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Super-Herói sim, por que não?

24 janeiro 2002

Durante
muito tempo se propagou uma linha de pensamento que dizia respeito à impossibilidade
de se produzir quadrinhos de super-heróis nacionais. Alguns diziam que
não tínhamos a tradição; outros, o "talento"; e alguns, que o gênero (melhor,
subgênero) estava esgotado, pelo excesso de produção desse tipo de material,
principalmente, pelas duas grandes editoras que monopolizam o "mercado"
de quadrinhos brasileiros.

Pois bem.

Desconsiderar as possibilidades de uma HQ com um super-herói nela seria
ignorar um jeito diferente de narrar uma história. Veja bem, não creio
que um gibi de super-herói seja o melhor veículo para tratar de temas
sérios, mas que a presença de um sujeito assim numa história não chega
a ferir ninguém, principalmente se ele for só mais um elemento acrescentado
no cadinho da imaginação do leitor, é inegável.

Pense a respeito: o Brasil, assim como vários outros países que se encontram
numa situação de quase homogeneização cultural imposta pelos americanos,
não pode utilizar-se da antropofagia proposta pelos modernistas por qual
motivo?

Corpo FechadoPara
mim, a idéia da antropofagia é tão válida hoje, quanto foi em 1922 e nos
anos subseqüentes. Daí a assinar uma HQ by fulano de tal são outros
quinhentos. Até porque, caramba, temos a língua portuguesa, que é muito
mais rica em comunicar nuances que o inglês, que é perfeito para comunicar
o ódio, como um ou outro roteirista de quadrinhos anglófono já disse.

Deixar de pensar numa história porque ela precisaria de um super-herói
para funcionar seria tolher a imaginação de quem quer que se propusesse
a produzi-la. Aliás, o bendito super-herói, ou melhor, super-humano, já
existe há tempos, e freqüentou a Bíblia (Sansão), Odisséia,
Eneida, Ilíada (deuses e semi-deuses olímpicos), a filosofia
(Zaratustra, de Nietzche), o teatro (Homem e Super-Homem,
de Bernard Shaw) e assim por diante. O subgênero é derivado da ficção
científica, e não consigo enxergar grandes diferenças entre uma coisa
e outra.

Afirmar que não há nada a se acrescentar aos super-heróis é mais ou menos
como dizer que histórias de ficção científica (e, conseqüentemente, de
super-heróis) só devem ser produzidas em inglês, que não funcionam em
português...

Sansão, desenho de Bené NascimentoBom,
para quem não lembra, um dos iniciadores do gênero foi alfabetizado em
sua língua materna primeiro, neolatina como a nossa, o francês, e publicou
nela toda sua obra: trata-se de Júlio Verne.

Devemos, então, nos fechar para as possibilidades do subgênero? Mesmo
sem tentar a mão sequer uma vez? E engolir os enlatados, então, fica proibido
também?

Queiramos ou não, os super-heróis fazem parte do que chamamos de nossa
cultura popular (ou pop, para abreviar e americanizar) e não aparecem
mais só nos quadrinhos, mas também no cinema (Corpo Fechado) e
na literatura (As Incríveis Aventuras de Kavalier e Clay), sem
ficarem nem um pouco deslocados. Por que ignorar isso? Por que não tirar
proveito?

Recomendo que qualquer um que ainda tenha dúvidas a respeito leia A
Insólita Família Titã
, de Gian Danton e Bené Nascimento, e veja como
se pode usar super-heróis de forma adequada, e sem ferir as convenções
do gênero, numa HQ 100% brasileira.

Abs Moraes tem uma
queda declarada pelo que chama de "subgênero" da ficção-científica, e
tem tentado escrever histórias em quadrinhos relevantes utilizando-se
dele há muito tempo. Você pode conferir alguns de seus trabalhos online
e também no site da Nona
Arte
, e descobrir seu flerte com outros gêneros, como aventura,
drama e erótico (mas este último foi só uma vez).

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