Demolidor - Revelado
Editora: Panini Comics – Série em quatro volumes
Autores: Brian Michael Bendis (roteiro), Alex Maleev, Manuel Gutierrez e Terry Dodson com Rachel Dodson (desenhos), Matt Hollingsworth (cores) – Originalmente em Daredevil (2001-3) # 26 a # 40 (tradução de Marcelo Soares e Fernando Lopes).
Preço: R$ 92,00
Número de páginas: 352
Data de lançamento: Junho de 2015
Sinopse
Alguém está oferecendo um prêmio pela cabeça de Wilson Fisk, o Rei do Crime… e do advogado cego Matt Murdock, vulgo Demolidor.
O misterioso sujeito conhecido como Sr. Silke inspira os tenentes de Fisk a se rebelarem e derrubarem o chefão.
Qual será a relação entre a queda do mafioso e o prêmio pela vida do alter ego do Homem sem medo? E o alvo pintado sobre o herói fica ainda maior quando um jornal de Nova York expõe a sua identidade secreta estampada na primeira página, colocando não apenas o próprio Murdock, mas também seus amigos na mira de todos os inimigos.
Não bastasse o novo escândalo, Murdock aceita ser o advogado de defesa do Tigre Branco, super-herói acusado de matar um policial quando evitava um roubo.
Positivo/Negativo
Não é novidade que a tragédia persegue o Demolidor. Mesmo com um ar mais bem-humorado atualmente, na fase de Mark Waid (publicada também pela Panini), há sempre a marca dramática que vem desde as origens da ampliação de suas percepções sensoriais e a consequente perda de visão.
Basta lembrar do pesadelo das constantes perdas das amadas – com o suicídio de Heather Glenn ou o brutal assassinato de Elektra – e uma das grandes sagas do personagem: A queda de Murdock, de Frank Miller e David Mazzucchelli (dentre as várias republicações, recentemente encadernado pela coleção da Salvat).
A “descida ao inferno” do Demolidor arquitetada pelo Rei do Crime, que descobriu a identidade secreta com Karen Page (outra grande perda do herói, vale relembrar), foi uma vingança “velada”, sem consequências públicas até a fase de Bendis e Maleev.
A antológica volta de Miller ao personagem nos anos 1980 é justamente a espinha dorsal de toda a passagem da dupla, que começa neste calhamaço em capa dura reunindo as 15 primeiras histórias.
Recapitulando, toda essa fase cobre 49 edições norte-americanas do título Daredevil (de 2001 a 2006), do número # 26 até o # 81 (com um hiato inédito no Brasil entre as edições # 51 e # 55, centrado na personagem Eco, por David Mack).
No Brasil, a saga saiu nos títulos mensais Hulk & Demolidor (# 1 a # 12) e Demolidor (# 1 a # 35), ambos pela Panini.
A cadência e naturalidade de monólogos e diálogos de Bendis são os destaques, junto com a arte fotográfica e “suja” de Maleev, um matrimônio bem acertado na HQ. O desenhista, inclusive, sabe muito bem usar os “atalhos” gráficos de repetições das imagens e ditar o ritmo nas diagramações.
A ação fica sendo a coadjuvante na série, dando lugar aos conflitos emocionais na nova bagunça da vida do herói. Uma exceção é a terceira HQ, que faz parte do evento “Mês do Silêncio” (Nuff Said, no original), quando todos os títulos da Marvel aboliram o uso dos balões de fala na época, em respeito às vítimas do trágico 11 de Setembro de 2001.
No primeiro arco do encadernado, intitulado O Segundo Homem, o Rei do Crime se encontra cego em virtude da vingança de Eco (vista por aqui na revista Marvel 2002). Bendis começa a armar o mote para a série com bons personagens coadjuvantes, como o pé-rapado, porém ganancioso, Sr. Silke e o “zero à esquerda” Richard, filho de Wilson Fisk.
Com a lábia de uma serpente bíblica, Silke prepara a conspiração teatralizada pelos tenentes do Rei, com direito a citação (forçada para a dramaticidade) da obra do grego Plutarco (46 d.C. – 120 d.C.) em relação ao famoso complô conta o Imperador Júlio César (100 a.C. – 44 a.C.).
Quem também sobressai é a tenacidade de Vanessa, mulher de Fisk. O ponto alto é o diálogo com o filho e a sequência digna de trilha de Nino Rota para o filme O Poderoso Chefão (1972).
Já no segundo arco, que leva o nome do volume, o pior pesadelo do Demolidor é concretizado na primeira página de um jornal nova-iorquino. Com a identidade secreta revelada, a manchete coloca não apenas Matt Murdock, mas também todos os seus amigos na mira dos holofotes da mídia e da sede de vingança dos criminosos.
O caminho para esse furo chegar às bancas, a utilização de vilões de segunda (algo comum nos roteiros de Bendis) e as reações da concorrência jornalística – tanto de um certo editor com bigodinho à la Hitler e do repórter investigativo Ben Urich – são os destaques de Revelado.
Por fim, em O Julgamento do Século, sai o rebuscado traço “sujo” de Maleev e entra a arte funcional de Manuel Gutierrez (de Justiceiro Max) e Terry Dodson com arte-final da esposa, Rachel (casal responsável pelos desenhos de Homem-Aranha – Caído entre os mortos).
Funciona como uma espécie de interlúdio: Tigre Branco (outro personagem obscuro resgatado por Bendis) é acusado de matar um policial. Luke Cage e Punho de Ferro pedem a intervenção de Murdock como advogado de defesa, no meio do turbilhão que se tornou a vida do Homem sem medo.
O roteirista aproveita o uso da retórica no tribunal para desfilar super-heróis como depoentes especialistas, “alfinetadas” da promotoria relembrando a situação da defesa fora do julgamento e as falhas do sistema judiciário.
Interessante notar também que Bendis, logo no início, não quis deixar dúbias as atitudes do Tigre Branco na hora do roubo seguido do assassinato de um homem da lei. Ele alinhava as situações para um desfecho dramático. Sem ter nenhuma consequência para os arcos futuros, é um interlúdio bem feito de uma HQ de tribunal.
Completam o álbum luxuoso da Panini em capa dura e papel couché um prefácio assinado pelo editor no Brasil, Paulo França, e uma galeria das capas originais do título, apenas como material extra.
No “anteriormente”, uma recapitulação das origens do herói, sem se atentar para detalhes que viriam a enriquecer a trama, a exemplo do motivo da cegueira do Rei do Crime. Mas isso não chega a atrapalhar o desenrolar da narrativa.
Demolidor – Revelado é o pontapé inicial de uma das melhores fases do personagem criado por Stan Lee e Bill Everett, ao lado de nomes como Miller e Mazzucchelli, Nocenti e Romita Jr., Brubaker e Lark, Waid, Martin e Rivera, dentre outros.
Classificação
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