Overman, o mito, abre o jogo num papo exclusivo
O super-herói brasileiro mais escrachado de todos os tempos, numa "entrevista" exclusiva
Por Ana Cardilho
Prepare-se para ler o artigo mais inusitado da história do Universo HQ. Num exercício de criatividade, a jornalista Ana Cardilho, editora-executiva do jornal Fala Brasil da Rede Record, bolou uma "entrevista" com o Overman, que acaba de ganhar um álbum pela Devir.
Todas as respostas foram feitas a partir de frases que constam das tiras do atrapalhado herói. O texto foi feito sob supervisão do próprio Laerte, que sugeriu a publicação no UHQ. Boa diversão!
A entrevista
O pior já passou: convencer Overman, o super-herói de frases marcantes como "Sou um cara sensível!"; "O fliperama está me levando à falência!"; ou "Tirando sexta, sou imune a sexo!", de que o pedido de entrevista não era mais um ataque do vilão Passador de Trote. Liguei várias vezes para a pensão no Ipiranga (bairro da zona sul de São Paulo), onde Overman divide um quarto com o colega Ésquilo.
Depois de muita insistência, o herói, com aquele vozeirão de cantor de ópera, avisou: "É bom que isto não seja um trote". Não era. No dia marcado, claro que não uma sexta-feira (porque, nesse dia específico, Overman deixa a luta pela justiça de lado e sai em busca de sexo selvagem), vi aquele homenzarrão, musculoso e viril, atravessar a parede da minha sala voando. No meio da destruição, tirou o pó dos ombros e disse: "Minha malha puxou um fio. Detesto quando isso acontece."
Pensei em reclamar, mas achei mais seguro mandar a conta da parede destruída para a Devir, que está lançando o álbum do Overman.
Antes da entrevista, perguntei ao Over o que ele gostaria de beber, e a resposta foi rápida como um vôo de gavião: "Café! Bem forte! Não sou ninguém antes do café..." Hum, hum... antes do café e do conhaque, né? Eu sabia pelas más línguas, mas era cedo para entrar no assunto vícios. Por isso, peguei mais leve...
Então, Overman, para começar, vamos falar sobre a sua origem, onde você nasceu?
Overman: Não sei... minha vida é um mistério!
E a sua verdadeira identidade? Você poderia dar uma dica aos leitores?
Overman: Eu adoraria saber quem sou na vida real, mas toda vez que tento
tirar essa máscara... a campainha toca.
(Nesse momento, Overman se impacienta, olha o relógio de parede e resolvo mudar de assunto antes que ele saia voando também pela parede da cozinha.)
Bem, Overman, vamos falar dos seus inimigos. Entre o Passador de Trote, Pane, Praga, o Maníaco Flatulento, o Capitalista Imundo e outros tantos, qual o mais difícil de combater?
Overman: Não existem inimigos grandes ou pequenos. Trato todos do mesmo modo...
Mesmo a Louva Deusa?
Overman: Odeio a Louva Deusa! Ela é vil, traiçoeira, cruel, canalha!
Nossa, Over! que raiva! E você bateria numa mulher?
Overman: Com certeza.
E se ela estivesse nua?
Overman: Puxa, é até mais macio!
Over, como você pode bater numa mulher?
Overman: Química... Eu mentalizo a professora de química que tive no colégio.
Bem, mudando de assunto, não podemos deixar de falar sobre seu vício em fliperama e a sua fase, digamos... meio gay. Como foi isso?
Overman: Casei-me com um homem riquíssimo, que me prometeu uma vida de fliperama...
Segundo notícias recentes, você se separou e se curou do vício do fliperama. É verdade?
Overman: Livrei-me de todos os vícios! Estou pronto a atender o chamado da Justiça! Sou um campeão justiceiro! Um super herói!
E seu lado meio gay?
Overman: Não é da tua conta...
Mas você ficou bem depois da separação do marido riquíssimo?
Overman: Eu me sinto um animal...
Agora, falando sério, Overman, essa sua roupitcha não é muito fantasiosa?
Overman: A vida é um baile à fantasia...
Não é um pouco infantil?
Overman: Eu sou infantil desde criança...
Você não gostaria que mudassem a cor da sua capa amarela?
Overman: Ai deles se mudassem minha capa!
(Nesse instante, Overman, nervoso, se levanta. Toquei num assunto delicado, a capa do herói. Isso não se faz. Tento consertar a situação.)
Então, Over, posso tirar uma foto sua para ilustrar a entrevista?
Overman: Fotos roubam a alma das pessoas.
(Isso ele fala já me segurando pelo colarinho da blusa.)
Calma, calma! Tudo bem, sem fotos, então. Afinal, fotos pra quê? Todos conhecem o... glup... grande e maravilhoso Over.
Overman: Overman não guarda rancor... Sou um cara sensível. Quer ver? Mulheres são prosaicas, homens são arcaicos.
Bravo! Que profundo, Over! (Risadinha amarela e gola da blusa que já era) Olha, soube que você ficou chateado porque o povo deu de chamar Santo Expedito para as missões difíceis em vez de você...
Overman: Só me chamam para missões vagabundas! As melhores ficam para o outro! Mas sou invencível, porque tenho a justiça ao meu lado! Além de testosterona em gotas!
Puxa, ainda bem que hoje não é sexta-feira, hein? E então, ficou feliz com o lançamento de um álbum todinho seu?
Overman: Claro! A capa é lindona! Uma nova era se anuncia.
(Dizendo isso, Overman se levanta e começa a exibir os músculos diante do vidro da cristaleira da cozinha...)
No que está pensando, Overman?
Overman: Vinho! Mulheres! Miró!
Nossa! Acho que já está na hora de encerrar a entrevista. Em nome de seus milhares de leitores e fãs, obrigado por esta oportunidade de conhecermos um pouco mais de Overman, o mito!
Overman: brigado!
Hã, Over, topa uma última pergunta?
Overman: topo
O que vai fazer assim que sair voando daqui?
Overman: Vou cair de boca no fliperama!
E assim, ele se foi, levando a parede da cozinha também. Claro, mais um prejuízo que vai para a Devir.
Pra finalizar, uma fofoca adicional: os leitores sabem quem é o pai de Overman! Por isso, quando você encontrar um homenzarrão de malha roxa e adereços amarelos, inclusive uma capa tremulando ao vento, pode gritar: "Seu pai é o Laerte!"
Mas saia correndo imediatamente, porque Overman é rápido como um raio, e pode não gostar de ser irmão dos Piratas do Tietê, do puxa-saco Fagundes, da Gata e do Gato e, ainda, dos Palhaços Mudos. Afinal, nunca se sabe o que se passa na cabeça de super herói, não é mesmo?
Ana Cardilho, desde que fez a entrevista com Overman, por via das dúvidas, não fica mais em sua casa às sextas-feiras