D. João Carioca - A Corte Portuguesa Chega ao Brasil 1808-1821
Editora: Cia. das Letras - Edição especial
Autores: Spacca e Lilia Moritz Schwarcz (roteiro) e Spacca (desenhos).
Preço: R$ 33,00
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Novembro de 2007
Sinopse
No ano de 1807, o imperador francês Napoleão Bonaparte ameaçava conquistar toda a Europa ocidental.
Sem poder, por vários motivos, travar uma guerra contra Napoleão, o príncipe regente de Portugal, D. João VI, decide tomar uma atitude inédita e transferir toda a sua corte para o Brasil.
Pouco tempo depois da chegada em 1808, um decreto de D.João eleva o Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarves. Mesmo depois que os franceses foram expulsos de Portugal, o príncipe preferiu continuar nos trópicos, na cidade do Rio de Janeiro que tanto lhe agradou.
Acomodou-se de tal maneira que virou um "João carioca", personagem popular da nossa história e brasileiro como ele só.
Positivo/Negativo
Em 2008 são comemorados os 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil, fato que desencadeou muitas outras passagens importantes (e até inusitadas) da história do País.
Na maioria das vezes, D. João foi retratado de forma muito depreciativa, como um verdadeiro bobo guloso que não se interessava por governar seu país devidamente e, por isso, foi obrigado a fugir para o Brasil quando a situação já estava fora de controle.
Desde a comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, porém, essa representação do regente português tem sido contestada por historiadores importantes, como Boris Fausto.
O que as pesquisas mais recentes mostram é que D. João estava bem atento à delicada situação política de Portugal, que se via no fogo cruzado da disputa entre as duas grandes potências européias da época, França e Inglaterra. Uma condição muito delicada, que exigia mais astúcia e jogo de cintura de um regente do que simplesmente força e bravura.
Assim, na concepção de Spacca, D. João se torna praticamente um protótipo de brasileiro, que faz daquilo que ainda viria a ser o famoso "jeitinho" uma excelente manobra diplomática e militar. E dessa manobra surge um país sem igual na história da humanidade, uma colônia que se tornou metrópole e, em seguida, uma monarquia independente na América do Sul.
Apesar de tudo isso, Spacca não deixa de mostrar os equívocos, conflitos e complicações da vinda da corte portuguesa ao Brasil, tanto para os habitantes de cá, quanto para os de lá, que ficaram ainda tendo que lutar contra as tropas de Napoleão Bonaparte. Com uma narrativa afiada, o quadrinhista insere sempre diferentes pontos de vista sobre cada fato, de forma que das contradições entre eles surja o humor.
Longe de se deixar levar pelo didatismo, Spacca faz desse período histórico agitado uma rica fonte de reflexão sobre diversas questões que até hoje fazem parte do dia-a-dia do brasileiro, como certas atitudes dos governos em nome do "progresso". Ainda é um álbum de humor, mas humor inteligente e crítico.
Os desenhos de Spacca são outro ponto alto do álbum. O artista combina com mestria um traço caricato e expressivo e cenários bem detalhados. Muitos quadrinhos são releituras de quadros históricos de artistas famosos daquele período, como Debret.
A edição ainda traz uma cronologia com os acontecimentos mais importantes que influenciaram na trajetória da corte portuguesa no Brasil e uma rica galeria de esboços de Spacca, com comentários (bem divertidos) e fotos das referências usadas pelo artista durante a produção do álbum.
Outra idéia muito boa e que ajuda bastante na leitura foi colocar pequenos "retratos" dos principais personagens nas contracapas, com os respectivos nomes. Como são muitos, isso ajuda a lembrar quem são e de que lado estão nas intrincadas questões políticas da história.
O projeto também rompeu as barreiras dos quadrinhos e se tornou uma animação do canal deTV Futura. Inicialmente, a produção foi ao ar como uma série de curtas no meio da programação e, recentemente, foi exibida na íntegra.
Classificação