Mesa farta e diversão com os comilões dos quadrinhos
Em mais de um século, as HQs eternizaram na memória dos leitores diversos comilões e também cozinheiros (quase) de mão cheia
Por Marcelo
Naranjo, com a colaboração de Sidney
Gusman (13/09/06)
As barrigas salientes atestam: nada como os prazeres da culinária e de
uma boa mesa. Pois não poderia ser diferente no mundo dos quadrinhos.
Prepare seu guardanapo, afie os talheres e mergulhe numa jornada gastronômica
com nossos personagens favoritos, em meio a pratos maravilhosos e receitas
diversas.
Não dá para começar uma lista de glutões sem falar da Magali. Criada por
Mauricio de Sousa, que se baseou em uma de suas filhas, a simpática menininha
de vestido amarelo, melhor amiga da Mônica e apaixonada por melancias,
tem um apetite voraz que causa situações divertidas e deixa seus amiguinhos
desesperados. Escondam o sorvete!
Bolota (Little Lotta, no original), da Harvey Comics, por
muitos anos teve no Brasil revista própria, na qual havia a seção de cartas
intitulada Papo da Hora do Lanche. É uma menina bem gordinha, dotada
de força incomum e apetite insaciável, que deixa seu pai doido na tentativa
de convencer a "filhinha" a fazer regime.
As tiras e HQs do Recruta Zero não seriam as mesmas sem o impagável Sargento
Tainha (Sgt. Snorkel, no original), mais uma criação de sucesso
de Mort
Walker. Impulsivo, passional, comilão, Tainha trata seus comandados
como crianças, sempre entre surras e afagos.
Ele, aliás, sofre da síndrome do comedor compulsivo. Basta
sentir o cheiro de qualquer alimento para partir para o ataque. Se alguém
conversa sobre comida, corre imediatamente para a geladeira. Pizzas, hambúrgueres
ou as terríveis refeições preparadas pelo cozinheiro Cuca: para Tainha
comendo, tudo é uma delicia.
Bolinha, o inseparável amigo de Luluzinha, é um garoto bom de garfo, o
que pode ser confirmado por sua roliça silhueta, em meio às investigações
do Aranha (seu codinome de detetive) e as encrencas do Clube do Bolinha,
no qual, como todos sabem, "Menina não entra".
Ainda na turma dos gorduchos, outro que chama atenção pela pança avantajada
é Hagar, o Horrível. O bem intencionado viking, que, devido às agruras
do casamento, prefere saquear um castelo atacando a cozinha em vez de
caçar donzelas, é dos mais hilários participantes do time dos comilões.
A tira abaixo define bem o apetite de Hagar: sua esposa, assustada, descobre
que chegou o dia em que ele come mais rápido que ela consegue cozinhar...
E Obelix? O grande e redondo amigo do gaulês Asterix, ainda
que carregue pesados "menires" todos os dias, não consegue perder um grama
sequer de seu peso. Afinal, numa de suas aventuras, decidido a fazer regime,
ele come uns biscoitinhos e, para acompanhar... diz que precisa de um
javali assado inteiro.
Garfield é outro "desesperado" por comida. O gato gordinho
(que já foi bem mais rechonchudo no início de carreira), dono de apetite
insaciável, não resiste a uma boa lasanha, o que rende ótimas piadas e
coloca em situações desesperadoras o seu dono, o atrapalhado Jon.
O gato tem um problema tão sério com os alimentos que,
por vezes, conversa com a própria consciência, representada por seu prato
de comida.
Dudu, também chamado por algumas editoras de Pimpão (Wimpy, no
original), é o amigo de Popeye. Grande devorador de hambúrgueres, o personagem,
que é um misto simpático de preguiçoso com trapaceiro, gosta tanto deste
lanche que acabou dando seu nome a uma rede de lanchonetes na Inglaterra.
Sempre metido em divertidas encrencas, o Gordo é uma criação nacional
de Ely Barbosa, e foi outro personagem infantil que teve titulo próprio
no Brasil. Suas histórias sempre remetiam a pratos cheios.
