Batman - A Piada Mortal - Edição Especial
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: A piada mortal (originalmente em Batman - The killing joke) - Alan Moore (texto) e Brian Bolland (arte);
Sujeito inocente (originalmente em Batman - Black and White # 4) - Brian Bolland (texto e arte);
HQ sem título (originalmente em Batman # 1) - Bob Kane (texto e arte).
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Março de 2009
Sinopse
O Coringa foge do Asilo Arkham, aleija a Batgirl Bárbara Gordon e sequestra seu pai, o Comissário Gordon, armando literalmente um circo de horrores.
Positivo/Negativo
Uma característica comum das grandes obras é a quantidade de vezes releituras que elas permitem.
E "releituras", aqui, é uma palavra que tem propositalmente duplo sentido.
Um deles diz respeito ao leitor, que frui a obra quantas vezes quiser e sempre vai topar com um detalhe antes ignorado, uma ideia perdida até então ou uma abordagem que tinha passado batida.
Há também a releitura feita pelos criadores - sejam eles os autores originais ou novos artistas que interferem na obra. Uma peça de Shakespeare, por exemplo, é sempre a mesma peça, mas cada uma teve diversas releituras pelas mãos de centenas de artistas.
Pois esta edição é uma reafirmação de que A piada mortal é uma grande obra - e uma das melhores histórias de Batman de todos os tempos.
O próprio autor da obra contestaria. Alan Moore considera a HQ um trabalho menor. Diversos críticos concordariam com ele. Nos últimos anos, os ecos desse discurso reduziram a força de A piada mortal.
Claro que Moore e os críticos têm razão: na bibliografia do roteirista inglês, A piada mortal dificilmente ocupa os primeiros lugares. Mas sua obra é vasta e de altíssima qualidade. Mesmo entre seus trabalhos menores há quadrinhos excepcionais - e é aí que esta graphic novel deve se situar.
Há um equívoco na noção de que A piada mortal é uma HQ superestimada. E essa ideia precisa ser desfeita.
A nova edição brasileira de A piada mortal é uma ótima ocasião para retificar o erro. Isso porque, a rigor, se trata de uma HQ diferente das publicações anteriores. Trata-se da versão nacional da nova edição norte-americana. Além de ter vários extras, a grande diferença está nas cores. A graphic novel foi recolorida por Brian Bolland, que substituiu o trabalho original de John Higgins. Bolland também aproveitou para retocar a arte - basicamente alterando alguns detalhes.
A nova paleta tem tons mais contidos e sombrios. Contam-se nos dedos os amarelos e os vermelhos. É mais elegante, mais cool e, acima de tudo, tem mais a ver com o que nosso olho se acostumou a reconhecer como bom gosto nos últimos anos.
Entretanto, se tivesse sido o colorista original, dificilmente Bolland usaria a mesma paleta desta versão contemporânea. Afinal, as cores de Higgins - amarelos com roxos, por exemplo - são típicas dos gritantes anos de 1980.
O resultado é que, depois da nova edição, não surgiu uma nova A piada mortal. Há, isso sim, duas versões - aliás, duas leituras.
As duas graphic novels são, de certo modo, como a obra do artista bauhausiano Josef Albers. Ao longo da vida, ele pintou a série Homenagem ao quadrado, com incontáveis quadros, todos mostrando quadrados envoltos por quadrados. De um para outro, mudavam apenas as cores - mas, como Albers bem observou, alterando as cores, tudo mudava. Não havia combinação melhor ou pior - todas estavam certas e queriam dizer alguma coisa.
As duas Piadas mortais são assim: não há uma melhor que a outra. Há uma HQ em duas versões - e cada uma dá um sentido para a obra.
Higgins, por exemplo, é mais orgânico que Bolland - e isso funciona muito bem para mostrar a insanidade do Coringa no passeio de montanha-russa. O interrogatório no porão do Arkham, amarelado na versão antiga, também tem seu charme.
Bolland, por sua vez, tem a seu favor a proximidade com a paleta que se usa atualmente: menos histriônica, mais dark. Ao olho do leitor contemporâneo, é também mais familiar.
Assim como esconde as marcas oitentistas da graphic novel, a nova versão revela detalhes que estavam escondidos.
A edição também cria a oportunidade de uma releitura - aqui, como tarefa do leitor.
E é aí, mais uma vez, que A piada mortal surpreende. Por mais que tenha sido lida e relida, a história ainda tem o que dizer. Suas dubiedades se reafirmam. Demências antes obscuras, como o trono de bebês de plástico, são reveladas pelas novas cores. Ao reler, o leitor encontra outra história.
Dá vontade até mesmo de ver como outros artistas dariam cores à obra. Como seria A piada mortal chapada de Mike Allred? E a pintada por Alex Ross? Ou mesmo uma versão aquarelada ou com degradês forçados de Photoshop?
As possibilidades que esta edição oferece já seriam motivo suficiente para que o leitor se sinta obrigado a dar uma passada de olho na HQ. Mas o álbum ainda traz extras: páginas de rascunhos, textos sobre a obra, a primeira história do Coringa e ainda uma HQ de Batman feita por Bolland - originalmente publicada em preto e branco, mas agora mostrada em cores.
A única mancada é um erro na citação do diretor de cinema Tim Burton justamente na capa: o correto seria "O primeiro gibi de que gostei". Mas o miolo compensa, assim como o preço: R$ 19,90, bastante em conta para uma edição em capa dura com 80 páginas de papel couché.
Classificação
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