Título: ANTES DO INCAL # 3 - VHISKY, SPV E HOMEO-PROSTITUTAS
& O BECO DO SUICÍDIO (Devir
Livraria) - Série de três álbuns

Autores: Alejandro Jodorowsky (texto) e Zoran Janjetov (arte).

Preço: R$ 42,00

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Março de 2008

Sinopse: O Canal 79831 é invadido por um grupo rebelde liderado por John Difool, mas um traidor acaba frustrando os planos.

Luz de Garra, capturada por Diavaloo, é levada a um satélite-harém. Difool, por sua vez, tem sua memória apagada.

Positivo/Negativo: Antes de Antes do Incal, veio Incal em si. A série em três álbuns, também lançada pela Devir, foi escrita pelo chileno Alejandro Jodorowsky e teve arte de Moebius. Lotada de referências a símbolos, arquétipos e quejandos, mostrava a história da evolução de John Difool.

Nela, quando o detetive classe R aparece pela primeira vez, era um boçal em queda livre. No fim, é um ser iluminado. Trata-se de uma metáfora sobre um potencial retraído da humanidade, tema que permeia não só Incal, mas toda a vasta obra de Jodorowsky - que inclui filmes, romances, poesias e outros quadrinhos.

Antes do Incal, que acaba segundos antes de Incal começar e não tem seres iluminados. Orbita em torno de outra idéia: a de mostrar o que o ser humano é, com que males ele convive e que vícios estão em sua cabeça. Mesmo que Jodorowsky e Janjetov apresentem um mundo futurista, lotado de naves, robôs e aliens, a série é atual. Fala desta Terra em que vivemos e da própria condição humana.

Não é por acaso que este terceiro volume (que reúne os dois álbuns finais da série) começa com uma grande sátira baseada no esquema dos programas de televisão. Não se trata apenas de crítica a uma mídia idiota, como pode parecer em uma leitura menos atenta. É, isso sim, uma denúncia a uma sociedade que transforma qualquer tema, sério ou não, em espetáculo.

O ponto que Jodorowsky tenta mostrar é que tudo isso que está aí, inclusive a tal mídia idiota, é culpa da própria humanidade, de seus vícios, de suas atitudes maculadas por um pensamento limitado.

Outro exemplo disso é a amnésia artificial implantada em John Difool. Sem saber o que já viveu, desconhecendo-se a si mesmo, o herói da série entra em um círculo vicioso. Só duas coisas o movem: o desejo de se tornar um detetive particular classe R, designação tão nonsense quanto sua ambição, e o sexo, praticado com prostitutas andróides construídas ao gosto do freguês. Sem memória, tudo deixa de fazer sentido.

Difool é nulificado nesta edição, mas isso tem um propósito para a trama, e ele fica ainda mais claro em Incal. Seu nome evoca The Fool, ou O Tolo, carta número zero do baralho do tarô, que representa um ser humano no marco inicial de sua jornada rumo ao conhecimento.

Bitolado em sua vidinha besta, o Difool do fim desta história está pronto para iniciar sua jornada.

Mas Antes do Incal não é grande só porque abre alas para uma obra-prima, mas também porque é ela própria uma série brilhante.

A conclusão da primeira edição brasileira com a série completa é mais um marco do trabalho brilhante que a Devir tem feito com o universo ficcional criado por Jodorowsky. Que venham, e logo, as outras séries derivadas de Incal.

Classificação:
- Eduardo Nasi

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