Os melhores quadrinhos de 2010
O mercado de quadrinhos fechou a década em grande estilo, com um ano excelente no que diz respeito à variedade e à qualidade dos lançamentos e, especialmente, pela consolidação de algo que se mostrava havia algum tempo: há muita gente talentosa fazendo HQs no Brasil
Os quadrinhos viveram, em 2010, o seu melhor momento na década que se encerrou. No ano que começou com a comemoração dos dez anos do Universo HQ, mais de 40 editoras investiram em títulos da chamada nona arte. E houve excelentes opções para os mais variados gostos e bolsos.
E foi um ano ótimo para os quadrinhos nacionais. Não apenas pelo número de materiais publicados, mas principalmente pela qualidade. Nunca antes na história deste site (pra usar um termo tão em voga), tantas HQs brasileiras figuraram na lista dos melhores. Pela primeira vez, havia mais de 20 títulos de autores daqui com fôlego pra brigar por uma vaga na seleção.
Além das que tradicionalmente figuram no checklist do UHQ, houve estreias, como as da Garimpo, Balão Editorial, Kalaco, Peixe Grande, Leya / Barba Negra, Terceiro Nome, Noovha América e outras.
Contando com o mercado independente, foram mais de 1500 títulos publicados em 2010, um número significativo, que demonstra um maior interesse pela mídia história em quadrinhos.
Isso também vem sendo atestado pelo aumento da presença de HQs no PNBE - Plano Nacional da Biblioteca Escolar e pelo crescimento dos negócios diretos de editoras com prefeituras de todo o Brasil, para uso de quadrinhos em salas de aula.
O que está voltando a se fortalecer é a formação de novos leitores, especialmente por parte de Mauricio de Sousa. Turma da Mônica Jovem continua sendo o título de quadrinhos mais vendido do País, os desenhos animados da Turma clássica estrearam na Rede Globo e o autor ainda foi eleito para a Academia Paulista de Letras. Outro indicativo do grande momento de Mauricio foi a antecipação da renovação de contrato com a Panini Comics, que mereceu inclusive matéria de página inteira do jornal Valor Econômico.
O ano também foi bom para os fãs da Disney, que viram novas publicações dos quadrinhos de Mickey, Pato Donald, Pateta, Tio Patinhas e Zé Carioca chegarem às bancas, impulsionados pelo êxito da coleção Disney Clássicos da Literatura, da Abril.
Além disso, a On Line publicou várias graphic novels da Disney durante o ano.
Nos mangás, mais um ano se passou sem que a Conrad cumprisse a promessa de seu diretor, Rogério de Campos, em 2009, de retomar séries como One Piece, Monster, Battle Royale, Vagabond e outras.
Mas, felizmente para os fãs, a JBC aumentou seu leque de bons títulos e adquiriu os direitos de publicação de Neon Genesis Evangelion # 21, de Yoshiyuki Sadamoto, do ponto em que a Conrad parou e no mesmo formato. Ponto para a editora, que a cada ano se firma como a principal do nicho dos quadrinhos japoneses.
O gênero super-heróis é o que deu menos mostras de crescimento. A começar pela frustrante "revolução editorial", da Panini, que prometeu grandes mudanças (em virtude das vendas aquém do esperado) e entregou mais do mesmo. Os grandes títulos do ano neste nicho foram voltados para livrarias, sendo que a maioria era republicação.
Aliás, a migração dos quadrinhos para as livrarias ganha mais força a cada ano. Foram mais de 100 álbuns; e esse número deve crescer nas próximas "temporadas".
2010 teve ainda a Rio Comicon, que marcou a bem-vinda volta dos festivais de quadrinhos ao Rio de Janeiro; o lançamento de bons livros teóricos, com destaque para Maria Erótica e o clamor do sexo (a esperada continuação de A guerra dos gibis), de Gonçalo Junior, pela Peixe Grande, e Bienvenido - Um passeio pelos quadrinhos argentinos, de Paulo Ramos, pela Zarabatana; um crescimento cada vez maior do número de teses de mestrado e doutorado sobre HQs; o esforço, por enquanto vitorioso, dos fãs para que J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga, o melhor título regular publicado nas bancas do País, não fosse cancelado pela Mythos; o Prêmio Barba Negra Rio Comicon de Quadrinhos Brasileiros; o fim, na edição 76, da revista Conan, o Bárbaro, uma das mais longevas do Brasil (contando, claro, a fase da Abril), também pela Mythos e muito mais.
Após esse rápido resumo, é hora de conhecer os melhores de 2010. Foram selecionadas 20 obras inéditas e 20 relançamentos. Os critérios na escolha foram: ser, literalmente, uma história em quadrinhos (livro ilustrado não vale) e ter sua publicação iniciada ou concluída durante o ano passado.
