Black Hole
Editora: Darkside – Edição especial
Autor: Charles Burns (texto e arte)
Preço: R$ 69,90
Número de páginas: 368
Data de lançamento: Outubro de 2017
Sinopse
A puberdade e a descoberta do sexo e das drogas em um ambiente de terror. Em uma pequena cidade, os adolescentes convivem cada vez mais com estranhos acontecimentos envolvendo seus colegas, a partir de uma doença incurável e monstruosa pode afetar qualquer um que tenha transado com uma pessoa infectada.
Algumas manifestações da doença são sutis e podem facilmente ser escondidas por baixo de casacos. Outras deixam sequelas tão fortes, que a única saída é se autoexilar na floresta.
Positivo/Negativo
Black Hole é uma história de terror e suspense como há muito não se vê. Charles Burns consegue grudar os olhos do leitor a cada página, e promove uma leitura tensa do começo ao final do livro.
Como na grande maioria das histórias norte-americanas do gênero, esta também se passa em uma pequena cidade, nos arredores de Seattle. Afinal, em lugares assim sempre há uma floresta ao redor. E é nela que se reúnem os párias, os renegados da sociedade.
A diferença na obra de Burns é que esses párias são adolescentes, e não se isolam porque assim desejam. A questão aqui é de ordem epidêmica.
Toda a trama gira em torno de uma doença infecciosa sexualmente transmissível. A questão é que ela é incurável e deforma o corpo de suas vítimas. Em alguns casos, as mudanças são sutis, em outros é grotesca.
E cada manifestação da doença é ímpar. Não há como saber o que ela fará com este ou aquele indivíduo.
Não se pode esquecer também que a doença infecta adolescentes, que estão no momento mais confuso de suas vidas. Então, é constante o abuso de drogas e álcool, além do já mencionado sexo desregrado.
Além disso, as típicas confusões com o gênero oposto também são exploradas aqui. Amores, traições e corações partidos compõem o cenário implementado por Burns, que pega como elemento central um casal que descobre o amor, apesar das adversidades que a doença traz para ambos.
Essa descoberta, que poderia ser linda e leve, ganha contornos sombrios em uma obra de terror. E os amantes não estão sozinhos no mundo.
A história é claramente uma alusão à epidemia de AIDS nos anos 1980 e 1990. Burns iniciou a sua trama pouco antes do lançamento nos Estados Unidos, que aconteceu em 12 capítulos, de 1995 a 2005. Ou seja, por volta de 1993 e 1994, o espectro da doença ser fatal ainda estava muito presente no imaginário mundial, bastando lembrar que a morte de um grande ícone musical vitimado pela doença – Freddie Mercury – se deu em novembro de 1991.
Aqui no Brasil, o também ídolo musical Renato Russo se foi em outubro de 1996, durante a publicação original da história, comprovando que a morte ligada ao sexo estava abundantemente sendo noticiada e temida por adolescentes e adultos.
Charles Burns ainda faz sua história se passar nos anos 1970, quando a busca pelo sexo livre era tão grande quanto pelas novas formas de expansão da mente por meio de substâncias psicotrópicas. Essa junção torna-se mortal na trama aqui contada. Como conter jovens com tesão e curiosidade?
O desenho de Burns tem muito dos comix de Crumb, Deitch e outros artistas underground. Seu traço preto e branco cheio de hachuras casa muito bem com a tensão que ele impõe à história. Além disso, as mutações impostas pela doença são uma atração à parte no seu traço: rabos, bocas no meio do pescoço ou feridas purulentas parecem assustadoramente normais.
Do ponto de vista desta segunda versão brasileira (a Conrad publicou Black Hole em dois volumes, em 2007 e 2008), não há um só ponto falho. Capa dura, papel com gramatura alta, contraste alto e fidelidade ao original. A única coisa que talvez pudesse existir seria alguns extras, como uma entrevista com Burns ou sketches. Mesmo assim, não diminui em nada o primor da edição.
Classificação
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