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Hellblazer – Haunted

17 março 2014

Hellblazer – HauntedEditora: DC / Vertigo – Edição especial

Autores: Warren Ellis, (roteiro), John Higgins (arte) e James Sinclair (cores).

Preço: US$ 27,00

Número de páginas: 144

Data de lançamento: Fevereiro de 2003

Sinopse

Após saber da morte de uma velha amiga e antiga namorada, Isabel, John Constantine decide procurar pelos cantos mais escuros de Londres o culpado pelo brutal assassinato da moça e quem mais estiver está envolvido no crime.

Mas, quanto mais se aproxima da verdade, mais ele próprio se coloca em perigo.

Positivo/Negativo

O inglês Warren Ellis assumiu o título Hellblazer em 1999 (no embalo do sucesso de seu Transmetropolitan). Ele foi o quarto escritor regular da série e assinou todas as histórias entre as edições # 134 e # 143.

Apesar de ser considerado um autor polemista e controverso, sua fase nas tramas de John Constantine não foi tão profunda ou pessoal para a cronologia do mago, como haviam sido antes os vários longos arcos de Jamie Delano, Garth Ennis e Paul Jenkins.

Ennis preferiu se ater a falar menos de Constantine como personagem e muito mais de seu entorno, do espaço físico e psicológico que o cercava, e principalmente da Londres que, como se lê no fim do arco Haunted, assombra-o e é assombrada por ele.

O que mais se destaca nas primeiras seis histórias de Ellis para Hellblazer – reunidas neste encadernado, ainda inédito do Brasil – é justamente o aspecto sombrio e desiludido que o autor insere na maneira como fala de becos, vielas, ruas, parques e pessoas da capital inglesa.

A história central mostra Constantine investigando o brutal assassinato de uma antiga namorada, num crime que parece ter sido perpetrado por um praticante de magia, como ele. Porém, em vários momentos fica bastante claro que o enredo é só o ponto de partida para Ellis levar o leitor a um passeio pelas profundezas mais sórdidas do submundo da cidade, apresentadas em extensos recordatórios inseridos fora dos quadrinhos (numa interessante utilização do branco das páginas) e ilustradas pelo traço de John Higgins, que se mostra tão competente na tarefa quanto discreto em não tornar sua arte mais chamativa do que funcional.

Ellis, na verdade, relaciona essa Londres um tanto apodrecida ao próprio John Constantine, por vezes fazendo o personagem questionar os próprios atos ao ler o diário da mulher assassinada e em suas andanças pelas ruas e cantos da cidade – e, não por acaso, em determinado momento o protagonista leva uma das maiores surras de sua carreira, perdendo bastante daquela pose blasé que o caracteriza e se igualando ao “lixo” das ruas para o qual ele tantas vezes chama a atenção. “Londres é construída sobre fantasmas. Você não pode caminhar por Londres sem estar caminhando sobre fantasmas”.

Constantine, ao seu modo, é um desses fantasmas, e o desfecho da trama deixa isso mais claro quando o mago se depara com uma espécie de contraparte sua – menos madura e astuta, mas de ambições similares. “Sabe para que serve a magia, não é? Para ferrar pessoas, de um jeito ou de outro”, diz o antagonista a um intrigado John, que parece se dar conta, ali, de que ele não difere tanto assim do matador – exceto pelo fato de se achar diferente, ao dizer que “não existem regras; existe apenas fazer as coisas certas às pessoas ou não”.

Trata-se de pura autoilusão, já que Constantine achará corretas ações igualmente questionáveis; e encontrará suas próprias respostas para elas (em dado momento, ele arma para que alguns capangas ataquem um de seus aliados, no intuito de atrair o chefe deles. “Eu não tive muita escolha”, justifica-se).

Ao longo de anos em Hellblazer, esse aspecto dúbio de John é tematizado, elemento de personalidade que Warren Ellis tem a sensibilidade de captar e abordar logo de imediato e relacioná-lo à presença da cidade como um espectro assombroso em torno daqueles que nela vivem.

Logo depois de Haunted, Ellis – cujo contrato deveria ser extenso como foram os de seus antecessores – assinou apenas mais quatro histórias, todas fechadas, em Hellblazer. Algumas foram publicadas no Brasil na extinta Pixel Magazine e reunidas, nos Estados Unidos, no encadernado Setting Sun.

Warren Ellis se demitiu quando a DC/Vertigo não quis publicar a história Shoot, que trata de massacres em escolas norte-americanas e que seria lançada, por puro acaso, logo depois dos acontecimentos em Columbine (quando dois estudantes mataram alunos e professores e depois se suicidaram).

Anos depois, a história “proibida” de Ellis foi enfim publicada num especial da editora e pode ser encontrada no Brasil no encadernado Vertigo Especial – Atire, da Panini.

Classificação

4,0

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