Um critério que trazia bastante confusão em nossas listas anteriores era o de considerar como inéditas obras que tivessem parte de histórias republicada e parte de material que nunca havia sido publicado por aqui. Para tentar "arrumar a casa", a partir de 2008, passamos a ser consideradas inéditas apenas obras que tiverem mais da metade de suas páginas de HQs nunca lançadas no Brasil em formato de revista ou álbum.
Um caso à parte são algumas coletâneas de tiras. As que já haviam sido lançadas em álbum, caso de Calvin & Haroldo, entram no time das republicações. Mas as que haviam saído em jornais ou na internet, mas cujo material ainda não tinha sido completamente compilado em livro ou revista, casos de Níquel Náusea, Bichinhos de jardim, do trabalho de João Montanaro e algumas compilações da L&PM.
Por fim, uma mudança: até o ano passado, indicávamos também os dez melhores títulos regulares (revistas mensais e aqueles com duração limitada, que não foram concebidos como minissérie). Nesta lista, eles não estão presentes, pois este jornalista e a equipe do Universo HQ não estão mais acompanhando todos - não apenas em virtude da quantidade, mas principalmente da qualidade duvidosa da maioria.
De todo modo, ficam aqui cinco indicações, desta vez, por ordem de preferência: 1) J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga (Mythos), que sempre traz grandes roteiros e desenhos excelentes; 2) Vertigo (Panini), a revista com o mix mais equilibrado do mercado; 3) Mágico Vento (Mythos), sempre muito bem escrita por Gianfranco Manfredi; 4) Ranma 1/2 (JBC), clássico mangá de humor de Rumiko Takahashi; e 5) Clássicos da Literatura Disney (Abril), uma coleção que devolveu ao leitor da Disney o prazer de visitar as bancas.
Então, confira a seguir, em ordem decrescente, os melhores lançamentos de 2010.
Obras inéditas
20) Yeshuah - O Círculo Interno O Círculo Externo (Devir) - Neste segundo livro da série, que é o melhor trabalho da carreira de Laudo, tanto em texto quanto em arte, Yeshu (nome hebraico de Jesus Cristo) retorna ao convívio dos homens, após passar por grandes privações e tentações no deserto. E começa a ter seguidores, entre eles Miriam Magdalit (Maria Madalena). O interessante do projeto, que será concluído em 2011, é o foco, muito mais humano do que místico, quando se trata do protagonista. Embasado por muita pesquisa, o autor constrói sua própria versão sobre a vida de Jesus e tornou a trama atrativa até para leitores sem qualquer convicção religiosa.
19) Namor - As Profundezas (Panini) - Muito bem escrita por Peter Milligan e com a arrebatadora arte pintada de Esad Ribic, a trama mostra um Namor diferente do da cronologia oficial da Marvel. O cientista e explorador Randolph Stein, que procura desmitificar as famosas lendas da humanidade, investiga o desaparecimento do Capitão Marlowe na Fossa das Marianas - o local mais profundo dos oceanos. É ele que refuta as fantasias sobre o suposto guardião do local: um furioso e vingativo príncipe submarino. A obra integra uma coleção de boas HQs, em capa dura, mas com preços "em conta". Ponto para a Panini.
18) Vó (Leya / Barba Negra) - Neste livro de formato simpático e diagramação diferente dos tradicionais pockets de quadrinhos, o grande público pôde, enfim, conhecer o talento de Jean Galvão como quadrinhista. Até então, suas tiras, da série Animatiras, chegavam apenas aos leitores da Recreio, da Abril. Mas, felizmente, ele resgatou Vó, que proporciona um riso fácil, leve, gostoso, com piadas simples, um traço bem engraçado e sem nenhuma pretensão "cabeça". Além disso, a velhinha simpática, religiosa e hipocondríaca lembra muitas avós por aí.
17) Macanudo # 3 (Zarabatana) - Este primor de série serviu como "pontapé inicial" para que o mercado brasileiro descobrisse quanta coisa boa vem sendo produzida pelos quadrinhistas argentinos. Em seu terceiro álbum, a arte genial de Liniers (que hoje é publicado na Folha de S.Paulo) continua evoluindo. O autor brinca com o formato das tiras, mistura preto e branco e cores, não se apoia num único personagem e, neste volume, começa a se retratar com orelhas de coelho e inicia a divertida série As verdadeiras aventuras de Liniers. Macanudo é engraçado, poético e belo na medida certa.
16) A escrava Isaura (Ática) - A Ática vem trabalhando com bastante competência o selo Clássicos brasileiros em HQ - tanto que os três álbuns lançados em 2009 entraram no PNBE. E A escrava Isaura segue na mesma toada. A leitura é muito agradável, especialmente em função do roteiro conciso de Ivan Jaf (autor que tem feito vários trabalhos desse gênero), que transmite o conteúdo da obra original, sem carregar as páginas de texto. E os desenhos "soltos", as belas aquarelas e as cores sóbrias de Guazzelli contribuem bastante para a fluidez da leitura.
