Asterios Polyp - Quadrinhos na Cia.
Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial
Autor: David Mazzucchelli (texto e arte).
Preço: R$ 63,00
Número de páginas: 344
Data de lançamento: Outubro de 2011
Sinopse
No dia de seu quinquagésimo aniversário, o professor Asterios Polyp tem sua casa destruída por um incêndio. Desnorteado e sem rumo, ele parte para o lugar mais distante que o dinheiro existente no bolso podia levá-lo.
Acaba tornando-se auxiliar de um mecânico, em uma pequena cidade. E lá começa a reconstruir sua vida, sua própria identidade e sua maneira de ver o mundo.
Entremeados com a narração de seu presente estão diversos episódios do passado, que revelam a complicada personalidade de Asterios, suas aspirações, crenças, desilusões e as razões de sua atual infelicidade.
Positivo/Negativo
Muito já foi escrito e dito a respeito de Asterios Polyp.
Considerado um dos melhores lançamentos de 2009, o livro conquistou diversos prêmios, incluindo os cobiçados Eisner e Harvey.
Trata-se de uma obra complexa e poderosa, cheia de significados que se constroem da combinação de palavras e imagens e se revelam e se desdobram nas releituras seguintes.
Ao mesmo tempo, a leitura é agradável, leve e envolvente. Diversos assuntos e temas complexos são abordados nos diálogos e na narração de modo despretensioso e espontâneo.
Talvez o grande mérito de Mazzucchelli seja justamente essa simplicidade que embala seus personagens e texto. Ele conseguiu criar uma obra profunda, com diversos níveis de leitura e possibilidades de interpretação, mas sem cair no pedantismo.
Tudo em Asterios Polyp foi cuidadosamente planejado: o layout das páginas, o estilo e técnicas de ilustração empregadas, a escolha e utilização da paleta de cores, o desenho da tipografia e balões específicos de cada personagem, a capa, o papel em que foi impresso.
De fato, não há "sobras" no livro como produto comercial e nem como obra artística. Trata-se de um trabalho de design praticamente irretocável.
Todas essas características apontam para a grande dificuldade de traduzir Asterios Polyp para o português.
A começar pelo próprio texto, que traz uma série de jogos de palavras e trocadilhos, alguns dos quais quase impossíveis de se manter na conversão entre os idiomas.
Considerando a possibilidade de acesso à edição original norte-americana, alguns leitores podem questionar se vale a pena adquirir a edição brasileira. A resposta é sim.
Comparando as edições lado a lado, a diferença que salta aos olhos é a capa.
Na original, pela Pantheon, a capa dura é embalada por uma sobrecapa de papel comum, impresso colorido, contendo o título da obra, o nome do autor, imagens de Asterios Polyp e elementos gráficos.
Debaixo dessa jaqueta, há uma lombada revestida por um papel texturizado da cor violeta, que se estende até a metade da capa, deixando exposto um papelão espesso e sem revestimento, com as imagens de Asterios Polyp impressas em baixo relevo na frente e verso do volume.
Dentro do livro há folhas de guarda ilustradas por diversas flores: uma alusão clara à personagem Hana. A inversão da aplicação de cores (ciano e magenta) entre as folhas de guarda que abrem e as que encerram o álbum também possibilitam interpretações ao leitor.
Por razões editoriais, a capa da versão brasileira é flexível, feita em papel encorpado, que reproduz fielmente os elementos da sobrecapa original.
Embora a capa de papelão e as folhas de guarda tenham se perdido na edição da Quadrinhos na Cia., é impressionante a qualidade gráfica do interior do livro.
O papel é do mesmo tipo da edição norte-americana. A fidelidade das cores é extraordinária, tornando o idioma praticamente a única forma de distinguir as páginas.
A experiente Lilian Mitsunaga é a responsável pela ótima composição, que reproduz detalhadamente as diversas fontes tipográficas empregadas por Mazzucchelli na obra.
A tradução do texto ficou por conta de Daniel Pellizzari, que contornou com destreza os desafios do original e preservou praticamente toda a riqueza de interpretações.
Apesar das diferenças entre as capas, a Quadrinhos na Cia. realizou um excelente trabalho editorial, trazendo a obra para o alcance de diversas pessoas que não dominam o idioma inglês e tratando-a com todo o cuidado que ela merece.
Asterios Polyp é uma história de amor, mas também sobre arte e impulso criativo, transformação, relacionamentos, tristeza e vazios impossíveis de preencher. Sobre ficar em paz consigo mesmo.
Uma verdadeira obra-prima que merece ser lida e relida e cujos significados ultrapassam os limites de um idioma. E ficam ainda mais saborosos conhecendo algumas minúcias, como as mencionadas na resenha do álbum norte-americano, assinada pelo jornalista Delfin.
Classificação