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Caravaggio - A morte da virgem

3 julho 2015

Caravaggio - A morte da virgemEditora: Veneta – Série em dois volumes

Autor: Milo Manara (roteiro e arte) – Originalmente publicado em Le Caravage - Tome 1 - La palette et l'épée (tradução de Michele Vartuli).

Preço: R$ 59,90

Número de páginas: 64

Data de lançamento: Maio de 2015

Sinopse

Um homem aclamado por sua arte, mas atormentado por seus demônios interiores, Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) dividia seu tempo entre a vida nos palácios do Vaticano, bebedeiras em bordéis e temporadas na prisão.

Usava prostitutas, mendigos e camponeses como modelos para expressar figuras sacras nas suas pinturas, não temia ofender as autoridades e envolveu-se em diversos duelos.

Positivo/Negativo

Se fosse para comparar a intensidade vivida por um dos maiores pintores da História, Caravaggio poderia ser considerado um verdadeiro popstar na sua época.

Contornado com violência (não tanta quanto apresentada nos volumes de Bórgia, escrita pelo seu grande parceiro, Alejandro Jodorowsky) e erotismo, o conterrâneo Milo Manara acerta o tom usado para contar a trajetória do artista explosivo que era homônimo de um renomado pintor – Michelangelo –, mas acabou adotando o nome da aldeia natal da sua família.

O impacto das pinturas de Caravaggio residia na dramaticidade do uso da luz e sombras. Como bom rebelde que nadava contra a corrente do sistema vigente quatro séculos atrás, a notoriedade do seu trabalho também dependia do povo, sobretudo prostitutas, camponeses e mendigos – os modelos para suas realistas pinceladas sacras.

Sem ser didático ou pedante, Manara mostra o artista nascido em Milão chegando a Roma no final do Século 16, pegando carona na carroça de um camponês apenas com seu talento e suas futuras polêmicas como bagagem.

Dentre suas algazarras etílicas, que quase sempre resultavam ficar de molho atrás das grades de Tor di Nona, Caravaggio criava obras como o tríptico sobre a vida de São Mateus na Igreja de São Luís dos Franceses (1599-1600), A crucificação de São Pedro (1600), o enterro de Jesus (1602-1603) e A morte da Virgem (1602), que serviu como batismo deste primeiro volume da edição nacional (no original, o subtítulo chama-se A paleta e a espada, em tradução livre).

O quadrinhista alinha seu traço sempre respeitando o estilo do pintor barroco. Mesmo sendo uma interpretação baseada num vasto material bibliográfico (em italiano, francês e inglês) apresentado no final do volume, Manara oferece suas liberdades poéticas, a exemplo do fascínio do protagonista pela luz que interage no corpo nu de uma prostituta no bordel.

A aproximação com os quadros originais caravaggescos impulsionam o leitor a pesquisar e a descobrir mais sobre a vida e obra desse importante artista. Fora da temática sacra, Narciso (1594-96) e Cabeça de Medusa (1597) estão entre os seus trabalhos mais conhecidos.

Como todo popstar que se preze, Caravaggio passou pelo desdém do seu talento, chegando a se humilhar pintando guirlandas em grandes ateliês de Roma e sendo criticado (e levando coices, literalmente) por outros profissionais quando caiu nas graças do cardeal Del Monte, que lhe ofereceria “carta branca” para portar espada e arrumar mais confusões na sua procura por modelos no submundo dos prostíbulos.

Interessante notar que o autor não explora a crença de que o personagem principal seria homossexual. Essa indagação aconteceu quando o pintor Giovanni Baglione (1566-1643), depois de ser alvo de um poema satírico do rival, processou Caravaggio e o acusou de ser homossexual, um “crime” grave na época, punido até com a morte.

A única menção de Manara a Baglione é justamente quando o artista critica, ao lado de outro pintor, Federico Zuccar (1542-1609), os quadros na Igreja de São Luís dos Franceses. Baglione chegou a retratar o Demônio com as feições de Caravaggio na sua obra Amor Sagrado versus Amor Profano (1602).

A posição do clero também não ficava para trás, sempre com olhar torto sobre as escolhas dos modelos entre os populares para representar santos e criaturas angelicais. Alguns detalhes de como Caravaggio simbolizava a “humanização” do sagrado são colocados por Manara no álbum.

Retratar santos mortos ou sem as suas habituais túnicas, oferecendo rostos que podiam ser reconhecidos na multidão. Tudo isso garantiu o sucesso de boca em boca do atormentado personagem, lotando as igrejas onde suas obras eram expostas.

Apesar das “musas” do protagonista servirem para Manara desnudar a sua marca registrada e garantir o erotismo no álbum, as caracterizações arquitetônicas nas páginas de Caravaggio – A morte da virgem também impressionam.

A Ponte Salario, a prisão de Tor di Nona e a Porta Nevia da Muralha Serviana são algumas das belas paisagens que remetem ao detalhado contexto histórico pesquisado pelo quadrinhista, além de lembrar os desenhos de outro italiano que apareceu após Caravaggio, Giovanni Battista Piranesi (1720-1778).

A Veneta caprichou no trabalho da edição que teve o Brasil na rota do seu lançamento mundial, ao mesmo tempo da Europa, Estados Unidos e Japão.

O volume apresenta um prefácio assinado pelo historiador de arte Claudio Strinati, formato 24 x 31 cm (praticamente as mesmas dimensões da Europa), capa dura e papel couché de alta gramatura e excelente impressão.

Dos trabalhos solos mais significativos de Milo Manara, Caravaggio – A morte da virgem só perde para Rever as Estrelas, obra na qual o italiano expressa todo o seu amor pelas artes e que teve uma edição portuguesa pela Meribérica Liber e uma versão nacional dentro do número 22 da revista Heavy Metal (ambas lançadas em 1998).

Classificação

4,5

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