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Watchmen no cinema: missão (quase) cumprida

Por Delfin
6 março 2009

WatchmenMuitos
defendiam que Watchmen era inadaptável para os cinemas sem haver
uma perda enorme do original, publicado nos Estados Unidos entre 1986
e 1987. Acreditava-se que seria hollywoodiano demais, infiel ao extremo,
cruel para os milhões de fãs da série
original
de Alan Moore, Dave Gibbons e John Higgins.

Pois Zack Snyder mostrou que os céticos estavam errados. Ao menos em parte.
Ao respeitar o cerne dos quadrinhos, como bom nerd que é, o diretor
procurou manter o espírito da obra. Por isso, o que se vê é uma grande
história de super-heróis. Com o clímax trocado, é verdade. Mas extremamente
coerente com o espírito da trama original.

O filme, com suas mais de duas horas e meia, é fiel aos quadrinhos enquanto
isso é possível. Há diferenças que gritam ao fã de Watchmen. A
principal delas: os personagens, na telona, são super-heróis. Não heróis
de ação, como originalmente. Socos e golpes que demolem coisas e pessoas.
De onde vem tanta força bruta? De repente, eles não se parecem mais tanto
com o leitor. E fica evidente: há uma falta de humanidade patente no filme.

Isso se explica por conta das escolhas de Snyder. Ao eliminar quase todas
as subtramas, ele tirou do longa os detalhes, os toques suaves, os conflitos
paralelos que davam vida àquele 1985 terrível.

Tais histórias, como já foi divulgado, deverão estar na versão estendida
do filme, a ser lançada daqui a alguns meses. Assim, é curioso constatar
que o filme é para o público médio, que quer ver uma história mais rápida.

WatchmenOs
fãs da obra em quadrinhos terão que esperar o DVD que vai incluir não
só as histórias dos dois Bernies, da companhia de táxi e do ambiente novaiorquino
do dia a dia, mas também a história dos Contos do Cargueiro Negro,
entrelaçada com a trama principal.

Mas tudo fará menos sentido por causa da eliminação de personagens como
Max Shea e de seus destinos. Tudo será mais fraco porque todos os elos
da corrente não foram respeitados com o devido peso. Tudo ruirá numa avaliação
mais séria, pois, em termos de estrutura, tiraram as fundações sob a qual
a trama principal se sustenta.

Sim, isso diz muita coisa: Watchmen, nas telas, por vezes dá a
impressão de ser um arranha-céu que se sustenta sobre uma base frágil.
E, ainda assim, funciona. Mesmo que críticas poderosas atinjam o sustentáculo
de sua narrativa bem engendrada.

O que é preciso levar em consideração é que esse problemas são apontados
por quem tem a série original como base para minar a potencialidade da
história de cinema. Seria o mesmo que atacar as incongruências entre origens
e fatos da cronologia dos X-Men nos quadrinhos e a de seus pares cinematográficos.
Então, é bom diferenciar uma coisa da outra e começar de novo.

E deve-se começar assim: Watchmen é a narrativa mais intrínseca
e complexa feita de um quadrinho de super-heróis. É uma história que pode
ser descascada em vários níveis, que possuiu detalhes e segredos, com
nuances que podem, inclusive, deixar o espectador médio bem atordoado.

Mesmo simplificada, a trama do filme é densa e muito bem amarrada. É uma
história em que não há pontas soltas e quase não existem pistas desnecessárias.
Ou seja, a essência de Watchmen está presente.

Isso basta? Para se contar uma história como esta no cinema, talvez. Afinal,
todo o jogo de poder está mostrado. Todos os objetivos foram respeitados.
Todos os destinos foram preservados. Em essência. É mais do que se pode
dizer de quase todas as adaptações de quadrinhos.

Há um excesso de efeitos especiais, é verdade. Parece ser um erro, uma
concessão para agradar ao público médio, para garantir bilheterias. Parece
um erro quando se compara esta decisão às tomadas em O
Cavaleiro das Trevas
, em que não há um minuto sequer de super-slow-motions
ou lutas em bullet time. Tudo é rápido, violento e feroz, mas não
tanto como em Watchmen. O filme do Batman é mais humano e, novamente,
a questão central parece ser esta.

WatchmenE
por quê?

Watchmen foi a série de quadrinhos em que se mostrou que heróis
eram humanos em essência, sem, no entanto, reconhecerem isso. O filme
mostra heróis que subestimam a humanidade em essência, e possuem
consciência disso.

É uma verdade geral? Não. Rorschach está perfeito. Já o Nite Owl merecia
um uniforme menos atlético, mais flácido, pois parece mais um herói na
ativa do que aposentado. Ele e Silk Spectre não possuem desculpas para
sua excelente forma física. Seus golpes são certeiros e poderosos demais.
Isso não parece certo. Não parece humano.

Assim, a maioria das pessoas, que nunca sequer passou perto do original
em quadrinhos, deve gostar de Watchmen. Já a versão estendida tem
tudo pra ser um cult entre os fãs.

Por fim, no filme há duas referências que aparecem rapidamente em televisões
retratadas no longa: uma microaparição da famosa propaganda
da Apple
, exibida apenas no Superbowl de 1984 e um trecho do
episódio Architects
of Fear
, da série Outer Limits, que, segundo o próprio
Alan Moore, o inspirou na criação de Watchmen.

Enfim, Watchmen, o filme, deve dividir as opiniões entre os fãs
de quadrinhos. Uns vão considerá-lo uma das melhores adaptações feitas
até hoje; outros acharão que o longa não terá fôlego para perdurar no
imaginário coletivo por muito tempo.

É esperar para ver quem está com a razão. Enquanto isso, só resta aos
fãs do mundo inteiro continuarem a vigiar os vigilantes.

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