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Estranhos no Paraíso – Volume 1 – Um sonho de você

10 abril 2020

Estranhos no Paraíso – Um sonho de vocêEditora: Devir – Edição especial

Autor: Terry Moore (roteiro e desenhos) – Originalmente em Strangers in Paradise (Vol. 1) # 1, # 2 (1993), # 3 (1994) e Strangers in Paradise (Vol. 2) # 1, # 2 (1994), # 3 a # 8 (1995), # 9 a # 13 (1996). Tradução de Guilherme Miranda.

Preço: R$ 105,00

Número de páginas: 352

Data de lançamento: Julho de 2018

Sinopse

Katchoo e Francine são duas amigas muito próximas, mas bastantes diferentes entre si.

Um complicador é que a casca-grossa Katchoo é apaixonada pela frágil Francine, enquanto a amiga está na fossa depois de pegar o namorado com outra.

Katchoo ainda precisa lidar com David, um rapaz que cai de amores por ela, e com seu passado sombrio, que volta para assombrá-la.

Positivo/Negativo

Estranhos no Paraíso, HQ independente norte-americana que lançou as personagens Katchoo e Francine em 1993, tem uma história cheia de sobressaltos no Brasil. Passou por quatro editoras, sempre avançando aos tropeços.

A minissérie original saiu pela Abril, em 1998. Depois, vieram dois álbuns pela Via Lettera, em 1999 e 2000; seguidos de mais três e oito números de um gibi mensal pela Pandora Books, em 2002 e 2003; e três álbuns pela HQM, entre 2006 e 2013.

Um hiato de cinco anos, portanto, até a Devir relançar a série desde o início, disposta a conclui-la em seis edições em capa dura. Estranhos no Paraíso – Um Sonho de Você é o primeiro deles.

A base é o conteúdo publicado conforme a versão Strangers in Paradise Pocket Book, porém em formato maior que o original. Nos Estados Unidos, esta coleção saiu no formato 14 x 21 cm; a versão brasileira tem dimensões de 17 x 26 cm.

Um Sonho de Você soma os três números da primeira série (da Antartic Press, 1993/ 1994), mais os 13 números da segunda série (da Abstract Studios, 1994 a 1996).

E estas duas fases têm realmente personalidades distintas.

A comédia romântica calcada no triângulo amoroso, que é o tom dos três primeiros números (que saíram primeiro, aqui, na minissérie da Abril), ganha uma reviravolta daquelas na segunda fase, quando segredos de Katchoo envolvendo sexo e violência vêm à tona e a HQ ganha um tom de policial e suspense.

Esta segunda fase é o conteúdo referente ao álbum Sonho com Você, que a Via Lettera, dividiu aqui em duas partes, e que ganhou o Prêmio Eisner em 1996, como Melhor história seriada.

Na reta final do álbum, os problemas voltam a ser decorrentes da ciranda amorosa dos personagens. São as edições reunidas anteriormente em A vida é bela, da Pandora.

Em qualquer das fases, Terry Moore mantém elementos recorrentes. Os bons e rápidos diálogos às vezes abrem espaço para a poesia e a prosa. Há momentos em que o autor prefere narrar a história em texto corrido. Ele exagera um pouco quando, em certo ponto da trama, faz isso por cinco páginas seguidas – apenas com uma imagem lateral por página, com legendas abaixo, evocando mesmo ilustrações de um romance literário.

A arte, por sua vez, sempre em preto e branco, alterna facilmente do registro mais realista para o puramente cartunesco nas ocasiões em que a série parte para a comédia

rasgada.

Moore também experimenta fugir da narrativa mais trivial em diversos momentos. Em uma página, “censura” uma cena de sexo com uma faixa de texto sobre parte da imagem. Em outra narra uma sequência dramática sem texto.

Em outra parte de forte carga de drama, um ajuste de contas entre Katchoo e David é mostrado pelo pés, enquanto a conversa se desenrola: os dela, descalços e no chão seco de casa; os dele, nos sapatos, encharcados na chuva do lado de fora.

Há também uma página com quadrinhos inteiramente pretos, para ilustrar a desconexão mental de um personagem naquele momento.

Um problema desta edição da Devir é que o leitor tem que “sentir” por si só quando um capítulo termina e o outro começa. O álbum não "avisa" isso claramente.

Terry Moore não põe um título abrindo cada capítulo ou um “anteriormente” resumindo a trama. Nem finaliza cada número com um “fim” ou “a seguir”. E a versão nacional não faz o que é usual: colocar a capa original de cada edição como maneira de demarcar o episódio. As capas, em tamanho minúsculo, formam uma galeria no fim do volume.

Às vezes, há um painel separando o fim de um e o começo do outro, mas na maioria das vezes não há nada: é preciso contar com um certo tom de encerramento e início de cada parte (como alguma poesia que abre a edição seguinte, recurso narrativo que Moore utiliza algumas vezes).

A última página traz os títulos das próximas cinco edições, o que reforça a expectativa de que, desta vez, Estranhos no Paraíso vá finalmente até o final por aqui. Até a publicação desta resenha, três volumes já haviam sido lançados – o terceiro veio com as primeiras histórias inéditas de Estranhos no Paraíso no Brasil, desde que a publicação foi interrompida.

Classificação:

5,0

.

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