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Reviews

A saga do Tio Patinhas

12 junho 2015

A saga do Tio PatinhasEditora: Abril – Edição especial

Autor: Don Rosa (roteiro e desenhos) – Originalmente em Anders And & Co. # 33 e # 45 (1992), Anders And & Co. # 2, # 11, # 18, # 24, # 29, # 30, # 31 e # 45 (1993), Anders And & Co. # 10, # 15, # 16, # 17 e # 22 (1994), Anders And & Co. # 24 (1995), Anders And & Co. # 52 (1996), Anders And & Co. # 1 e # 2 (1997), Anders And & Co. # 52 (1998), Anders And & Co. # 1 (1999), Anders And & Co. # 22, # 23 e # 24 (2006), Walt Disney Giant (1995) e Picsou Magazine # 349 (2001).

Preço: R$ 49,90

Número de páginas: 384

Data de lançamento: Março de 2015

Sinopse

O hoje quaquilionário Patinhas McPatinhas teve uma infância pobre na Escócia, mas viajou para a América para fazer fortuna. Ele vive muitas aventuras ao redor do mundo em busca de riqueza, mas alcançar esse sonho não é o fim de sua história.

Positivo/Negativo

O Tio Patinhas foi criado por Carl Barks, para a aventura Natal nas Montanhas, de 1947, estrelada por Donald e sobrinhos. Era, então, um velho tio rico e rabugento que vivia isolado do mundo em sua mansão e de quem os sobrinhos mal ouviam falar.

Mas, como tantos coadjuvantes que conquistaram status de protagonista, Patinhas mostrou carisma, voltou a aparecer e em pouco tempo estava estrelando suas próprias histórias e seu próprio gibi.

No processo, enriqueceu também em personalidade e ganhou pinceladas de um passado. As grandes aventuras estreladas pelos patos e narradas por Barks traziam uma ou outra cena rápida em que Patinhas contava um detalhe de quando era mais jovem.

Barks não tinha qualquer preocupação, nessas cenas, de estabelecer uma cronologia coerente. Apenas servia à história em questão, que sempre se passava no presente da Família Pato.

Seguidor fiel de Barks, Keno Don Rosa pesquisou essas citações, organizou-as, resolveu contradições, pediu orientações ao mestre e construiu, em 12 histórias publicadas na Dinamarca entre 1992 e 1994, uma biografia coerente para Patinhas – indo de 1877, aos 10 anos na Escócia, até seu reencontro com Donald, em 1947.

Depois, entre 1995 e 2006, ele revisitou a Saga em seis novos capítulos. Tanto a série original, quanto os extras estão nesta terceira publicação no Brasil.

O resultado é nada menos que uma obra-prima dos quadrinhos. A Disney nunca teve muito interesse em estabelecer bases sólidas para seus personagens. Eles costumavam ter sobrinhos e não filhos ou pais, nunca eram casados, seus empregos variavam conforme a necessidade da história, jamais precisavam encarar a morte de um ente querido.

Ao contrariar tudo isso, Don Rosa consolidou ainda mais Patinhas como um daqueles personagens maiores que a vida. Porque Carl Barks já o tinha transformado nisso, claro.

Don Rosa tem muita habilidade em construir os passos do quaquilionário em direção àquilo que Barks desenvolveu nos anos 1950 e 1960. E não deixa de colocar suas próprias ideias.

Como o significado da moeda número 1, que, para o autor, não é um amuleto, mas um símbolo e objeto de inspiração para Patinhas. E faz questão de mostrar como o pato conseguiu sua riqueza por meio do trabalho duro, da inteligência e da experiência adquirida ao longo dos anos; e não da sorte.

A grande cena no garimpo, no capítulo 8, é exemplar e muito trabalhada sobre essa ideia. Don Rosa mostra, passo a passo, Patinhas seguindo pistas e usando a cabeça para encontrar o veio que será o ponto de partida de sua fortuna.

A saga também resolveu dilemas e contradições. Como a família de Patinhas é pobre e ao mesmo tempo dona do castelo mostrado por Barks em O Segredo do Castelo, de 1948? Como retratar Patinhas mandando capangas atacar nativos na África, como visto em Donald na África (1949), de uma época em que o personagem ainda estava sendo desenvolvido?

O autor ignora ou aproveita fatos de maneira brilhante. No segundo caso, Don Rosa investe uma carga emocional que se vê pouco nos quadrinhos Disney. A referência à trama consolida o endurecimento de Patinhas, levando seu pão-durismo e rabugice ao ponto mais baixo e odioso, e serve para justificar o afastamento da família.

Além disso, ele também busca não repetir o que Barks já mostrou em suas histórias, cujas imagens são citadas diretamente, mas com parcimônia. Em vez disso, o que Don Rosa faz é preencher as lacunas.

A relação entre Patinhas e Dora Cintilante ilustra isto muito bem. Carl Barks, em Em Busca do Ouro (1953), apresenta a cantora de saloon como alguém do passado que o pato muquirana nunca esqueceu, e conta como ela o enganou e como ele, como lição, a obrigou a trabalhar um mês em seu garimpo. Uma trama tão memorável, que voltou como desenho animado na série Duck Tales.

Dora é vista só de passagem na parte 8, O Rei do Klondike, antes desses eventos narrados por Barks, que não são mostrados nos episódios originais. A sombra dela reverbera nos seguintes, mas não passa disso. No entanto, Don Rosa dedica dois dos capítulos extras à relação dos dois.

Primeiro, No Coração do Yukon (1995), conta o que aconteceu imediatamente após o período em que Dora esteve sequestrada por Patinhas no garimpo. E, em 2006, o quadrinhista publicou A Rainha do Vale da Agonia Branca, que finalmente é dedicada aos dias em que os dois estiveram sozinhos no garimpo.

Em conjunto, as duas aventuras dão finalmente a devida grandeza a Dora Cintilante, como uma personagem fundamental da biografia de Patinhas.

Esta saga, que em 1995 ganhou o Eisner Award de melhor história seriada, foi publicada pela primeira vez no Brasil em 2003, nas duas edições de 40 Anos da Revista Tio Patinhas, em formatinho. A edição publicou apenas dos 12 capítulos originais e tinha textos introdutórios do próprio Don Rosa para cada um deles, citando a maior parte das referências à obra de Carl Barks e explicando suas escolhas.

Depois, A Saga do Tio Patinhas ganhou uma edição em três partes (veja as resenhas aqui, aqui e aqui) e em formato 17 x 26 cm, que republicava a série original, incluiu os capítulos extras e ainda trazia duas histórias complementares que não faziam parte da saga e não constam nesta nova edição (uma delas, Uma Carta de Casa, é brilhante).

O ponto negativo era a omissão completa do nome do Don Rosa como autor, por causa de uma desavença entre o quadrinhista e a Editora Abril. Seus textos introdutórios foram republicados convertidos como de uma terceira pessoa e reunidos no final de cada volume.

Nesta luxuosa edição em capa dura, as preciosas notas explicativas são republicadas da mesma forma que na versão de 2007 (convertidas para terceira pessoa, todas no final da edição, e seguindo até a mesma programação visual). Mas a Abril se redime ao citar Don Rosa, mesmo discretamente, como o autor desta obra-prima.

O nome do quadrinhista consta no sumário e na quarta capa. É o mínimo para o roteirista e desenhista de uma obra não menos do que revolucionária no universo Disney.

Classificação

5,0

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