Louco: 45 anos de maluquices nos quadrinhos
Um dos mais queridos personagens da Turma da Mônica, ele foi inspirado em um artista da equipe de Mauricio de Sousa.
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Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco, não é um sujeito fácil de lidar. Que o diga o Cebolinha, desde 1973 fazendo dupla com aquele tresloucado em histórias surreais e bizarras que deixam o garoto com os nervos à flor da pele e continuam divertindo leitores de diversas gerações.
“O Louco tem muito das loucuras dos anos 1970 e foi idealizado pelo meu irmão Marcio Araújo (falecido em 2011), que na época era roteirista dos nossos estúdios. A figura foi baseada em um dos desenhistas, o Sidnei Salustre, que está conosco até hoje. Mas é só na aparência, pois o nosso desenhista é muito certinho da cabeça”, revelou Mauricio de Sousa ao Universo HQ.
O personagem fez sua estreia em Cebolinha # 1, da Editora Abril, na aventura Uma história muito louca (republicada em 2008 pela Panini, na Turma da Mônica Coleção Histórica – Volume 1). No início, ele era apenas um coadjuvante que vivia internado em um hospício e de lá costumava fugir, invariavelmente encontrando no caminho o Cebolinha – a quem, tempos depois, passou a chamar de Cenourinha, para incontida irritação do menino.
Foi com o passar dos anos que ele começou a protagonizar histórias divertidamente estapafúrdias, sem nenhuma amarra com a lógica, logo transformadas em clássicos da Turma da Mônica e que fizeram o personagem ganhar muitos fãs declarados.
“No início, ele era louco, mesmo. O cara que ‘viajava’, imaginava coisas. A ‘piração’ estava na cabeça dele. Hoje, cada roteirista tem a sua visão. Alguns optam pelo estilo da metalinguagem, como nas historinhas do Bidu. Algo como… de uma hora para outra chove elefantes e números jogam futebol. Mas é a visão de cada um. O Louco tradicional ainda existe. Ultimamente, têm sido feitas muitas histórias nesse estilo que ainda não foram publicadas”, disse Mauricio de Sousa.
É preciso ter um parafuso a menos para conceber tanta maluquice? O criador da Turma da Mônica diz que a tarefa é mais árdua do que parece.
“Apesar de, aparentemente, ser fácil fazer uma HQ nonsense, amalucada, não é assim com o Louco. Tem que haver um determinado ritmo, uma sequência de ações e reações, como um remoinho, sem saída para quem está ao lado dele – é o que acontece com o Cebolinha, geralmente. Marcio contava que nos primeiros tempos era comum ele começar uma história e ela já ir para a arte-final, mesmo antes que o roteiro estivesse totalmente pronto. A história era viva, desenrolava-se à medida que a revista tinha necessidade de mais algumas páginas”, afirmou.
O roteirista Paulo Back, que já criou algumas aventuras do personagem, tem a mesma opinião. “Não é fácil escrever historias do Louco. Tem que ter aquela pitada de nonsense, mas sem soar falso ou previsível. É começar a escrever a história e deixar ela mesma se encaminhar. Você não sabe como ou quando ela vai acabar”.
Durante essas mais de quatro décadas, Louco passou por outras transformações, além da mudança de estilo dos roteiros nas suas histórias. O visual, antes mais fiel a quem lhe serviu de inspiração, acompanhou o traço mais “rechonchudo” das outras criações da Turma da Mônica e, na área do politicamente correto, não escapou de se adaptar aos novos tempos. “Por precaução e respeito, ele agora não pula mais do muro para fugir de alguma clínica, não mora num hospício e não termina as historinhas amarrado numa camisa de força, como acontecia antigamente”, explica Mauricio de Sousa.
Além de, desde 2011, ser título de um almanaque periódico, Louco já protagonizou quatro edições da Coleção Um Tema Só, pela Editora Globo; esteve presente nos especiais de luxo MSP50 (2009) e Ouro da Casa (2012); estrelou uma edição do selo Graphic MSP, Louco - Fuga (2015), e foi importante e indispensável para a trama do álbum de figurinhas em forma de quadrinhos A Volta do Capitão Feio (2005). E ainda tem participado de alguns desenhos animados, mostrando que seu potencial não se resume apenas às páginas das HQs.
Louco continua fazendo suas aparições nos gibis mensais da garotada do Bairro do Limoeiro. Mais que isso, ele apareceu algumas vezes bem sóbrio na série Turma da Mônica Jovem, na qual virou professor de uma escola e não fez nada que lembrasse os velhos e malucos tempos.
Isso poderia ser a confirmação do que apregoa uma “teoria conspiratória” surgida por aí? Mauricio de Sousa garante que não: “Alguns ousaram duvidar de sua existência real. O Louco seria uma ilusão criada pelo Cebolinha, talvez de tanto o garoto levar coelhadas. Mas essa versão é derrubada pela presença dele em historias de outros personagens.”
Esses fãs são mesmo malucos.
Marcus Ramone confessa que tinha medo do Louco quando era criança.