15) Bórgia - As chamas da fogueira (Conrad) - Esta série reúne dois grandes dos quadrinhos. No roteiro, Alejandro Jodorowsky transmite com mestria toda a sordidez que reinava no Vaticano no Século 15, numa trama repleta de traição, morte e sexo. Na arte, Milo Manara se encarrega de dar forma à decadência da Igreja no final da Idade Média. Além de suas exuberantes mulheres (aqui presentes em orgias e até incestos), destaque para a reprodução de cenários da época. O leitor brasileiro esperou quatro anos para ler este terceiro tomo, mas valeu a pena. Que o já prometido quarto e último álbum venha logo.
14) Fábulas - Volume 5 - Os ventos da mudança (Panini) - Bill Willingham criou uma baita série. Mergulhando na tradição dos contos de fadas, uma fonte quase praticamente inesgotável de ideias, ele criou um fascinante universo ficcional. E sempre com bons desenhos. Não à toa, Fábulas coleciona prêmios Eisner. Este álbum é o primeiro da Panini somente com HQs inéditas e mostra o parto de Branca de Neve e detalhes do passado de Bigby Lobo, além de deixar diversos ganchos para o futuro. Depois de passar por Devir e Pixel, o título, ainda bem, parece ter engrenado. Tanto que em 2010 saiu também o sexto volume, Terras natais.
13) Peanuts - Completo - 1955 a 1956 (L&PM) - Um dos grandes projetos editoriais de 2009, esta coleção teve continuidade com dois novos livros. O segundo saiu em março; e este em agosto, dando continuidade à publicação, em ordem cronológica, de todas as tiras Snoopy e companhia. Isso permite ao leitor a deliciosa chance de acompanhar a evolução dos personagens ao longo dos anos. Neste terceiro volume, Charlie Brown sofre sua primeira decepção no beisebol, Snoopy começa a andar sobre duas patas e a pensar, Lucy está cada vez mais insuportável e Linus fala suas primeiras palavras e protagoniza grandes piadas. Imperdível!
12) O Fotógrafo # 3 - Uma história no Afeganistão (Conrad - Depois de mostrar o Afeganistão, um país arrasado pela pobreza e pela guerra durante a invasão soviética em 1986, na companhia da organização Médicos Sem Fronteiras, o fotógrafo francês Didier Lefèvre inicia sua viagem de volta ao Paquistão, na qual chega a ser mantido em cárcere privado e fica perto da morte. E, como nos dois volumes anteriores (o primeiro lançado em 2006; e o segundo em 2008), faz isso numa mistura de belas fotos em preto e branco e dos quadrinhos de Emmanuel Guibert, diagramados e coloridos por Frédéric Lemercier. Um encerramento em grande estilo para a série.
11) Os Sertões - A luta (Desiderata) - A adaptação do clássico de Euclides da Cunha para os quadrinhos foi lançada no final de 2010 - talvez por isso não tenha integrado muitas listas de melhores do ano feitas em dezembro. O roteirista Carlos Ferreira e o desenhista Rodrigo Rosa (num de seus melhores trabalhos) fazem uma bela versão do relato sobre a Guerra de Canudos. Com ênfase na palavra versão, pois os autores se desprenderam ao máximo do texto original - o próprio Euclides vira o protagonista e o subtítulo A luta faz menção só à terceira parte da obra (as demais são A terra e O homem).
10) Taxi (independente) - A exemplo do que havia feito em Có!, Gustavo Duarte apostou numa narrativa sem nenhum balão de texto em sua segunda revista solo de história em quadrinhos. E, novamente, deu uma aula de técnicas de narrativa, num roteiro muito bem-humorado, cheio de referências e com direito a várias pirações do autor. É quase possível enxergar o movimento dos personagens entre uma cena e outra. E a variação das expressões faciais, tanto nos seres humanos, quanto nos antropomorfizados, é de tirar o chapéu.
9) Fracasso de Público # 2 - Desencontro de Titãs (Gal) - O bom primeiro volume da série foi um aperitivo, pois neste segundo as várias tramas que formam a história ganham mais força. Alex Robinson divide os questionamentos da obra por diferentes linhas narrativas, com vários personagens. E o interesse do leitor não cai. Não é fácil. E seu traço, com um jeitão humorístico, prima pela excelente narrativa, com enquadramentos e diagramação das páginas competentes. Como ressaltou Lielson Zeni em sua resenha no UHQ, "Robinson prova que é possível ser denso, lírico e dramático sem perder a graça e o humor; o leitor se emociona e se diverte ao mesmo tempo".
