Fragmentos do Horror
Editora: Darkside Books – Edição especial
Autor: Junji Ito (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 54,90
Número de páginas: 224
Data de lançamento: Julho de 2017
Sinopse
Compilação de nove histórias curtas de Junji Ito, considerado um mestre do horror dos quadrinhos japoneses.
Positivo/Negativo
Se estamos vivendo no reino da capa dura, existe uma aldeia de irredutíveis nipônicos que se recusa a trocar a tradicional capa em papel cartão pelo item mais badalado e polêmico da temporada. Pelo menos era assim, com raríssimas exceções, até a entrada da Darkside no segmento de mangás, com seu selo dedicado a graphic novels.
Como já vinha fazendo com livros e com HQs ocidentais, a editora carioca empregou sua marca registrada na coletânea Fragmentos do Horror, a primeira aposta dela nos quadrinhos lidos da direita para a esquerda.
Uma aposta certeira, uma vez que a escolha recaiu sobre uma obra de Junji Ito, mangaká já conhecido dos brasileiros, e tido por muitos de seus entusiastas como um verdadeiro mestre do terror (o gênero favorito da editora).
Vale ressaltar que, além de a capa vir com capa dura, a apresentação do mangá também conta com um detalhe de difícil visualização na tela do computador, mas faz diferença na mão do leitor: ao redor daquela figura que domina a capa, claramente inspirada no quadro O Grito, do norueguês Edvard Munch, há várias figuras monstruosas, algumas lovecraftianas, impressas em verniz. A depender do ângulo com que se veja o álbum, elas podem se tornar invisíveis ou brilhar, como espectros medonhos atormentando o personagem em questão.
Ou seja, em termos formais, é uma excelente reapresentação de um artista que passou oito anos afastado dos quadrinhos de terror, como ele mesmo admite no posfácio presente na edição nacional. Com muita sinceridade, Junji Ito chega a se questionar se esse hiato em sua carreira o fez perder sua “intuição” para o gênero.
Felizmente, não. Tanto que cada uma das histórias deste volume merece breves comentários.
Futon – A trama que abre o álbum é a mais curta de todas, e justamente a primeira que o autor fez após sua parada. Fez e refez, segundo conta no já mencionado posfácio, pois nem ele nem seu novo editor estavam satisfeitos com o resultado.
Foi desta HQ que foram retirados os monstros ocultos da capa, aliás. O resultado final é uma boa introdução, com uma trama que lembra vagamente a de um famoso conto de outro mestre do horror, Travesseiro de penas, do uruguaio Horacio Quiroga.
Monstro de madeira é uma das melhores HQs da coletânea, na qual o destaque fica para a arte, que deve ser especialmente angustiante para quem sofre de tripofobia – a fobia de padrões irregulares ou de agrupamento de pequenos buracos ou saliências. Um pai viúvo vive em paz com sua filha numa casa muito antiga, até o dia em que recebe a visita de uma misteriosa mulher, com um interesse acima do normal por aquele imóvel histórico.
Tomio – Gola rulê vermelha – Aqui, o protagonista é justamente o personagem principal da capa. Ao trocar a namorada por uma nova amante, uma estranha cartomante, Tomio acaba perdendo a cabeça... literalmente.
Suave adeus é a história mais leve da compilação, tanto que quase chega a destoar do conjunto.
Já Dissecação-chan traz a bizarra trajetória de uma mulher com o fetiche de ser dissecada viva. A HQ segue em uma toada de humor funesto até a arte barroca de Junji Ito surpreender o leitor com toda sua força.
Talvez a trama mais fraca do álbum, Pássaro negro mostra um observador de pássaros que se acidenta na mata e atrai a atenção de uma mulher alada, uma espécie de harpia.
Magami Nanakuse – A personagem título é uma famosa escritora que tem um modo bastante inusitado de lidar com os fãs que a assediam constantemente. Trama e desenhos abaixo da média do restante do mangá.
Por fim, A mulher que sussurra é digna de seriados como Além da Imaginação, com um plot bem resolvido e até mesmo certa crítica social. Um magnata precisa contratar babás para sua filha adolescente que sofre de uma indecisão crônica para levar a própria vida. Até o dia em que ele aparentemente encontra a candidata perfeita, que parece não se importar em dar ordens detalhadas para a garota, como se ela fosse sua marionete.
Em seu conjunto, Fragmentos do Horror, é um ótimo mangá, que dá a esperança de a editora continuar a apostar nesta área e até trazer mais material do autor. A obra mais famosa de Junji Ito é Uzumaki, lançada no Brasil pela Conrad, mas que se encontra totalmente esgotada.
Resta ao leitor que se interessou pelo trabalho do artista torcer para que a Darkside Books a relance, como fez com Black Hole, de Charles Burns, que também foi publicado anteriormente pela Conrad, e traga mais mangás para o reino da capa dura.
Classificação
.