O 33º Festival Internacional de Angoulême
Realizado na última semana de janeiro, o evento se consolida a cada ano como o mais relevante do cenário mundial, quando o assunto é quadrinhos
Por Claudio
Roberto Martini, com fotos de Ariel Martini (03/03/06)
De 26 a 29 de janeiro aconteceu o 33º Festival International de la
Bande Dessinée em Angoulême, no sudoeste da França. Foram quatro dias
com mil autores presentes, mais de 20 exposições de diversas partes
do planeta e uma dezena de pavilhões com cerca de 200 expositores. O mais
importante e tradicional festival da Europa destaca a produção franco-belga,
mas também dá espaço para a HQ do mundo todo. Não à toa, atraiu mais de
200 mil fãs franceses e de outros países.
Uma tradição do festival é a dédicace (sessão de autógrafos). Nos
pavilhões das editoras, os desenhistas e roteiristas autografam e desenham
para os fãs, que chegam a esperar horas nas dezenas de filas que se formam.
Além dos muitos artistas franceses, também estiveram presentes: Mike Mignola
(Hellboy), Jim Lee (Batman - Silêncio), Massimiliano Frezzato
(Os Guardiões de Maser), Brian Talbot (As Aventuras de Luther
Arkwright), Stan Sakai (Usagi Yojimbo) e Lorenzo Mattotti (Estigmas).
Uma presença marcante também foi a dos países asiáticos, com muitos artistas,
exposições e pavilhões dedicados à produção de HQs da Coréia, China e
Japão.
O desenhista nipônico Kotobuki Shiriagari, convidado da organização e
com uma mostra sobre sua obra, fez uma performance durante os vários dias
do evento, desenhando um painel na prefeitura da cidade.
Um grande momento do festival foi o Concert de Dessins (Concerto
de Desenhos), no Teatro de Angoulême. Uma dezena de grandes desenhistas
da HQ francesa, mas pouco conhecidos do público brasileiro
se revezaram para contar a história de um ratinho que passa por diversas
situações perigosas, nas garras e dentes de águias, gatos, cobras e outros
bichos.
No final, ele acaba sendo salvo por um certo Disney e servindo de inspiração
para a criação de um ratinho bastante conhecido. E tudo com uma trilha
sonora misturando música cigana, árabe, jazz e rock, executada por um
quarteto bastante competente. A performance foi emocionante.
As exposições, apesar de numerosas, não foram o forte desta edição do
festival. Dentre elas, se destacaram as de Guido Buzzelli (retrospectiva
do desenhista italiano falecido em 1992) e O imaginário de Júlio Verne
(com as HQ influenciadas pelo universo fantástico de Verne, de Winsor
McCay a François Schuiten).
No sábado, dia 28, foi divulgada a lista dos vencedores dos prêmios para
os melhores álbuns publicados em francês, em diversas categorias. O Grand
Prix de melhor HQ ficou com o livro Notes pour une Histoire de
Guerre, do desenhista italiano Gipi. Outro laureado foi Jaime Hernandez,
com Love and Rockets, com o Prêmio do Patrimônio (o patrimônio
mundial das HQs).
Enfim, o festival é uma overdose de histórias em quadrinhos que se repete
a cada ano e mostra a diversidade, criatividade e importância cultural
e econômica que a nona arte tem na França. Quando visitou o evento pela
primeira vez, Joe Quesada, editor-chefe da Marvel,
disse que, comparadas a Angoulême, as convenções dos Estados Unidos não
passavam de quermesses. Não é exagero!
Cláudio Roberto Martini não revelou aos amigos do
UHQ quantas horas ficou nas filas de autógrafos...