8) Notas sobre Gaza (Quadrinhos na Cia.) - Dez anos depois de relatar em quadrinhos o conflito entre israelenses e palestinos, Joe Sacco volta à Faixa de Gaza para o seu projeto mais ambicioso: resgatar do quase esquecimento dois episódios ocorridos cerca de 50 anos antes, considerados verdadeiros massacres, mas pouco citados nos relatórios da ONU. Pela primeira vez, o autor conta uma história da qual não foi testemunha ocular - e se sai muito bem. Além do relato jornalístico, esta é a obra em que Sacco está mais maduro como quadrinhista, com páginas mais bem diagramadas e um traço detalhista ao extremo.
7) (SIC) (Conrad) - Em seu review para o UHQ, Marcelo Santos Costa lamenta que (SIC) só tenha chegado ao mercado após ter sido financiado pelo ProAC - Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo. E tem razão. Orlandeli, vencedor da categoria Tira do 35º Salão de Humor de Piracicaba,mostra-se um dos melhores quadrinhistas em atividade no Brasil. Sem usar personagens fixos, ele vai do cômico ao trágico e sempre consegue fazer o leitor rir - ou, muitas vezes, pensar - em cenas que mesclam o cotidiano e o surreal! E tudo com um desenho perfeito para o humor!
6) Criminal - Covarde (Panini) - A série que é considerada o melhor trabalho do roteirista Ed Brubaker nos quadrinhos finalmente chegou ao Brasil, mas não teve o alarde de merecia - talvez a edição em capa dura tenha afugentado potenciais leitores. Neste primeiro álbum, que tem desenhos do ótimo Sean Philips, a trama gira em torno dos preparativos para um assalto e as consequências dele. O protagonista é o ladrão Leo Patterson, o covarde do título, que nunca entra em nenhum negócio sem medir riscos. E um dos principais méritos do autor é fazer o leitor torcer pelo criminoso. O segundo volume de Criminal sai em 2011.
5) Xampu - Lovely losers (Devir) - Este álbum foi uma agradável surpresa para quem achava que Roger Cruz apenas desenhava. Primeiro de uma série em três volumes, mostra a vida e os relacionamentos de diversos (e cativantes) personagens que viveram a juventude nos anos 80, com muito sexo, drogas e rock'n'roll. E a arte está sensacional, com uma estilização "na medida" em seu desenho, planos de "câmera" arrojados e uma narrativa impecável. O autor demonstra que é muito mais do um artista que, um dia, desenhou X-Men e outros títulos do mercado norte-americano. Sorte dos leitores.
4) MSP + 50 - Mauricio de Sousa por mais 50 artistas (Panini) - O leitor do UHQ sabe que o editor deste livro é este jornalista. Mas seria hipocrisia deixá-lo de fora desta lista. Repetindo o sucesso do MSP 50, se diferenciou porque, passada a comemoração aos 50 anos de carreira de Mauricio, autores como Rafael Albuquerque, Mateus Santolouco, Eduardo Medeiros, Adriana Melo, Mozart Couto, Allan Sieber, Romahs, Rafael Grampá, Roger Cruz, Danilo Beyruth, André Kitagawa, Clara Gomes e outros se mostraram mais soltos ao usar os personagens. Nas palavras de Eduardo Nasi, em sua resenha neste site, "o resultado é um álbum fabuloso".
3) Kiki de Montparnasse (Record) - Este álbum chegou ao Brasil referendado por prêmios, como o Prix Essentiel Fnac SNCF, no Festival de Angoulême, de 2008. E faz por merecer. Após uma extensa pesquisa sobre a modelo, pintora, cantora e dançarina que teve presença ativa na vida cultural parisiense dos anos 1920, o roteirista José-Louis Bocquet, com os desenhos discretos de Catel Muller, fez mais do que uma biografia em quadrinhos. Deu vida a uma bela HQ, na qual Kiki, com sua vida cheia de polêmicas com drogas, álcool e paixões ardentes, vai da glória ao ostracismo cativando o leitor.
2) Bando de dois (Zarabatana) - Quem disse que brasileiro não sabe fazer HQs de aventura? Danilo Beyruth provou o contrário neste álbum excelente, que foi um dos contemplados pelo ProAC em 2009. Ao melhor estilo faroeste (com sotaque nordestino), o autor mostra Tinhoso e Caveira de Boi, os dois únicos sobreviventes de um bando que era composto por 20 cangaceiros, em busca do mesmo objetivo, mas por motivações diferentes. Uma grande história, com começo, meio e fim, desenhos magníficos e a melhor capa produzida no Brasil no ano passado para uma história em quadrinhos.
