Historieta: muito mais que um fanzine
Início da década de 1970. A Ebal informava aos seus leitores,
por meio da seção Notícias em Quadrinhos, que os aficionados pelo
gênero, cada vez mais, participavam ativamente desse mercado.
Nos Estados Unidos, os fanzines, feitos por fãs para fãs, aumentavam o
espaço conquistado. No Brasil, Edson Rontani, em Piracicaba, lançava o
Boletim Ciência Ficção Alex Raymond, considerado o primeiro zine
nacional.
Abraçando
a idéia, o gaúcho Oscar Kern, grande apaixonado por quadrinhos, resolveu
"botar a mão na massa" e, em 1972, lançou oficialmente o primeiro número
do fanzine Historieta, que, antes disso, teve publicadas algumas
edições mimeografadas.
O título é muito mais que um zine - praticamente uma revista em quadrinhos,
das grandes, formato horizontal (21 x 33 cm), variando de 28 até 128 páginas
por edição.
Não foram poucos os talentos das HQs nacionais que participaram do Historieta.
Watson Portela (um dos mais assíduos colaboradores), Mozart Couto, Emir
Ribeiro, Renato Canini (com o Dr. Fraud e outros trabalhos) e muitos outros
passaram pelas páginas do título.
Kern
também participava ativamente da publicação, roteirizando algumas séries,
como o Homem Justo e Brigada das Selvas, com desenhos de
Ailton Elias.
De início, cada número do Historieta tinha tiragem de três mil
exemplares. Com o tempo, e acompanhando a tendência das HQs em bancas,
o volume diminuiu expressivamente, sendo que os últimos números tiveram
cerca de 100 exemplares publicados.
Não
só de HQs (e bota HQs nisso!) era feito o fanzine, que sempre trazia textos,
sobre a Era de Ouro dos quadrinhos no Brasil (sobre Suplemento Juvenil,
Gibi, Lobinho e outras revistas), entrevistas com criadores brasileiros,
matérias diversas, classificados, cartas etc.
Hoje, todas as edições encontram-se esgotadas. Mas Oscar Kern mantém as
matrizes e, caso apareça algum interessado, volta a publicar a revista,
ao preço de R$ 35,00 cada exemplar, dependendo do número de páginas.
O Historieta chegou até a ter uma edição lançada em bancas, numa
parceria com Franco de Rosa, na época, pela Press Editorial.
Em
2003, Kern lançou a ultima edição até o momento, de número # 19, outro
"calhamaço" de 128 páginas, com várias histórias em quadrinhos, textos
e uma curiosidade: O Fantasma de Red Flower, de 1940, HQ publicada
originalmente num pequeno álbum de figurinhas coloridas, distribuídas
pelo Café Jardim, criação de Jerônimo Monteiro.
O número # 20 está em andamento.
Essa não foi a única publicação "de fôlego" tocada por Oscar Kern, que
também criou o Confraria dos Dinossauros, com quase 30 números.
Com o cancelamento de uma revista chamada Biriba Semanal, os leitores
brasileiros ficaram sem poder acompanhar o final de diversas séries norte-americanas:
Steve Canyon, Johnny Hazard, Terry e os Piratas, Tarzan, Tim e Tom
e outros.
Foi então que veio a idéia e, junto com Valdir Damaso, lançou o Confraria
visando finalizar as tramas. Deu certo; e o fanzine teve continuidade.
Sobre essa trajetória de tantos anos com fanzines, Oscar afirmou ao Universo
HQ que "a maior satisfação foi ver o trabalho ser apreciado; e a maior
frustração foi ver que uma tiragem de apenas 100 exemplares leva um ano
para ser vendida e só assim possibilitar outra edição".
Fica a comprovação que, com a publicação do Historieta, trazendo
novos talentos e autores consagrados no mercado nacional, em meio ao resgate
regular da história dos quadrinhos no Brasil, Oscar Kern faz parte importante
da trajetória de nossa Nona Arte.
Em tempo: Kern chegou a trabalhar por mais de dois anos como roteirista
de quadrinhos Disney da Editora Abril.
As imagens que você confere aqui foram gentilmente cedidas pelo site
GibiHouse.