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Que Diabos...?

1 dezembro 2001

O Mefisto da MarvelDias atrás, eu estava relendo uma mini-série chamada O Reino do Demônio. Nela, um daqueles chamados mega-crossovers, algo bastante característico dos quadrinhos nos anos 90: Mefisto descobre a existência de uma dimensão paralela à sua e decide investigar. Uma rápida passada por lá o leva a concluir que aquele mundo - sem concorrência de outras entidades coletoras de almas e sem a quase absurda quantidade de superseres que habitam a sua dimensão original - seria relativamente fácil de ser dominado. Para isso, bastava instigar um pouco de violência aqui, corromper algumas almas ali e voilá, o estrago estaria feito.

No entanto, Mefisto não contava com a intervenção da própria Eternidade, entidade Toda-Poderosa da Marvel que, recrutando um bando de heróis, acabaria dando cabo dos planos do ser infernal.

O Reino do Demônio (publicado no Brasil em 1999, pela Editora Abril - foi um crossover realizado entre a Marvel e o estúdio Top Cow, de Marc Silvestri, no breve período em que este esteve desligado do resto do Universo Image. Isso, por si só, justifica o fato de Mefisto não ter encontrado outros seres infernais em seu caminho. Afinal, não havia rivais como Malebólgia, por exemplo, para interferir, já que ele seria um personagem localizado em outro Universo.

Arma Zero e Surfista PrateadoDe qualquer forma, a série é um típico exemplo dos crossovers Marvel/Image: arte fenomenal e roteiros apenas regulares. De destaque, apenas o primeiro e o terceiro episódios, Surfista Prateado/Arma Zero e Motoqueiro Fantasma/Balística, escritos, respectivamente, por Walt Simonson e Warren Ellis.

No entanto, o que me chamou a atenção na mini-série foi uma das falas de Wolverine. Ao ser perguntado sobre quem seria Mefisto, ele responde que o demônio era poderoso, mas não seria "O" diabo...

Aí eu fiquei confuso. Que eu me lembre, desde que leio quadrinhos da Marvel, Mefisto é visto como "O" diabo, aquele que tem o objetivo de corromper almas, especialmente as mais nobres e puras, com o intuito de levá-las para os seus domínios. Agora, se ele não é "O" diabo, então quem o seria? Seria Mefisto apenas um dos generais do Inferno, a serviço de uma força maior, como Lúcifer? Se assim fosse, onde estaria o "manda-chuva" esse tempo todo?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Então, resolvi pesquisar. Não onde estaria Lúcifer, caso ele exista no universo Marvel, mas sobre o significado do nome e posição hierárquica de Mefisto segundo a teologia. De cara encontrei em O Livro dos Demônios (Antônio A. F. Filho, L&PM, 1997) um perfil bem interessante do demônio. Segundo o livro, Mefisto, diminutivo de "Mefistófeles", vem do hebreu "Mephir", significando Destruidor, e de "Tophel", Mentiroso.

Cena de O Reino do DemônioMefisto teria as seguintes funções na hierarquia infernal: porta-voz imperial, bibliotecário chefe, enviado diplomático e diretor de marketing (!). Ele seria o mais perigoso de todos os demônios, sendo considerado por estudiosos medievais como abaixo somente do próprio Lúcifer. Esperto, sedutor e muito astuto, é considerado o Pai das Mentiras, o Príncipe da Impostura, o Patrono da Mediocridade. Dotado de uma extrema perspicácia, usa e abusa de uma lógica toda sua, distorcida, mas, ainda assim, com muito sentido, para atrair almas para si, fortalecendo o exército infernal.

Não sei o quão fundo Stan Lee pesquisou sobre Teologia e Religião para criar o seu Mefisto, mas a Marvel já declarou, no passado, que o seu personagem não seria uma "representação" do demônio descrito nos livros, mas sim uma "versão", que possui o mesmo nome e algumas características da lenda. Isso eu pude comprovar na minha fonte.

Mas, infelizmente, isso não responde à minha pergunta original: Se Mefisto não é "O" diabo no Universo Marvel, onde diabos ele estaria? Me lembro que, anos atrás, havia Damien Hellstrom, o Filho de Lúcifer, mas o pai dele mesmo eu não lembro de ter visto. Me recordo de Coração Negro - filho de Mefisto, chato como só ele - Zarathos, Lillith, Dormammu e por aí vai, mas Lúcifer, na Marvel? Não, mesmo (nota do UHQ: no selo Vertigo, da DC Comics, nas sagas de Sandman, Lúcifer é personagem de destaque e, recentemente, teve uma história-solo publicada por aqui, pela Brainstore)!

De qualquer forma, não importa como o demônio aparece nas HQs, seja da Marvel, DC ou qualquer outra editora. Mefisto, Lúcifer, Satã, Belzebú, Belial, Azazel, Lillith, Malebólgia, Etrigan e todos os outros seres infernais que, vez por outra, dão o ar da graça em nossas revistas preferidas têm um objetivo único: representar o mal, o mal puro e inescrupuloso, o tipo de maldade que só pode ser combatido por pessoas especiais, altruístas e dispostas a sacrificar a si mesmas em detrimento de um bem maior.

E é esse altruísmo que faz com que esses seres sejam considerados heróis. Não são os poderes que fazem um "super" ser "herói", mas sim a capacidade de auto-sacrifício. Talvez, mais do que os corpos perfeitos e uniformes coloridos, esse seja o principal responsável pelo sucesso dos quadrinhos de heróis em todo o mundo.

Rodrigo "Piolho" Monteiro, depois de escrever esta coluna, foi visto andando de sobretudo, no melhor estilo John Constantine. Mesmo assim, ele jura que só quer saber de demônios nos quadrinhos. Sai, capeta! :o)

P.S: Para saber mais sobre Mefisto, Lúcifer e outros demônios, procure O Livro dos Demônios. Apesar de ser meio conciso demais no perfil de cada um dos demônios analisados, o livro é bem interessante, servindo como base para futuras pesquisas nessa área.

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