Dora (Zarabatana)
Editora: Zarabatana - Edição especial
Autor: Ignacio Minaverry (texto e arte).
Preço: R$ 55,00
Número de páginas: 168
Data de lançamento: Maio de 2012
Sinopse
Berlim Ocidental, 1953. Dora é uma garota judia que trabalha num centro de documentação. Sua função é catalogar o acervo confiscado dos nazistas - o que é só o primeiro passo de uma aventura que acaba com a perseguição aos aliados de Hitler refugiados na América Latina.
Positivo/Negativo
Dora, do argentino Ignacio Minaverry, corre o risco de passar batida. O ano está, mais uma vez, cheio de ótimos lançamentos, e um álbum de um argentino pouco conhecido por estas bandas pode acabar ficando de lado, saindo da lista de prioridades dos leitores. Seria uma pena se isso acontecesse, pois a história tem um vigor próprio, com uma veia política que não é usual nos quadrinhos.
A força da HQ vem de um contraste. De um lado, está o contexto. E não é qualquer contexto.
Não foi um tempo fácil. A Segunda Guerra havia destruído a Europa, e foi não só com bombardeios. Hitler havia feito o Holocausto, e a civilização se deu conta de que a barbárie estava mais próxima do que se podia imaginar.
Em 1953, quando Dora começa, Berlim tinha sido capital dos nazistas e, portanto, foi atacada com vigor pelos inimigos de Hitler. Desde o fim da guerra, a cidade estava dividida em quatro partes: uma americana, uma britânica e uma francesa (que formavam o bloco ocidental) e uma soviética. (Em tempo: o famigerado muro só seria erguido em 1961.)
É muita dor, muita culpa, muita tensão. Tudo pesa demais.
Esse contexto se torna cenário da HQ, e vai contrastar com Dora, a protagonista.
Ela não só é judia, mas ganhou seu nome por causa do campo de concentração para o qual seus pais foram levados, Dora-Mittelbau - pra nunca esquecer de onde veio.
Só que Dora também é uma garota. É leve. Quer se divertir. Está descobrindo o sexo. Tem umaroommate. Pensa em viajar o mundo.
A arte de Minaverry, aliás, tem tudo a ver com essa garota. Tem traços claros e suaves, e uma pegada dos quadrinhos independentes norte-americanos. Como se fosse um irmão Hernandez perdido, ou um Adrian Tomine radicado nos pampas.
A mesma Dora com dramas adolescentes é também uma garota perdida, que tenta entender a complexidade de seu mundo chafurdando nos documentos nazistas do seu trabalho.
Seus caminhos não são lineares e nem previsíveis. Mas levam à Argentina, onde a garota busca por um nazista.
Dora é uma exploradora do mundo, e essa mesma exploração está nítida na HQ. Minaverry propõe ao leitor algumas experimentações leves na linguagem ao incorporar trechos de documentos alemães na narrativa, usar cor pontualmente em algumas páginas e fazer transições de capítulos com colagens.
O resultado é consistente e eficiente. Se não chega a ser uma obra-prima, tem sua importância: é um representante contemporâneo do quadrinho político, um gênero central para as historietas argentinas.
Classificação