Tio Patinhas: 60 anos de um quaquilionário
O pato mais rico do mundo completa seis décadas de vida editorial com inabalável sucesso
Por Marcus Ramone
(21/12/07)
Nascido
na cidade de Glasgow, Escócia, ele pertencia a uma família pobre que,
outrora rica, perdeu a nobreza. Já adulto, entretanto, fez fortuna em
Patópolis, nos Estados Unidos, e tornou-se não apenas um magnata respeitado,
mas o "quaquilionário" reconhecido como o pato mais rico do mundo.
Ele é ninguém menos que Patinhas McPatinhas, ou apenas Tio Patinhas, um
dos personagens mais queridos dos quadrinhos Disney e ícone tão
enraizado na cultura pop que virou sinônimo de avareza.
Criado por Carl Barks, sua estréia aconteceu em dezembro de 1947, na história
Christmas on Bear Mountain (Natal nas Montanhas, no Brasil,
publicada pela primeira vez em 1953 no gibi Mickey # 15, da Editora
Abril), protagonizada pelo Pato Donald.
Em junho de 1950, Tio Patinhas estreou no Brasil na aventura O Segredo
do Castelo, publicada pela Editora Abril em Pato Donald
# 1. Mas foi apenas em dezembro de 1963 que ele estrelou seu próprio
gibi, até hoje publicado.
Inicialmente um coadjuvante do sobrinho, em pouco tempo o velho muquirana
ganhou destaque com seu temperamento forte, as excentricidades com o dinheiro
e a sede de riqueza que, invariavelmente, resultava nas mais emocionantes
aventuras, sempre com generosas doses de humor.
Desde então, em HQs produzidas nos mais diversos países onde suas histórias
fazem sucesso, Tio Patinhas virou diretor do jornal A Patada; comprou
terrenos na lua; visitou a Atlântida; descobriu civilizações perdidas
no interior da Terra; vem enfrentando vilões como os Irmãos Metralhas,
a Maga Patalójika (com sua obsessão pela moedinha Número 1, a primeira
que o pato muquirana ganhou e que virou xodó e amuleto) e os maquiavélicos
Pão-Duro McMônei e Patacôncio; e tem protagonizado centenas de aventuras
que somente seus muitos anos de vida poderiam acolher.
Nos anos 1980, ele estrelou a série em desenho animado DuckTales
- Os Caçadores de Aventuras, um sucesso mundial que catapultou
sua popularidade às alturas.
Entretanto, a mais aclamada obra protagonizada pelo Tio Patinhas ainda
estava para ser produzida. Isso só aconteceria na década seguinte.
Vida e obra
Em 1992, o quadrinhista norte-americano Keno
Don Rosa concebeu A
Saga do Tio Patinhas, na qual a origem e a trajetória do velho
sovina é contada em ordem cronológica, numa história recheada de drama
e realismo como nunca antes ousaram criar para um personagem antropomórfico
tão popular.
Criada com base nas histórias clássicas escritas e desenhadas por Carl
Barks, a minissérie recebeu diversos prêmios em vários países. No Brasil,
foi publicada em duas ocasiões, a última delas mereceu uma versão
encadernada em três edições de luxo.
Misturando personagens fictícios e figuras históricas, a série em 12 capítulos
(mais seis episódios produzidos nos anos seguintes) acompanha Tio Patinhas
desde seu nascimento até as primeiras aventuras ao lado de Donald, Huguinho,
Zezinho e Luisinho, invadindo a intimidade do pato muquirana de forma
tamanha que o transformou definitivamente aos olhos dos fãs. E para melhor.
Os
herdeiros
Um dos segredos mais bem guardados do Tio Patinhas é o nome de seu herdeiro.
Mas não é tão difícil assim descobrir quem seria o felizardo. Numa escala
de uma a dez patacas, é possível analisar quais dos seus sobrinhos têm
mais chances de se tornar o novo ricaço da Família Pato:
Biquinho - Sobrinho em primeiro grau do Peninha, esse patinho é uma força
destruidora capaz de abalar física e psicologicamente qualquer habitante
de Patópolis num raio de quilômetros. É um furacão em forma de pato. E
a culpa é toda dos quadrinhistas do Estúdio Disney da Editora
Abril, que criaram esse divertido e inesquecível "pestinha". Tio Patinhas
terá que esperar (e muito) o fedelho crescer para avaliar melhor a remota
possibilidade de deixar para ele todo o seu dinheiro. Cotação: uma pataca.
Peninha
- Este é um dos personagens mais queridos pelos leitores brasileiros.
Por aqui, sempre fez mais sucesso do que nos Estados Unidos. Só que o
Tio Patinhas não leva isso em conta. E com razão. Mesmo bem-intencionado,
o pato aloprado é mestre em abrir negócios e fechá-los num intervalo de
menos de cinco quadrinhos. Graças ao seu jeito atabalhoado e idiota de
ser. Cotação: duas patacas.
Gastão - É o ganso mais sortudo do planeta. Mas isso não é o bastante
para deixá-lo no topo da lista dos herdeiros. Folgado e avesso ao trabalho
(só o Zé Carioca o supera nesse quesito), esse chato de galocha ainda
não conquistou a confiança do tio. Cotação: quatro patacas.
Donald
- O coração de pedra do Tio Patinhas pode até esconder isso, mas esse
é mesmo o sobrinho preferido do velho muquirana. O problema é que o atrapalhado,
esquentado e medíocre pato pode não ser a melhor opção para cuidar da
fortuna do tio avarento. Cotação: oito patacas.
Huguinho,
Zezinho e Luisinho - Os patinhos trigêmeos, com o aval de ninguém
menos que Carl Barks, são indiscutivelmente os mais qualificados para
herdar o império financeiro do Tio Patinhas. Postas à prova, sua coragem,
esperteza, honestidade e, principalmente, habilidade no trato de dinheiro
foram promovidas com louvor e na maioria das vezes serviram para livrar
os dois tios de muitas enrascadas. Cotação: dez patacas.
O fim?
Nos anos 1990, a pedido de um fanzine alemão, Don Rosa produziu uma ilustração
que mostra Donald, os sobrinhos e Margarida chorando diante de um túmulo
em cuja lápide está escrito o nome do Tio Patinhas. Ele teria morrido
em 1967, aos 100 anos de idade.
A imagem ainda causa arrepios entre os fãs, principalmente porque A
Saga do Tio Patinhas criou uma seqüência cronológica nas histórias
do personagem, mesmo que restritas às HQs produzidas por Don Rosa.
De qualquer forma, apesar da idade avançada, o velho pato está mais vivo
do que nunca em histórias inéditas que chegam mensalmente nas revistas
em quadrinhos Disney mundo afora.
Neste ano, muitas homenagens foram prestadas aos 60 anos do Tio Patinhas.
Publicações especiais têm marcado a data durante 2007, em diversos países.
Na Europa, pôsteres
exclusivos ilustrados por Don Rosa seguiram de brinde, mês a mês,
nos gibis Disney editados pela Egmont. E no Brasil, além
da edição 500 do gibi do velho
pato, que também celebrou o aniversário do personagem, a republicação
de sua premiada saga foi o ponto alto das comemorações.
E assim, o Tio Patinhas continua esbanjando bastante energia para divertir
seus fiéis leitores enquanto procura levar à Caixa-Forte mais algumas
moedas, para aumentar a fortuna avaliada em "alguns fantastilhões
de impossibilhões" de patacas, segundo sua própria contagem.
Marcus Ramone gostaria de ter uma Caixa-Forte, mas apenas para guardar
sua coleção de gibis.