Por Sidney Gusman, sobre o press release

Os leitores mais antigos devem se lembrar dele. O roteirista Carlos Eugênio Patati, que publicou muito tempo na extinta revista Porrada! Special, da Editora Vidente, procurou abordar temas nacionais. Em seu novo projeto, ele ratifica isso. Falando de coisas do País, de um jeito tipicamente brasileiro, ela lança no dia 29 de outubro, às 20h, na Livraria da Travessa (Av. Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema), no Rio de Janeiro, O Segredo da Jurema (formato 23 x 32 cm, 80 páginas coloridas, papel couché, R$ 32,00), com desenhos do parceiro de longa data, Allan Alex. O álbum integra a coleção Os Brasileiros, da Editora Marques Saraiva. O primeiro título dessa linha foi Zumbi dos Palmares.

O Segredo da Jurema retrata o primeiro encontro entre indígenas e portugueses, na descoberta do Brasil. A idéia de Patati é mostrar a maneira amistosa como os dois grupos se relacionavam no início da colonização.

Ele denota a diferença de comportamento dos colonizadores: enquanto os conquistadores espanhóis se empenharam em destruir com violência os impérios Inca e Asteca, os portugueses se mostraram mais interessados em estabelecer contatos e relações pessoais com os nativos. Exemplos disso seriam personagens reais, como Caramuru e João Ramalho, que se estabeleceram no Brasil, casando-se com índias e formando famílias.

Após pesquisar as lendas indígenas coletadas pelo antropólogo Curt Nimuendaju, Patati escolheu a lenda "A dispersão dos povos" para desenvolver seus personagens fictícios.

Na ficção criada pelo autor, a lenda foi atribuída aos tupis-guaranis e narra a luta pela sobrevivência e a separação em diversas tribos do que seria um só grupo de índios brasileiros. No livro, a personagem Moema é uma índia pataxó que, após tomar chá de Jurema e entrar num estágio de inconsciência privilegiado, prevê a chegada dos portugueses no litoral baiano.

Patati narra o deslocamento da tribo da índia Moema do interior para o litoral, para encontrar os portugueses na praia. Para chegar ao litoral, a tribo enfrenta os ocupantes da região. A cada batalha vitoriosa, Moema toma novamente o chá de Jurema, e confirma nos seus sonhos o futuro encontro com os portugueses.

A travessia para o litoral é contada como uma aventura, através da recuperação das tradições, do deslumbramento dos índios diante de tantas novidades e das batalhas entre as tribos inimigas. O autor acrescenta à trama um encontro amoroso, visando atrair também o público feminino, geralmente pouco interessado nas cenas de violência. A união se dá entre a índia vidente e o português mais amistoso da tripulação, Diogo Cão, principal personagem histórico.

Misturando pesquisa histórica com ficção, Patati espera que seu livro alcance os amantes de gibis e também os desinteressados nos super-heróis das bancas. Sua intenção é atingir jovens a partir dos 13 anos e adultos, já que enxerga uma demanda reprimida para assuntos relacionados ao nosso país. "Há mais mercado para índios brasileiros do que para mutantes americanos", afirma.

Gênero comum em países como França e Espanha, nos quais é possível encontrar diversos títulos de quadrinhos contando fatos de suas Histórias, esse tipo de obra, que demanda pesquisa histórica para compor cenários e personagens, ainda é incomum no Brasil. O Segredo da Jurema é uma tentativa de se diminuir esse hiato, abordando com bom humor e aventura um tema histórico, para falar do nascimento do Brasil e de sua civilização.