1) Cicatrizes (Leya / Barba Negra) - As HQs autobiográficas já praticamente se tornaram um nicho da arte sequencial. Há dezenas, muitas delas excelentes. Geralmente, o que mais chama a atenção nesses trabalhos é o drama pessoal do autor. Mas são raros os casos em que a arte é tão chamativa quanto o texto. Nesse seleto clube estão graphic novels de Will Eisner, Retalhos, de Craig Thompson, e este Cicatrizes. Há, sim, todo o contexto da família complicada e das dificuldades da adolescência, mas a diferença é que David Small pensou sua vida como quadrinhos antes de transpô-la para o papel. Ilustrador de livros infantis e de revistas, ele não permitiu, em momento algum, que sua história se tornasse enfadonha pelo excesso de texto nas páginas ou por lamúrias em repetição. Assim, com um traço simples, porém muito expressivo, e uma narrativa primorosa, realizou uma grande obra.
E ainda há várias obras que merecem uma "menção honrosa": a minissérie em duas partes Leo Pulp - Detetive particular, Conan - Ciméria e B.P.D.P - Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal - Volume 2, da Mythos; Demônios, de Eloar Guazzelli, da Peirópolis; Gefangene - Sem saída, Bonjour, Éden, Banzo e Benito, Batu # 1, Jambocks! # 1 - Prelúdio para a guerra, O Astronauta - ou Livre Associação de um Homem no Espaço e A guerra de Alan, da Zarabatana; A ilha do tesouro, da Salamandra; Mundinho Animal e 676 aparições de Killoffer, da Leya / Barba Negra; O Cabra, da Papel A2; Histórias para não dormir, Frankenstein e Histórias de Poe, do selo Arx, da Saraiva; O ratinho se veste, da Companhia das Letrinhas; Kickback, Anarriê, Leão Negro - Volume 3 - Histórias de família e Who Fighter e o coração das trevas, da HQM; Os Beats, da Benvirá; Pequenos Heróis, Níquel Náusea - A vaca foi pro brejo atrás do carro na frente dos bois, Jogos de poder - Operação: Estrela da Manhã, Rex Mundi - Livro Três - Os Reis Perdidos, The Boys - O nome do jogo, Os Escapistas, Bad Boy, Zeladores, 30 dias de noite - Contos de terror, Liga Extraordinária - Século: 1910, Samurai - Até o fim do mundo e Joquempô # 1, da Devir; Carol, da Noovha América; Bordados, Memória de elefante, Scott Pilgrim contra o mundo - Volume 2, Muchacha e Cachalote, da Quadrinhos na Cia.; as independentes Crônicas da Pindahyba, Golden Shower e Pieces # 3; Bichinhos de jardim - O livro do blog, da Blogbooks; Memórias de um sargento de milícias, da Ática; Coraline, da Rocco; Loveless - Terra sem lei - De volta pra casa, Loveless - Terra sem lei - Mais denso que sangue, Ex Machina - Volume 4 - Marcha à guerra, Ex-Machina - Volume 5 - Fumaça e Fogo, Kick-Ass - Quebrando tudo! , Jonah Hex - As armas da vingança, ZDM - Volume 2 - Prisioneiro de Guerra, Y - O último homem - Volume 3 - Um pequeno passo, Mitos Marvel, Oceano, Homem-Aranha - Com grandes poderes..., Hellblazer - Congelado e Powers, da Panini; Os Sousa - Desventuras em família, da L± Cócegas no raciocínio, da Garimpo Editorial; O mistério da mula sem cabeça, O castelo adormecido - Volume 1 e Bone # 14 - Caçadores de tesouros, da Via Lettera; Disney - Cinema em quadrinhos # 2 - Alice no país das maravilhas, da On Line; Dororo, Alice no país das maravilhas e Metrópolis, da NewPop; Hector & Afonso - Os Passarinhos e Nós - Dream Sequence Revisited, da Balão Editorial; Humanos nascemos e Logicomix, da WMF Martins Fontes; Invasão dos mortos e Filósofos em Ação - Volume 2, da Gal; Triste fim de Policarpo Quaresma e Memórias póstumas de Brás Cubas, da Desiderata; Quando tem que ser, da Marca de Fantasia; Mumin, Jornada ao Oeste - Volume 2, Meus problemas com as mulheres, O pequeno livro do Rock, Mr. Punch, Ninguém me convidou e A arte da guerra # 1 - O nascimento do Império Chinês, da Conrad; o segundo volume (o primeiro saiu pela Opera Graphica, em 2005) de Quadrinhos sujos - O catecismo americano, pela Peixe Grande; Elvis, da 8Inverso; Candyland e 1000 - Drink, da Barba Negra; Poema em Quadrinhos, da Cosac Naify; e Ziraldo n'O Pasquim, da Globo.
