A boca quente # 1
Editora: independente – Série sem edições definidas
Autor: Shiko (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 20,00
Número de páginas: 24
Data de lançamento: Setembro de 2015
Sinopse
Na sintonia radiofônica da “Boca Quente da madrugada”, o apocalipse se instaura na Interzona: misteriosos assassinatos são cometidos por uma incendiária, nos quais os “possantes” das vítimas são levados; detetives fazem roleta russa esvaziando o tambor da sua libido nos cabarés e denúncias anônimas são feitas na estação central.
Positivo/Negativo
Arrancadas de Chevrolet El Camino, planos abertos, palavreado digno das pornochanchadas e sequências cinematográficas de pirotecnia são montadas por Shiko na sua primeira série em quadrinhos, remetendo aos fanzines que fazia nos anos 1990 como o Marginal, feito em limitadíssimas tiragens fotocopiadas.
Nesse curto espaço de páginas, o quadrinhista vai soltando ideias e cordas que vão ser amarradas mais à frente, nos próximos números, o que atiça a curiosidade do leitor pelas dúvidas colocadas pelas aparições de personagens ou ações em aberto.
Em virtude disso, ainda não dá para se ter um julgamento justo da obra, apesar da sua qualidade por meio dos desenhos realistas e detalhados do autor, sua narrativa dinâmica e sua pegada pulp, com direito a narrador em off e várias referências cult.
Percebe-se no zine reverências literárias como ao romance Almoço Nu, do escritor norte-americano William S. Burroughs (1914-1997). A obra beat chegou a ser adaptada para o cinema pelo canadense David Cronenberg em 1991, sob o título de Mistérios e Paixões.
Dentre outras referências ligadas ao cinema, Shiko pega o mote de um premiado curta-metragem de 16 mm que partiu de um roteiro seu: Cão Sedento (2005), dirigido por Bruno de Sales. Na produção paraibana, uma prostituta seduz os clientes para conseguir roubar seus carros. As vítimas são mortas e incineradas.
Para o leitor mais atento, A boca quente traz ainda menção ao longa O Profissional (1994), do francês Luc Besson.
Nos detalhados e sujos cenários, o autor traça várias linhas do tempo arquitetônicas que vão desde metrópoles estrangeiras como Nova York, cidades brasileiras como João Pessoa e elementos futuristas que marcam a atemporalidade na geografia do seu universo ficcional.
Sintonizando com o tema, a bem-vinda pornografia se destaca nas páginas deste número de estreia. O que Shiko faz graficamente casa de forma perfeita com a narrativa rasteira e em tom vulgar de uma espécie de “cordel erótico”.
A edição independente tem capa cartonada sem orelhas, formato 19 x 27 cm, papel pólen com boa gramatura e impressão. O escorregão ficou por conta de uma revisão, principalmente na pontuação do texto.
Duas sensações permanecem depois de ler o gibi. A primeira é a constatação de ser realmente um fanzine, algo feito com a paixão fervorosa de um fã usando sua bagagem cultural; a segunda é a ansiedade de contemplar o quadro marginal concebido pelo quadrinhista por inteiro.
Classificação