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É UM PÁSSARO...

1 dezembro 2012

É UM PÁSSARO...

Editora: NewPop - Edição especial

Autores: Steven T. Seagle (roteiro) e Teddy Kristiansen (arte) - Originalmente em It's a bird….

Preço: R$ 39,00

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Julho de 2012

 

Sinopse

Escrever quadrinhos é a profissão de Steven. Mas quando lhe oferecem a oportunidade de escrever o título mensal do Superman, ele reluta muito em aceitar.

Para Steven, Superman não é apenas um personagem bobo em que não consegue acreditar. Mais do que isso, o "Homem de Aço" também é parte da chave para um perturbador segredo do escritor.

A decisão de aceitar ou não o cargo de roteirista de Superman se entremeia com uma revisita forçada de Steven ao seu passado e as razões de sua aversão ao personagem.

Positivo/Negativo

Embora lançada pelo selo Vertigo, da DC Comics, e baseada em diversas referências ao Superman e sua mitologia, É um pássaro... não é uma história de super-heróis ou de fantasia.

Em sua proposta e formato, aproxima-se mais dos quadrinhos autobiográficos que expõem os dilemas pessoais do autor. Há semelhanças em especial com o álbum Cicatrizes, de David Small.

A exemplo de Small, Steven T. Seagle aborda como uma doença o marcou profundamente. A diferença é que esse mal não afeta apenas a ele, mas toda a sua família.

A doença de Hutington é um distúrbio neurológico extremamente raro, incurável, genético e hereditário. Trata-se de uma degeneração gradativa, lenta e fatal. Aos cinco anos de idade, Steven estava no hospital quando sua avó faleceu, vítima da doença.

Diversos acontecimentos desse dia ficaram marcados na memória de Steven: uma discussão entre os pais, o fato de não o deixarem ver a avó, os cheiros do hospital e a revista do Superman que lhe deram de presente na sala de espera.

A proposta de escrever o título Superman acaba coincidindo com um telefonema de sua mãe, que pede a Steven que a ajude a encontrar o pai, que simplesmente saiu de casa e não dava notícias havia três dias.

A busca pelo pai, a pressão para escrever o título, as lembranças e o medo da doença misturam-se ao longo da história de É um pássaro...

O super-herói é um gênero infantil, que agrada e entretém crianças. Mas e os adultos? Como um adulto pode gostar de um personagem tão inverossímil? Como pode ler tramas tão rasas, tolas e incoerentes? E, principalmente, com tantos problemas sérios na vida, como pode se permitir mergulhar na fantasia escapista de pessoas com roupas espalhafatosas e superpoderes impossíveis?

Essas são as questões que incomodam Steven. Em determinado momento, o personagem/autor diz: "Escrevi HQs de 'mutantes' por alguns anos, sempre pensando em novos poderes que a estrutura genética deles criaria. Desisti quando percebi que alguns genes não dão poderes... eles tiram poderes. O poder de andar. O de sentar. O de comer. O poder de falar."

O drama pessoal de Steven motiva seu racionalismo pessimista contra os heróis e leva-o a conceber diversas analogias com o Superman. Em muitas delas, o mito do personagem é severamente criticado em aspectos éticos, morais e científicos. Em suas discussões com os amigos e colegas, o autor aponta os problemas e incoerências de kryptoniano com uma veemência às vezes desesperada.

Mas, ao mesmo tempo em que a voz e o ponto de vista de Steven conduzem a trama, sua perspectiva negativa dos super-heróis é contra-argumentada por diversas pessoas: seu editor, o colega roteirista, o mecânico, o estranho no metrô, sua namorada.

Esses personagens mostram o outro lado da moeda: os valores do personagem Superman, a importância dele não só para as crianças, mas para muitos adultos também. Colocam em xeque o racionalismo rigoroso e muitas vezes arrogante de Steven.

A namorada, que declaradamente odeia quadrinhos, irrita-se com Steven quando ele argumenta que o fã de Superman que encontrou no metrô era um operário. "Ah, então a opinião dele conta menos porque trabalha com as mãos?" ela pergunta.

E assim, ao mesmo tempo em que narra seu drama familiar, Steven também vai elaborando questões muito interessantes sobre o papel do super-herói dentro da vida adulta e até sobre os valores e a importância do "entretenimento inofensivo".

É um pássaro... tem uma abordagem bem literária. A construção de raciocínios, as analogias, as lembranças, o fluxo de pensamentos do protagonista e narrador conduzem a trama de maneira muito semelhante a um texto escrito, no sentido de se constituir como um texto que muitas vezes dispensaria o acompanhamento de imagens.

Daí entra o trabalho do artista dinamarquês Teddy Kristiansen. As belas pinturas que compõem as páginas do álbum conquistaram o Eisner de 2005 e conseguem muitas vezes agregar ou ampliar significados com as palavras de Seagle.

São imagens aparentemente simples e sóbrias, que não concorrem com a grande quantidade de texto e ajudam na construção da atmosfera intimista da história. Belíssimo trabalho.

Quanto à edição nacional apresentada pela NewPop, há problemas de revisão. Alguns bem feios e que um mero corretor ortográfico pegaria, como se vê abaixo.

Na página 20, primeiro quadrinho, está escrito "tempeiros", em vez de "temperos".

Na página 36, quarto quadrinho, abrem-se aspas para fazer uma citação, mas elas não são fechadas.

Na página 64, terceiro quadrinho, está escrito "situa-ções", com um hífen inexplicável.

Página 74, primeiro quadrinho, a conjugação do verbo trazer está grafada como "trás" e o correto é "traz".

Página 125, segundo quadrinho, o nome "George" foi escrito "Geroge".

Apesar disso, a apresentação gráfica do álbum está impecável, com ótimo papel e uma impressão que valoriza a arte de Kristiansen.

É difícil avaliar o quanto das histórias autobiográficas realmente condiz com uma reprodução fiel de eventos reais e o quanto é modificado em prol de uma estética narrativa.

Entretanto, sabe-se que, no fim das contas, Steven T. Seagle aceitou o convite e escreveu o especial Superman: The 10-Cent Adventure e as edições de número # 190 a # 200 de Superman.

No Brasil essas histórias foram publicadas em 2004 e 2005, entre as edições # 21 e # 32 da revista Superman, pela editora Panini. Ao que parece, eram HQs abaixo da média.

Entretanto, se decepcionou com as histórias do Homem de Aço, Steven T. Seagle se redimiu com este ótimo É um pássaro...

 

Classificação:

4,0

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