Aâma # 2 – A multidão invisível
Editora: Nemo – Série em quatro volumes
Autor: Frederik Peeters (roteiro e arte) – Originalmente em Aâma 2 – La multitude invisible (tradução de Fernando Scheibe).
Preço: R$ 39,00
Número de páginas: 88
Data de lançamento: Agosto de 2014
Sinopse
Verloc, Conrad e o robô gorila Churchill estão no inóspito planeta Ona (ji) com um grupo de cientistas que havia sido abandonado à própria sorte.
Após conflitos iniciais e alianças casuais, Verloc e seus companheiros se juntam à expedição que seguirá em busca de Aâma, um misterioso produto científico.
Positivo/Negativo
No meio do caminho da série, Aâma se solidifica como uma HQ estranha. Tal estranheza, porém, torna-se instigante com o ar de mistério que os personagens respiram nas suas páginas.
Ao longo da narrativa, o leitor perceberá que Frederik Peeters tenta derrubar a “quarta parede” constantemente com personagens “encarando” quem está deste lado da página (o que, na verdade, assemelha-se ao “olhar subjetivo” da câmera no cinema). Chega a ser perturbador.
Essa inserção é quebrada com as belas cenas de ação comedida e elegante, no traço do quadrinhista suíço. Depois dos acontecimentos do primeiro tomo, Verloc, junto com o seu irmão e líder da missão, o robô guarda-costas Churchill e outros cientistas partem para procurar os outros que saíram da colônia e – o objetivo principal – localizar e se apoderar de Aâma.
Logo no início, montado num dos ambuladores (transporte com tentáculos que aparece na capa da edição), o protagonista rabisca um diário falando de fragmentos de um sonho. Assim como esses devaneios, Peeters não tem presa de ser linear ou explicar o passado do personagem, muito menos revelar os mistérios que se escondem naquele planeta hostil.
Mas ele avança e descortina mais um pedaço da vida de Verloc: como ele conheceu a sua ex-mulher e como sua filha se tornou uma criança especial frente a um mundo cada vez mais tecnocrata.
Apaixonado pela cultura antiga, ele convence a esposa a ter um filho de maneira mais “natural” possível (ou “pura”, como o personagem diz), sem toda a engenharia genética assistida que o sistema onde estão inseridos exige.
Atualmente, diante de uma sociedade cada vez mais refém da tecnologia, o autor busca alusões críticas sobre o comportamento humano desde o primeiro volume, como a rejeição de quem não se enquadra nos padrões vigentes.
Outro aspecto presente nesse ponto de vista é retratado pelo irmão do protagonista, Conrad, que eleva cada vez mais seu nível de estresse quando sua busca pela Aâma foge do controle.
O abalo nervoso é devido à abstinência de não se encontrar mais conectado aos milhões de mentes na grande rede, que ficou na Terra e bombardeia um enorme fluxo de informações. Notou alguma semelhança de como hoje vivemos plugados de maneira viciante?
Aâma é uma história de rompimentos. Note que o protagonista é um homem que se desliga das parafernálias do sistema, a alta tecnologia (que salva os humanos) é representada por um primata, o casulo da microssociedade dos cientistas que surgiu para sobreviver ao isolamento num planeta inóspito é quebrado com a chegada de Verloc, além de o próprio planeta ignorar o passo evolutivo e dar um salto através da inesperada e crescente biodiversidade.
Com uma diagramação funcional, Peeters coloca em evidência seus desenhos detalhistas, seja pela concepção dos seus inventivos alienígenas primitivos, seja pelos designs de ficção científica, mais tímidos neste volume.
Entre drones semiorgânicos, mistérios desconexos e florestas que evoluíram milhões de anos em poucos meses, o autor oferece um instigante gancho para a próxima edição, com direito a requintes de horror.
A Nemo continua com a mesma qualidade do volume de estreia. Aâma # 2 – A multidão invisível tem capa cartonada sem orelhas, formato 20 x 28 cm e uma boa impressão em papel couché.
Outro ponto positivo é garantir uma regularidade no lançamento da obra. Segundo a editora, as duas últimas edições devem sair no Brasil em 2015.
Carecia apenas uma breve recapitulação do volume anterior e uma biografia do autor, para nortear o leitor da qualidade do material. Um exemplo é relatar que este segundo volume recebeu o prêmio de Melhor Série no 40º Festival de Angoulême, na França, em 2012.
Classificação