Republicações
20) Luluzinha - Dia de cão (Devir) - Este é o oitavo álbum desta deliciosa série, que resgata as histórias em quadrinhos da esperta Lulu "Luluzinha" Palhares e seu inseparável antagonista Bolinha, sempre às voltas com as mais diversas aventuras infantis, que podem ir de "desvendar um crime" a tomar conta de um garotinho, passando, claro, por muitas traquinagens. Vale lembrar que a personagem foi criada em 1935, pela cartunista Marjorie "Marge" Henderson Buell, que a usava em charges. Foram John Stanley (que assina roteiro e arte deste volume) e o desenhista Irving Tripp que a levaram de vez para os quadrinhos, para virar um clássico.
19) Coleção DC 75 Anos (Panini) - Em 2010, a DC Comics comemorou 75 anos com vários livros e edições comemorativas. Por aqui, numa iniciativa muito bacana, a Panini criou esta coleção, em que os leitores escolheram pela internet, de uma lista de títulos pré-selecionados pela editora, quais gostaria de ver publicados nos especiais Era de Ouro, Era de Prata, Era de Bronze e Era Moderna. O problema é que o aniversário passou e só o primeiro saiu. Mas, ainda assim, valeu por reunir as primeiras HQs dos principais super-heróis da DC.
18) Transmetropolitan - Volume 1 (Panini) - No belo trabalho que está realizando com os títulos da Vertigo, com muito mais acertos do que erros, a Panini aos poucos vai resgatando séries que o leitor tinha pouca esperança de rever. É o caso de Transmetropoltan, considerado por muitos o melhor trabalho do roteirista Warren Ellis. Neste volume, com arte de Darick Robertson, o jornalista Spider Jerusalem, para cumprir um contrato, precisa deixar a reclusão e voltar à civilização que tanto odeia. E isso abre espaço para questionamentos profundos, sem deixar o bom humor de lado.
17) Fawcett (Devir) - André Diniz despontou no mercado com esta HQ independente, com desenhos do saudoso Flavio Colin. Anos depois, foi campeã de downloads no site da Nona Arte. Com um roteiro envolvente, o leitor "descobre" o que realmente aconteceu ao inglês P. H. Fawcett, que veio ao Brasil para explorar as matas de Mato Grosso, onde acreditava estar escondida a lendária cidade de El Dorado. Na vida real, ele sumiu em 1925, mas nesta interessante graphic novel, o desfecho é outro. Ponto pra Devir por trazê-la de volta.
16) Cebolinha - 50 Anos (Panini) - Publicado no final de dezembro, por pouco o álbum não "chegou atrasado" ao aniversário do garotinho que troca o "R" pelo "L", tem cinco fios de cabelo apenas, vive bolando planos "infalíveis" para derrotar a Mônica e sonha em ser o dono da "lua". Felizmente, deu tempo! E a edição é um presente para os fãs de todas as idades, pois há histórias de diversas fases, desde quando seu traço era mais anguloso. A HQ que encerra o livro é inédita, do Cebola em sua versão jovem, e traz 50 homenagens escondidas a grandes momentos do personagem. Um desafio "ilado" para os leitores.
15) Mondo Urbano (Devir) - Originalmente, as histórias que formam este álbum foram publicadas em quatro revistas independentes, entre 2008 e 2009: Powertrio, Overdose, Cabaret e Encore. Antes de ser lançado pela Devir, no entanto, saiu nos Estados Unidos, pela OniPress. Mas o importante mesmo é a chance de mais leitores conhecerem este ótimo material produzido por Rafael Albuquerque, Mateus Santolouco e Eduardo Medeiros, que tem uma trama divertida, repleta de vaivens e intercalações, que faz o leitor ir juntando as "peças" da história na ordem correta.
14) Ranxerox (Conrad) - Os leitores da extinta Animal tiveram motivos para comemorar quando este álbum luxuoso chegou às livrarias. Afinal, estão nele compiladas todas as HQs de Ranxerox publicadas na revista, inclusive algumas inéditas, em preto e branco. Hoje o impacto das aventuras do androide extremamente violento que era apaixonado pela taradinha e viciada em drogas Lubna, de apenas 13 anos, pode não ser o mesmo, mas não há como negar a importância que as histórias escritas por Stefano Tamburini e desenhadas por Tanino Liberatore tiveram para os quadrinhos.
13) 100 Balas - Volume 5 - ¡Contrabandolero! (Panini) - Neste terceiro álbum de 100 Balas sob seu selo, a Panini chegou a 30 edições do título mensal, que já saiu pela Opera Graphica (até o número # 58) e Pixel (do # 1 ao # 15). Em 2010 saíram, antes deste volume, Laços de sangue e Inevitável amanhã; e qualquer um deles poderia figurar nesta seleção de melhores do ano. É aí que a escolha de fazer encadernados em papel bom e preço acessível mostra-se acertada, ao permitir que mais leitores brasileiros acompanhem a excelente trama escrita por Brian Azzarello e desenhada de forma magnífica por Eduardo Risso.
