A máquina de Goldberg
Editora: Quadrinhos na Cia. – Edição especial
Autores: Vanessa Barbara (roteiro) e Fido Nesti (desenhos).
Preço: R$ 34,50
Número de páginas: 112
Data de lançamento: Novembro de 2012
Sinopse
Getúlio, um garoto gordo, punk e asmático, passa suas férias no acampamento Montanha Feliz para cumprir pena por ser antissocial na escola. Em meio à perversidade dos colegas e à temida hora da ginástica, ele conhece o zelador Leopoldo, um velho melancólico com uma obsessão: construir geringonças.
Juntos, arquitetam uma ambiciosa vingança que une as fugas de Bach às variações de Rube Goldberg, em uma engenharia absurda que vai se expandindo até derrubar todas as peças do dominó, instaurando o terror no coração da Montanha Feliz.
Positivo/Negativo
Nem sempre escritores podem fazer quadrinhos ou vice-versa.
A paulistana Vanessa Barbara é jornalista, tradutora e contista. Sua primeira incursão no universo dos quadrinhos é desastrosa como o efeito da máquina de Goldberg do título.
Caso não tenha ligado o nome à função, os mecanismos centenários criados pela imaginação do engenheiro e cartunista Rube Goldberg (1883-1970) consistiam em vários elementos que convergem de maneira desencadeada para realizar uma ação relativamente simples.
Essas máquinas eram muito comuns em desenhos animados, nos quais as armadilhas arquitetadas pelos antagonistas eram traçadas para capturar, por exemplo, o ligeiro papa-léguas.
O álbum começa com a chegada do protagonista ao tal acampamento Montanha Feliz e uma explicação sobre a Teoria do Caos e o Efeito Borboleta, segundo a qual o simples bater de asas de uma borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e provocar um tufão do outro lado do globo.
Com o clichê em cima de mais clichês rolando Montanha Feliz abaixo, a classe de Getúlio tem a patricinha, o valentão, o professor carrasco e afins. Todos retratados com o cenho dos desenhos funcionais de Nesti.
O problema maior é a antipatia imediata com o Getúlio. Um garoto tão imparcial com o que acontece ao redor que, quando ele reage, soa como querer uma atenção reprimida na qual se refugia com o seu lado “punk” de curtir uma banda com o nome idiota de Sujos e Malvados.
Unidimensionais, todos os outros personagens só têm a função de humilhar o “pobre coitado” do “herói” da história.
Sem nenhuma criatividade, quando o leitor é apresentado à tal máquina de Goldberg no casebre do zelador Leopoldo, o que se vê é uma página dupla com uma longa e chata descrição abaixo, como um manual de montagem de um aparelho. Tão empolgante quanto ler um catálogo telefônico.
O enfadonho método de quadrinizar as geringonças é feito mais vezes para o desespero do leitor. Em alguns momentos, como as últimas páginas do Ato II, Barbara e Nesti mostram que poderia ser melhor.
O clímax do plano de vingança arquitetado há quase 20 anos pelo zelador é uma cópia pálida de Os pássaros, de Hitchcock, com leitura de mais manuais de montagem e zumbis de piche nada pavorosos ou engraçados.
Sem graça, forçado e sem nenhuma criatividade, A máquina de Golberg foi uma das decepções nacionais de 2012.
Como o rabugento Leopoldo diz em determinado momento: “Não é pra ser genial”.
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