Scooby-Doo e Salsicha, apesar de terem nascido nos desenhos animados,
levaram para os gibis sua gulodice. E não podem faltar em qualquer lista
de comilões que se preze. O atrapalhado cachorro e seu divertido amigo,
sempre que têm oportunidade, fazem um "lanchinho" de dar inveja a qualquer
marmanjo que goste de fartura.
O bom malandro Zé Carioca é outro morto de fome que faz, literalmente,
qualquer coisa pra filar uma bóia de graça. Que o digam a pobre namorada
Rosinha e o Pedrão, cuja plantação de jacas tem dificuldade em sobreviver
às investidas do Zé.
O clássico Bolão, integrante do trio Reco-Reco, Bolão e Azeitona, criação
de Luiz Sá e publicado na revista Tico-Tico, nos anos 1930, era
vítima constante da travessura de seus amigos. Numa história, inclusive,
ele sonha que está engordando tanto que sua barriga não cabe mais dentro
dos quadrinhos!
Dagwood, marido da personagem Blondie (ambos criados por Chic Young em
1930) é tão fã de sanduíches gigantes, que - como Dudu - virou tema de
uma cadeia de lanchonetes, baseada nas tiras dos personagens.
Na linha dos mangás, há o simpático Goku (Dragon Ball). Desde pequeno,
o forte herói precisa de fartas refeições que devora vorazmente para repor
suas energias e enfrentar a contento poderosos oponentes. O mesmo acontece
com Ruffy, o garoto de borracha protagonista de One Piece.
E, já que o assunto são heróis, vale lembrar que Flash (Wally West) teve
uma fase de "comilão desesperado", na qual precisava ingerir alimentos
constantemente para repor as calorias perdidas em suas corridas ao redor
do globo. Essas histórias saíram na revista Novos Titãs, da Editora
Abril.
A Legião dos Super-Heróis tinha nas suas fileiras o Rapaz Come-Tudo, depois
rebatizado como Digestor. Seu poder era... comer. Depois de um
tempo, talvez sacando a inutilidade de seu dom, os roteiristas da DC
o tiraram da equipe.
Ted Multiple (Johnny Quick em inglês) tinha como ajudante o Batatinha
(Tubby Watts, no original), um gordinho gente boa. Ele não tinha nenhum
poder e, enquanto o herói se atracava com os inimigos, ele ficava pensando
em saborear bifes com batatas fritas e outras delícias.
Groo, o errante, é outro personagem que adora uma boa ceia - se tiver
queijo derretido, melhor ainda. Difícil para ele é conseguir completar
a refeição, já que sempre tem um monte de gente que o odeia tentando matá-lo...
a qualquer momento. Nada que o atrapalhado bárbaro não tire de letra.
Nos fumetti (quadrinhos italianos) há o atrapalhado Chico, colega
e parceiro de Zagor. Ele é um caricato mexicano comilão e preguiçoso,
que acabou inclusive tendo um título próprio lançado recentemente em bancas.
Já no reino dos vilões, ninguém supera o apetite de Galactus, o Devorador
de Mundos. Um cara que precisa de um planeta inteiro para saciar a própria
fome deve ter sérios problemas de estômago. Haja antiácido! O Quarteto
Fantástico que o diga.
Uma abordagem diferente é a da tira Dream of a Rarebit Fiend, no
Brasil, Sonhos de um Comilão. A obra, de 1904, era assinada por
um tal Silas, pseudônimo de Winsor McCay, o autor do clássico Little
Nemo. As histórias, sempre de uma página, eram publicadas em jornais
e retratavam os estranhos pesadelos que as pessoas tinham após se fartarem
no jantar. No final, o protagonista acordava assustado dizendo que não
deveria ter comido este ou aquele prato.
E tem ainda o Gansolino e o Urso Colimério, que dão um trabalho daqueles
pra Vovó Donalda; o Smurf Comilão e o Smurf Cozinheiro; o Zacarias (do
gibi dos Trapalhões); o mais que atrapalhado Homer Simpson; o urso boa-praça
Zé colméia; as Tartarugas Mutantes Ninjas, fãs de uma bela pizza e, com
certeza, muitas outras "peças raras" de apetite voraz espalhadas por aí!