12) Tarzan - A origem do Homem-Macaco e outras histórias (Devir) - Que grande iniciativa da Devir foi republicar as histórias que contam a origem de Tarzan, o rei das selvas. O álbum traz a adaptação do primeiro romance do personagem, escrito em outubro de 1912, por Edgar Rice Burroughs, e outras aventuras inspiradas em seus livros clássicos - todas roteirizadas, desenhadas e editadas pelo veterano Joe Kubert. O leitor acompanha o protagonista descobrindo emoções primitivas ao descobrir os prazeres e perigos da selva africana e as ameaças representadas por homens e feras. Um material obrigatório para fãs de bons quadrinhos.
11) Fábulas - A marcha dos soldados de madeira (Pixel) - Esta série é tão boa, que é a única presente nas duas listas de melhores do UHQ. Isso porque os dois ótimos arcos publicados neste álbum saíram quase na íntegra pela Pixel - só faltava a última parte de A Marcha dos soldados de madeira. Felizmente, a Panini compilou tudo num encadernado e elaborou resumos das tramas anteriores para dar a novos leitores a chance de se aventurar pelo universo criado pelo roteirista Bill Willingham, no qual as fábulas clássicas são reinventadas, mesmo tendo suas origens respeitadas.
10) Alias (Panini) - O único ponto desta obra em que cabe discussão é se lançá-la em capa dura e preço mais salgado foi uma decisão inteligente. Porque, quanto ao roteiro de Brian Michael Bendis e à arte de Michael Gaydos, não resta dúvida: são de alto nível. Essas dez aventuras iniciais da super-heroína aposentada e agora detetive particular Jessica Jones, que brilharam em Marvel Max, ficam ainda melhores se lidas em sequência. Da cena de sexo com Luke Cage ao momento em que faz J. Jonah Jameson de otário, passando pela depressão da protagonista, tudo conspira para prender a atenção do leitor.
9) Calvin & Haroldo - Deu "Tilt" no Progresso Científico (Conrad) - O encapetado garotinho loiro de seis anos e seu inseparável tigre de pelúcia Haroldo (que ganha vida somente aos olhos de seu amigo infantil) figuram na lista de personagens cujas publicações devem voltar às prateleiras das livrarias com um intervalo de cinco anos, aproximadamente. Isso porque suas tiras - sejam elas de pura traquinagem com os pais, Susie Derkins e a professora ou aquelas de teor mais poético - são atemporais e continuam conquistando leitores a cada nova geração. Bill Watterson é mesmo genial. Pena foi a editora ter lançado apenas este álbum do autor em 2010.
8) A Liga Extraordinária - Volume 1 (Panini) - Causou surpresa no mercado quando este álbum saiu, semanas depois de a Devir lançar Liga Extraordinária - Século: 1910, mas os direitos de republicar as HQs que reúnem Mina Murray, Allan Quatermain, Dr. Henry Jekyll, Sr. Edward Hyde, Capitão Nemo e Hawley Griffin, escritas por Alan Moore e desenhadas por Kevin O'Neill, agora, são da Panini. E para diferenciá-la das versões anteriores (houve ainda uma minissérie, pela Pandora Books), a editora apostou num acabamento luxuoso, com extras inéditos, como os roteiros de Moore para a série.
7) Ao coração da tempestade (Quadrinhos na Cia.) - É sempre prazeroso quando alguma editora relança algo Will Eisner, pois isso oferece aos novos leitores a possibilidade de descobrir por que ele era considerado o grande mestre da arte sequencial. Nesta história (anteriormente lançada pela Abril em duas partes e depois compilada) não é diferente. O autor, na figura de um soldado que ruma para os conflitos da Segunda Guerra Mundial, olha pela janela de um trem enquanto relembra passagens da dura formação de sua família, do casamento de seus pais à sua infância e juventude. Uma obra obrigatória.
6) Camelot 3000 (Panini) - Depois de publicada pela Abril (onde sofreu até censura) e pela Mythos, a versão futurista da saga do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda, escrita por Mike Barr e belamente desenhada por Brian Bolland, enfim ganhou a versão que pode ser classificada, graficamente, como definitiva - pena que a revisão não faça jus ao mesmo adjetivo. Ainda assim, Camelot 3000 chama a atenção, pois, quase 30 anos depois, a visão de futuro do autor e a temática adulta são ainda bastante atuais. É uma obra que "envelheceu bem".
5) Preacher - Salvação (Panini) - Há entre os leitores de HQs uma brincadeira: Preacher teria uma "maldição". Afinal, a Panini é a oitava editora a publicar o título. E nenhuma concluiu a série. Mas parece que agora vai! Neste álbum, que tem um resumo do arco anterior, Garth Ennis afasta Jesse Custer de Tulipa e Cassidy e faz o pastor reencontrar coisas esquecidas do seu passado. Até xerife ele vira - e a porrada come solta na pequena cidade de Salvation! O segundo álbum pela editora, o penúltimo da série, Às portas do inferno já foi até resenhado no UHQ, mas, não se sabe por quê, não foi posto à venda em 2010.
