para o público.
Ainda assim, entre erros e acertos, o saldo foi extremamente positivo, para autores e editores. E o décimo Festival Internacional de Quadrinhos mostrou que, mesmo chegando atrasado (ele era realizado, tradicionalmente, no mês de novembro dos anos ímpares), sua mera existência sempre sinaliza bons e renovados ares para o quadrinho nacional. Mais do que o FIQ da resistência (o evento correu risco de ser cancelado pela prefeitura da capital mineira), foi o FIQ da renovação. E que siga dessa forma.
Gustavo Nogueira foi pela primeira vez ao FIQ, mas garante que estará em todas edições a partir de agora.
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