Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Recordatório

Emprestar meus gibis? Aqui, ó!

16 setembro 2009

Me empresta aí!Por favor, não me peça um gibi emprestado. Mais ainda, não me ofereça alguma revista em quadrinhos  emprestada em troca de minha disposição para fazer o mesmo. Receberei a sua, mas não emprestarei as minhas de jeito nenhum. Não insista.

Já tive o dissabor de, em nome de uma amizade, deixar alguém levar alguns itens da minha preciosa coleção para passar uns dias em uma prateleira distante de um mundo desconhecido e assustador. Não os vi mais. Perderam-se ou foram danificados irremediavelmente.

A coleção ficou com um buraco até hoje ou, quando pude, gastei uma grana preta para conseguir outros exemplares em sebos ou sites de leilão - essas entidades do mal que se aproveitam do desespero alheio para enfiar a lâmina longa e fria das cifras astronômicas nas costas desprotegidas dos colecionadores.

Graças a esse trauma irreparável (que, infelizmente, não me motivou a combater o crime vestindo uma fantasia de morcego, mas também não me transformou num maníaco assassino de pidões de gibis), adquiri o poder avassalador da falta de vergonha para dizer "Emprestar meus gibis? Aqui, ó!".

Mas vou expor meus motivos, para que não pensem que sou (apenas) um sujeito chato e sem noção:

1) Ninguém terá com as minhas revistas o mesmo cuidado que tenho com elas. Longe dos meus olhares, ninguém vai se preocupar em obedecer às exigências básicas de não dobrar o gibi como um canudo; não marcar uma página amassando a pontinha do canto superior; e, por todos os deuses dos quadrinhos, não deixar a revista embaixo de um papel em que alguém estiver escrevendo uma carta - é o cúmulo receber o gibi de volta e ver na capa, sob o reflexo da luz, as marcas de uma caligrafia tosca na qual se lê "Adalgisa, eu te amo!"

2) E se alguém que estiver com uma de minhas revistas em quadrinhos acabar partindo desta para melhor? Com que cara chegarei até um de seus parentes e direi: "Sei que o momento é difícil, mas aquele gibi ali, com o Homem-Aranha dando um pau no Duende Verde na capa, é meu e quero ele de volta"?

Nesse caso, o pior é se disserem que não tenho como provar a propriedade do objeto requerido. Afinal, a revista não vai me reconhecer, pular em cima de mim e abanar feliz da vida a página da seção de cartas.

3) Mesmo quando as revistas são devolvidas em perfeito estado, a espera por esse dia maravilhoso - em que elas saem do cativeiro no qual estiveram por um período comparado à eternidade - rende centenas de horas de preocupação que podem resultar em precoces fios de cabelo branco na cabeça. Não vale a pena.

4) Uma revista em quadrinhos perdida está para sempre perdida. O ser monstruoso e desumano que perder um gibi meu ainda continuará sendo isso se comprar outro igual, principalmente se o exemplar perdido carregar recordações da minha infância ou de alguma passagem marcante da minha vida.

Ora, não será a mesma revista pela qual rachei a cabeça no vaso sanitário ao pular para salvá-la da destruição certa na água em processo de descarga. Igualzinha, mas não a mesma. Não tem uma história por trás, dá para entender?

É claro que uma leitura vigiada eu proporciono a quem desejar ler meus gibis. Desde que não saiam de sua fortaleza, eles podem lidos por todos, democraticamente.

Mas cuidado aí com o jeito de virar essa página...

Marcus Ramone tem uma lista negra dos inimigos de seus gibis. As traças e os pidões estão no topo, mas não necessariamente nessa ordem.

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