Blue Note
Autores: Biu (texto e roteiro) e Shiko (arte e roteiro).
Preço: R$ 30,00
Número de páginas: 104
Data de lançamento: 2007
Sinopse
Um personagem vai de Rio Tinto a João Pessoa. Com ele, uma grande história.
Positivo/Negativo
Blue Note é um desafio.
A história de Biu e a arte de Shiko parecem olhar sarcasticamente na cara do leitor: "Não tá entendo, né? Então, para de tentar entender e curte".
Não, não se trata de uma HQ sem sentido, em que a trama seria só uma desculpa para Biu colocar seu texto e Shiko mostrar sua arte. Mas é um álbum que pede ao seu leitor uma expectativa e resposta diferente.
Diferente do quê?
Até explicar sobre a HQ é um desafio. Blue Note não quer ser lida como uma narrativa bem amarrada, que obscurece e esclarece pontos da trama durante o seu desenrolar.
E o termo é este: a HQ "não quer".
A história se monta com diversos modos de narrativa textual (primeira pessoa com balão, recordatório, diálogos, textos pela página) e visual (ícones, expressões, colagem).
Os personagens se confundem uns com os outros, nas idas e vindas do tempo narrativo, que é sinuoso, causa tontura e diverte.
Alguns leitores de Blue Note veem relações com ideias da física quântica, múltiplas realidades e viagens no tempo. E não dá pra dizer que eles estejam errados, é uma leitura possível.
Mas não é a única. Há muitas leituras para o álbum. O movimento do leitor é concluir a leitura e voltar a folheá-lo, buscando confirmar ou reconstruir opções, ressignificando entendimentos.
Essas múltiplas opções, derivadas de uma fragmentação de tempo da história e de diversos outros recursos narrativos, amarram-se a um catatau de referências, que vão desde Lourenço Mutarelli e Mundo Livre S/A, até cenas de filmes como Amarelo Manga e Cinema, Aspirinas e Urubus, sem falar nos próprios autores, que também fazem uma pontinha - Shiko surge como freguês do bar e Biu é o atendente no balcão.
O próprio título é referência a um tipo de nota musical que traz um tom mais melancólico à música.
E as leituras variam tanto quanto a capacidade do leitor de amarrar essas referências e o quanto elas significam para ele. Dentro dessa multiplicidade toda, fechar a narrativa se torna uma opção menor.
Além de tudo isso, cabem muitos elogios à arte de Shiko e ao texto de Biu. E ambos são tão fantásticos porque contribuem pra criar essa experiência de leitura.
O único porém da obra é a dificuldade de o leitor encontrá-la à venda, já que foi feita de modo independente, com dinheiro de um edital do Governo da Paraíba. Valeria (muito) alguma editora apostar numa segunda edição desse grandioso material.
O desafio da obra de Biu e Shiko é não se fechar em uma opção, é não encerrar a leitura quando termina o álbum; o desafio é continuar a lê-lo, mesmo quando o material já foi pra estante.
Classificação