4) Demolidor - A queda de Murdock (Panini) - Merece elogios o trabalho da Panini de resgatar histórias clássicas de super-heróis para novos (e antigos) leitores. E esta saga não poderia ficar de fora. Afinal, a história em que Karen Page, a antiga namorada de Matt Murdock, agora viciada em heroína, vende a identidade secreta do Demolidor em troca de uma dose é espetacular. O drama do herói da Cozinha do Inferno, sob o texto preciso de Frank Miller e a arte contundente de David Mazzucchelli, faz com que seja impossível ao leitor parar de virar as páginas. O álbum ainda traz esboços e capas originais. Uma edição digna da representatividade da obra.
3) As cobras - Antologia definitiva (Objetiva) - Este foi um resgate valioso. A série As cobras nasceu na época da ditadura, mas consegue se manter atrativa até hoje. Além das duas protagonistas, que não têm nome, ler (ou reler) as tiras com os personagens coadjuvantes como Dudu, o alarmista, Queromeu, o corrupião corrupto, as lesmas Flecha e Shirlei, o jogador de Falcon, o sapo príncipe Felipe, Sulamita, a pulga lasciva, e a tia jiboia é garantia de diversão. Mestre com as palavras, Luis Fernando Verissimo ratifica neste álbum que, mesmo com um desenho assumidamente limitado, também domina - e bem - a linguagem dos quadrinhos.
2) Sandman - Edição Definitiva - Volume 1 (Panini) - O roteirista britânico realmente Neil Gaiman criou um fenômeno. Afinal, a série Sandman é cultuada mundo afora. No Brasil, inclusive. Ela já foi concluída duas vezes - pela Globo, em revistas; e pela Conrad, em álbuns - e foi publicada parcialmente por Tudo em Quadrinhos, Metal Pesado, Fractal, Brainstore e Pixel. Agora, a Panini investe numa nova "embalagem": o formato absolute, com acabamento luxuoso, cores refeitas, extras e compilando vários arcos por volume. Neste primeiro estão Prelúdios e noturnos, A casa de bonecas e Terra dos sonhos. Um marco dos quadrinhos.
1) Flash Gordon - No planeta Mongo - No reino das cavernas (Kalaco) - Somente quem já percorreu sebos à procura dos álbuns gigantes de Flash Gordon, em formato horizontal, publicados pela Ebal, sabe o quanto eles são valorizados. E sua raridade tem razão de ser: poucos leitores se desfazem de uma obra tão maravilhosa. Desde sua estreia, em 1934, até 1944, a série foi escrita e desenhada por Alex Raymond. E basta analisar sua arte, sua narrativa e seus enquadramentos para constatar que ele era mesmo um virtuose do traço. Este primeiro livro apresenta as duas primeiras aventuras do herói. Sempre na companhia da bela Dale Arden e do cientista Dr. Zarkov, ele enfrenta os perigos impostos por seu inimigo, o Imperador Ming. A caprichada edição traz ainda textos que mostram a importância de Flash Gordon não apenas para os quadrinhos. Afinal, ele apresentou ao mundo a televisão, o raio laser, a propulsão a jato, a energia atômica, os discos voadores, o spray, a minissaia e, 35 anos antes do astronauta russo Yuri Gagarin, afirmou que a Terra era azul. Raymond, assim como seu personagem, era mesmo um homem à frente do seu tempo.
Dentre as republicações do ano, também são dignas de destaque: Ken Parker - Um hálito de gelo, do Cluq, Os Perdedores - Hora do troco, Y - O Último Homem - Volume 2 - Ciclos, Guerra Civil Especial (encadernado), a série Turma da Mônica - Coleção Histórica, A Morte do Superman - Volume 2, Lanterna Verde - Sem medo e Biblioteca Histórica Marvel - Homem de Ferro - Volume 2, da Panini; Classics Illustrated - Alice através do espelho e Leão Negro - Série Origens # 2 - O filhote, da HQM; a edição completa de Clic, da Conrad; Assassinato no Expresso Oriente e Morte no Nilo, da L&PM, no qual apenas, no qual apenas primeira - e melhor - história já havia saído no Brasil; e a volta dos almanaques Disney, da Abril.
E você, gostou da lista? Achou que faltou alguma coisa? Comente, palpite e indique os seus melhores de 2010.
Sidney Gusman perdeu praticamente um dia inteiro de suas férias fazendo esta matéria. Mas se tem algo que o deixa orgulhoso é ver que quase todos os títulos foram noticiados ou resenhados no Universo HQ. O problema é colocar essa quantidade insana de links...