Confins do Universo 204 - Marcelo D'Salete fazendo história (em quadrinhos)
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O Major: novo webcomic nacional promete ação e adrenalina

22 maio 2007

O MajorEm
2005, Hector Lima, DJ e redator freelancer da Baixada Santista,
ganhou destaque no Universo HQ após sua autopublicação no exterior
com Zombingo
- coletânea de HQs de horror encabeçada por ele mesmo e outros autores
nacionais, publicada pela editora ComixPress.

Após um hiato de quase dois anos, Hector está de volta. Ao lado do casal
Irapuan Luiz (arte) e Michelle Fiorucci (letras), com quem trabalhou em
Zombingo, ele decidiu investir numa série em quadrinhos voltada
especialmente para a Internet: O
Major
.

Estrelada pelo super-soldado Ed Baker, recém-promovido ao posto que dá
título à HQ, a série promete uma tempestuosa mistura de ação, espionagem,
super-heróis, conspiração política e crítica social. Algo que o leitor
poderá acompanhar semanal e gratuitamente no site oficial do gibi.

A iniciativa de Hector de levar sua publicação para a Internet não é novidade.
Nos Estados Unidos, é uma realidade para dezenas de artistas independentes
que encontraram na rede um modo de divulgar sua arte e, inclusive, viver
dela - com a venda de produtos relacionados às HQs e cliques em links
e banners de anunciantes em seus respectivos sites.

Em entrevista ao Universo HQ, Hector e Irapuan falam sobre a concepção
da série, a publicação em português e inglês (pela editora KomikWerks)
e o que os leitores podem esperar.

Universo HQ: Como surgiu a idéia que deu origem ao Major?

Hector Lima: Se não me engano, foi quando o Abmael MC perguntou
se eu não queria co-escrever um roteiro com seu personagem Capitão Esperanza.
Teria que fazer um personagem americano para atuar em conjunto com ele.
A HQ nunca saiu, mas gostei tanto de realizar o sonho
nerd de fazer
uma história de super-herói que resolvi continuá-lo em desventuras próprias.

As idéias começaram a pipocar conforme fui misturando o que já havia lido
do gênero a algumas coisas que gostaria de fazer. Entraram notícias do
mundo atual, essa guerra do Ocidente versus o Oriente que nunca termina,
a oportunidade de comentar sobre um império em decadência - e como ele
se relaciona com o resto do planeta - na forma da mitologia condensada
dos quadrinhos.

O Irapuan vinha me falando sobre tentar fazer algo mais pop, que mostrasse
o quanto a gente ama super-heróis, contar uma história movimentada e aí
a coisa foi acontecendo.

UHQ: Algum motivo em particular para apresentar diversas referências
a personagens e contextos da popesfera?

O MajorHector:
Além do inegável prazer do plágio? Várias! Encaro essa série como mais
ou menos um disco feito com
samples de outras músicas. Sei que
isso parece pós-moderno demais - ou "picaretagem", como diriam algumas
pessoas que pararam de ouvir música no século passado -, mas
O Major
pra mim é uma tentativa de desconstrução e reconstrução do super-herói
patriótico, o homem-bandeira, o super-soldado.

As referências que já apareceram e aparecerão foram o jeito como as idéias
se organizaram na minha cabeça na hora de comentar a situação política
mundial desse começo de século e, ao mesmo tempo, fazer uma história de
ação divertida.

É também um comentário sobre esse sub-gênero "capitão americanístico"
dentro das HQs de heróis, quase da mesma forma como o
Supremo do
Alan Moore foi uma desconstrução da mitologia do Super-Homem. Claro, guardadas
as devidas proporções literárias e capilares.

No meio do primeiro roteiro, eu parei. Estava preocupado com as comparações
com o agora falecido Capitão América, que sei que viriam uma hora ou outra.
Então, sou o primeiro a assumi-las. Afinal, todo mundo quando começa,
deixa vazar as influências do que gosta no próprio trabalho.

O único problema, e que tenho com os filmes do Tarantino, por exemplo,
é quando a referência é mais importante que a mistura nova final; isso
eu tenho evitado conscientemente.

E hoje tudo faz referência a algo. Não sei como funcionaria um filme do
Capitão América se há seis anos vemos as aventuras dele na TV como Jack
Bauer. Quem diria nos anos 60 que se você misturasse
O Médico e o
Monstro com Frankenstein e o medo atômico daria no Hulk? E que
Joe Simon e Jack Kirby conseguiriam criar um herói patriótico quando já
havia o Shield,
da Archie Comics?

Então, o Major é meu jeito de remixar todas essas idéias, mas na minha
visão pessoal de brasileiro, que nasceu no fim da Ditadura Militar.

