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Cadernos de viagem – Anotações e experiências do psiconauta

9 dezembro 2016

Cadernos de viagem – Anotações e experiências do psiconautaEditora: Devir – Edição especial

Autores: Laudo Ferreira (roteiro e arte) e Omar Viñole (cores).

Preço: R$ 34,90

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Outubro de 2016

Sinopse

Psiconauta significa “navegador da mente”, uma pessoa que usa estados alterados da consciência para encontrar respostas para questões espirituais e pessoais. É dentro deste princípio, por meio de práticas xamânicas, que Miguel busca sua cura pessoal.

Ele revisita sua vida desde a infância até a maturidade, passando por situações adversas, como crise profissional e pessoal, envolvimento com drogas e o encontro com a arte, tudo permeado pela busca de um entendimento com a figura paterna.

Positivo/Negativo

Ao observar as feições do protagonista deste álbum, pode-se comparar com a foto que fica ao lado do resumo biográfico de Laudo Ferreira, na última página. Tirando o nome do personagem, Miguel, e sendo fortalecido pelo prefácio do quadrinhista André Diniz, sabe-se que essa breve história tem uma aproximação com a realidade, nas devidas proporções referentes à vida do autor.

Sem a intenção de querer adivinhar o que é ou não biográfico de fato, o personagem/autor busca um acerto de contas com o passado construído por um pai que prefere passar "afeto" de modo distante e severo. Quando Miguel tinha dez anos e sonhava ter um boneco barbudo, no estilo Falcon, seu pai já o criticava duramente por esses desejos naturais de criança.

Diante do silêncio de passividade da mãe, esse brinquedo ganha um simbolismo igual à grande árvore que o personagem encontra numa andança depois dos rituais xamânicos encorajados pela esposa.

Esse escaneamento espiritual herdado pelos povos indígenas ganha dimensões dickenianas na vida de Miguel e seus "assuntos pendentes", iluminando o caminho da compreensão e perdão em forma de um ciclo. Afinal, a educação passada de pai para filho se dá em como uma é percebida pela outra e em como é repassada para a nova geração.

Simples e direto, Cadernos de Viagem faz transparecer a honestidade citada por André Diniz na introdução. Inclusive, de certa forma, o amigo que assina o prefácio também fez uma obra terapêutica semelhante, na qual revisita não só a infância, como também outras encarnações em 7 Vidas (lançado pela Conrad, em 2009), HQ com arte do Antonio Eder.

Cadernos de viagem foi um dos selecionados no ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo de 2015. A edição da Devir tem formato 17 x 26 cm e capa cartonada, sem orelhas.

Com um traço bem mais solto do que o visto em Yeshuah, os desenhos ganham densidade nas fortes e vibrantes cores (ajudadas pelo papel couché) do parceiro Omar Viñole, que dialogam com o clima das reminiscências de Laudo.

No tocante de Yeshuah, também existe uma conversação – a seu modo – entre os trabalhos. Não de forma doutrinária ou partidária, mas na lente espiritual para um caminho do crescimento do indivíduo. Percebe-se a intenção do quadrinhista em documentar seu testemunho, não persuadir o leitor a concordar ou aceitar seus meios para a investigação imaterial.

Dentre as passagens interessantes e curiosas do relato, há um aviso do prazo de entrega do próprio Cadernos de viagem no quadro do estúdio de Miguel e a reflexão sobre o conceito que tudo do nosso mundo físico tenha que passar pelo filtro emotivo da nossa mente.

Assim, as barreiras da ficção e realidade podem ser simplesmente ignoradas nesse recorte biográfico. São realmente anotações de um psiconauta.

Classificação

3,0

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