Homem-Animal – Origem das espécies
Editora: Panini Comics – Série em três volumes
Autores: Grant Morrison (roteiro), Chas Truog e Tom Grummett (arte), Doug Hazlewood, Mark McKenna e Steve Montano (arte-final), Tatjana Wood e Helen Chiang (cores) – Originalmente em Animal Man # 10 a # 17 e Secret Origins # 39 (tradução de Edu Tanaka e Fabiano Denardin).
Preço: R$ 26,90
Número de páginas: 240
Data de lançamento: Fevereiro de 2016
Sinopse
Buddy Baker, vulgo Homem-Animal, ainda está tentando “consertar” seus poderes depois dos efeitos da bomba genética lançada na Terra durante a saga Invasão, que embaralhou a sua capacidade de absolver e mimetizar dons do reino animal.
O Homem-Animal se depara com mais mistérios quando cruza seu caminho a super-heroína Víxen, alienígenas amarelos, a volta do Fera Buana, a sereia Delfim, fantasmas e uma passadinha em Paris com a esposa, já que ele é membro da Liga da Justiça Europa, além de confrontar decisões e consequências de suas atividades de ecoterrorista.
Positivo/Negativo
Depois de um começo no qual define bem a personalidade do protagonista e seus coadjuvantes, Grant Morrison avança e planta mais sementes para colher nas edições que estão no terceiro e derradeiro volume de sua passagem (e resgate) do super-herói, originalmente lançadas no final dos anos 1980 e começo dos 1990.
O Homem-Animal é literalmente desconstruído ao longo das páginas, como é evocado na capa do encadernado. O autor se apropria da linguagem mais esquemática e simplória dos antigos gibis para rever e “atualizar” o personagem com toda a reverência (e crítica) ao passado.
Na origem que é recontada em O mito da criação, o roteirista não se acomoda em simplesmente mostrar a sua perspectiva da fonte de poderes do Buddy Baker e passa a questionar a “sofisticação” que ele próprio impôs.
São aproveitados os alienígenas amarelos que supostamente eram inimigos do protagonista, logo depois que ele adquiriu seus poderes após a explosão de uma nave numa floresta. Recentemente, os seres também foram aproveitados na fase de Jeff Lemire no projeto Novos 52.
Vale ressaltar curiosidades como a situação em que Baker achou a espaçonave: ele estava justamente caçando animais. Uma das suas interferências ideológicas de Morrison aos resgatar o personagem foi transformar o herói e sua família em vegetarianos.
Os conceitos metalinguísticos da série – escancarados no próximo volume – são sutilmente jogados em Origem das espécies. Preste atenção também na passagem do Asilo Arkham, no capítulo Caça à raposa, em que insanos como o Chapeleiro Louco e o Pirata Psíquico soltam pistas do que está por vir para James Highwater, o físico de origem indígena que aparece no primeiro encadernado.
Morrison oferece muito mais espaço para trabalhar a sua ideologia de defensor ecológico, fala de aquecimento global e matança de golfinhos e baleias sem forçar a barra, e ainda resgata um dos membros dos “heróis esquecidos” da Crise nas Infinitas Terras, a sereia Delfim, no reflexivo Entre o demônio e o azul profundo do mar.
O roteirista aproveita também as ligações com o reino animal nas suas origens para introduzir a coadjuvante Víxen, membro da Liga da Justiça, numa trama que faz a personagem evoluir bem no seio da humanidade, a África.
Os direitos civis também entram em pauta quando o herói permanece no continente africano para ajudar o Fera Buana (ou Bwana), antagonista no arco de estreia, para achar seu sucessor.
É no último tomo deste volume, Consequências, que o escritor mergulha fundo na personalidade do protagonista, expondo o lado humano e falho do Homem-Animal. Um super-herói que comete erros como todo mundo e não é nenhum Superman.
Nesse capítulo também são abordados o uso de macacos em testes científicos e a conscientização do “efeito dominó” acerca do consumo de carne bovina, tópicos que servem de discursos sobre a ecologia e os direitos dos animais apoiados pelo autor.
Ponto mais confuso e misterioso até aqui, o capítulo Assombrações deve ser lido com bastante atenção em virtude dos detalhes que serão revistos mais para frente. Interessante notar como Grant Morrison tinha a estrutura toda amarrada desde o início.
Um lembrete que pode passar despercebido a muitos leitores: quando Buddy Baker se vê frente a frente com um ser fantasmagórico, ele diz que se lembra dele quando tinha dez anos. Essa é a mesma idade em que teve um corte que deixou uma cicatriz no braço, desaparecida quando Buddy criou um novo membro, no volume anterior, logo no primeiro arco, durante o confronto com o homem-rato.
Há dois descuidos na tradução nesta parte: logo no início, quando a entidade afirma para Maxine – a filha caçula de Buddy Baker – ter sonhado que ela era “gente grande” (essa expressão soa muito estranha e poderia ser substituída por “adulta”, “havia crescido” etc.); e, a mais grave, quando o Homem-Animal diz para sua esposa, Ellen, que um vizinho “ligou” para ele e Buddy o ignorou. Na verdade, como será revelado em um flashback no próximo volume, o vizinho falou com ele presencialmente, não em um telefonema.
Mais uma vez, os leitores novatos ficaram na mão quando não são contextualizadas referências como a saga Invasão (lançado no Brasil em três partes pela Abril, em 1990), evento bem menos conhecido que a também tocada Crise nas Infinitas Terras (recentemente republicada pela Panini). E espaço havia, já que ambos os volumes trazem propagandas das outras obras de Morrison.
Apesar de estar mais “relaxada”, a arte de Chaz Truog permanece funcional, sendo novamente substituída (agora em duas histórias) pelos desenhos de Tom Grummett, cujo traço é mais bonito, porém limitado (principalmente nas fisionomias bem parecidas dos personagens).
A edição em brochura da Panini mantém a qualidade, com capa cartonada sem orelhas e papel LWC com boa gramatura e impressão.
Quando Grant Morrison revelar todos os segredos (incluindo o do próprio universo), no próximo volume, vale garimpar e descobrir as nuances e os detalhes presentes em cada quadro da saga do homem com poderes de animais, desde o início, numa nova leitura.
Depois de mais de duas décadas, Homem-Animal se mantém como um dos grandes momentos inventivos do badalado, polêmico e controverso roteirista.
Classificação
.