UHQ: Por que optou pela publicação em forma de quadrinhos online?

Hector: Originalmente, o Major foi apresentado a algumas editoras
norte-americanas (ainda gosto de você, Erik Larsen!) e era pra ter saído
pela APA. Mas quando percebi que estavam enrolados sabe-se lá com
o quê, pulamos fora e fomos muito bem recebidos pelo Patrick Coyle na
KomikWerks, uma das maiores pontas-de-lança dos
webcomics
de língua inglesa.

Mesmo que eles não quisessem o gibi, eu iria pra net de qualquer forma,
no TheMajor.org
- onde a versão em português está sendo seriada. Meu café da manhã é ler
notícias do mundo das HQs todo dia e, de uns tempos pra cá, começaram
a aparecer muitas novidades sobre
webcomics, que é hoje o meio
ideal pra se descobrir novos autores. Tanto que várias séries viraram
álbuns por editoras conceituadas e alguns autores estavam simplesmente
vivendo exclusivamente de suas HQs na Internet.

Eu já havia tido uma pequena experiência com isso com meu finado site
Escritório Noturno e ao vender
downloads do Zumbingo
quando a minúscula tiragem de papel que rodei acabou. Um cara no Japão
chegou a comprar, nunca ia imaginar.

Por razões contratuais não posso vender download do Major por minha
conta, mas imagino que a KW logo dará um jeito nisso, porque já
estão surgindo vários "iTunes de HQ".

O Major
Muitos autores e editores brasileiros acham ainda que não vale nada ir
pra Internet, que o gibi perde a exclusividade do papel e ninguém quer
pagar por ele se está disponível "de graça" - como é o caso do Major.

Realmente essa exclusividade se perdeu, mas é para o bem: a net é só mais
um caminho que surgiu pra se somar aos outros. E um meio que permite alcançar
gente do planeta inteiro sem depender de uma tiragem finita em papel.
É isso que as gravadoras de música e os estúdios de cinema começaram a
perceber.

Recomendo a todos que leiam aqui o livro gratuito de Todd Allen, Online
Comics Versus Printed Comics
e vejam como um mundo de possibilidades
está à nossa frente pra ser aproveitado.

Esses são tempos de transição pra mídia de consumo, não é fácil viver
exclusivamente de Internet ainda. Mas quem souber aproveitar vai chegar
bem do outro lado.

A propósito, tanto na KomikWers quanto no TheMajor.org,
sobrevivemos do quanto os leitores vêem os anúncios, como acontece na
TV. Então, nós - e os patrocinadores - agradecemos sempre os cliques.

UHQ: O que o público pode esperar da série?

Hector: Graças à mágica da arte do Irapuan e às letras de sua
esposa Michelle, os leitores ficarão com a gengiva formigando ao ver belas
imagens com muita ação, drama, suspense, tiros, socos, voadoras e explosões.

Mais especificamente: uma grande conspiração política feita de reviravoltas,
terroristas, espiões, piratas voadores no México, alienígenas em Madagascar,
nazistas americanos, uma nação
online independente, dinheiro sujo,
distúrbios temporais e detonações atômicas. Isso pra começar.

UHQ: Irapuan, como você se envolveu na criação do Major?

Irapuan: Bom, desde que fiz Zumbingo com o Hector, sempre
estivemos por aí bolando alguma coisa. Conversávamos sobre fazer uma proposta
de super-herói e ação para apresentar pras editoras gringas, e ele me
mostrou o Major, que já tinha criado havia algum tempo.

O Major
A partir daí, a coisa começou a rolar, primeiro com a proposta original
e, após umas idas e vindas, mudanças de editora e outros trabalhos pelo
caminho, pude, com satisfação, dar seqüência ao Major para sair pelo Komikwerks.

UHQ: Quais as técnicas utilizadas na construção das páginas, já que
trata-se de uma série de (muita) ação?

Irapuan: É verdade! A pancadaria rola solta. Essa sempre foi
uma das nossas idéias para a série. Então, sempre tento criar
layouts
dinâmicos e usar ângulos dramáticos para valorizar esse aspecto, mas mantendo
uma coerência pro leitor não se perder.

Tentei manter a balança entre a estética dos quadrinhos atuais e uma diagramação
mais ousada, com certos recursos narrativos nem sempre usados hoje. Muitas
cenas demandaram vários estudos e esboços à parte. Como a cena da explosão
de uma antena. Esse de tipo de seqüência dá um trabalhão. Culpa do Hector!

Por isso, da minha parte, quero continuar a dar o máximo nas páginas para
manter a adrenalina em alta. E como o Hector disse, ainda tem muita coisa
legal pra acontecer. Pode ter certeza: as coisas vão ficar cada vez piores
para o nosso Ed.

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