Esses cozinheiros maravilhosos (e outros nem tanto)
Na turma da Disney, todos são "bons de garfo". Prova disso são
dois títulos da série Disney Especial: Os Cozinheiros e
Os Comilões.
Mas o destaque, aqui, não é para o apetite voraz dos personagens, e sim
para uma cozinheira em especial: Vovó Donalda. Suas refeições enlouquecem
o paladar de todos. Inclusive, numa história ela conta ao Tio Patinhas
a receita de suas famosas tortas, que o muquirana tenta reproduzir sem
sucesso. Ao final, ele descobre que faltava o mais importante de todos
os ingredientes: amor.
A Vovó, aliás, ganhou até uma edição própria: o Manual da Vovó Donalda,
com direito a receitas e informações afins.
E o que dizer do druida Panoramix, que prepara poções deliciosas, uma
em especial, que deixa Asterix e os gauleses extremamente fortes? Isso
sim é uma super-vitamina!
Já na linha dos péssimos cozinheiros, segue
imbatível na primeira posição o Cuca, da turma do Recruta Zero. Um dos
destaques do cardápio deste "mestre" da culinária são as almôndegas, mais
elásticas que bolas de borracha. Somente o Sargento Tainha encara, sem
qualquer problema, os pratos por ele preparados.
Outra que concorre para o time dos piores da cozinha é
a mãe da Mafalda. Aos menos, essa é a impressão que a garotinha passa,
ao fugir de medo das famosas sopas preparadas por ela, o que rende ótimas,
divertidas e profundas colocações.
Mais uma que não tem intimidade com a cozinha: Samira,
da Turma do Pelezinho, é uma descendente de árabes que pratica a arte
da culinária preparando quibes duros e ruins de doer, que seus pobres
colegas são praticamente obrigados a experimentar.
Mesa farta!
Quem não gosta de sentar com os amigos, "tomar todas" e partilhar uma
saborosa refeição? Nos quadrinhos não é diferente.
Em praticamente todas as aventuras de Asterix, a história
termina em meio a uma grande algazarra quando os personagens da aldeia
se juntam para festejar e comer deliciosos javalis assados, de preferência
depois de espancar romanos e prender o chatíssimo bardo Chatotorix.
Uma boa prova do quanto a gastronomia é importante na aldeia dos gauleses
é o livro A Cozinha com Asterix - Receitas supervisionadas para pequenos
gauleses desembaraçados e gulosos, que a editora portuguesa Meribérica
chegou a vender no Brasil. A obra apresenta receitas de canapés, hambúrgueres,
coquetéis, mousses, panquecas, tortas, bolos, saladas, arroz e
até espaguete. Todas assinadas pelos personagens da série de René Goscinny
e Albert Uderzo.
Já em Asgard, lar dos deuses nórdicos, animadas reuniões têm lugar à mesa,
capitaneadas pelo lorde Odin, e regadas a muito vinho e falatório - afinal,
os deuses não são de ferro!
Na mesa de Chico Bento, a família e os parentes se deliciam com fartos
e deliciosos pratos preparados sempre no forno à lenha - direto das lembranças
do criador Mauricio de Sousa, grande apreciador de uma comida bem preparada.
Curtindo boas refeições estão os Vingadores, cujo quartel-general tem
a mesa sempre posta pelo fiel Jarvis. Recentemente, a Tia May se aventurou
por ali e preparou um café da manhã inesquecível, para alegria do bom
mordomo.
Enfim, esses personagens, que comendo um bocado fizeram - e fazem - seus
leitores "devorar" suas histórias, são alguns dos exemplos de que os quadrinhos,
como a vida, são cercados de momentos inesquecíveis... dignos de uma bela
refeição!
Marcelo Naranjo e Sidney Gusman dedicam essa matéria as todos aqueles
que, como eles, frente a uma deliciosa refeição, deixam o regime de lado
e pensam: que se dane!