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Imperdoável – Volume 1 – O poder do medo

9 julho 2018

Imperdoável – O poder do medoEditora: Devir – Série em cinco volumes

Autores: Mark Waid (roteiro), Peter Krause (desenhos) e Andrew Dalhause (cores) – Originalmente em Irredeemable # 1 a # 8 (tradução de Marquito Maia).

Preço: R$ 69,90 (capa cartonada) e R$ 89,90 (capa dura)

Número de páginas: 256

Data de lançamento: Maio de 2018

Sinopse

Quando o Plutoniano, o maior super-herói da Terra, enlouquece e se torna o pior vilão do planeta, apenas os seus ex-aliados de combate ao crime têm uma chance de deter a sua onda de violência.

Mas enquanto fogem do ser mais poderoso e zangado do mundo, será que esses antigos companheiros descobrirão os segredos dele a tempo? Como ele ficou assim? Que fim levaram a esperança e a promessa que outrora carregava consigo? O que pode acontecer com o mundo quando ele é traído pelo seu salvador? O que torna um herói imperdoável?

Positivo/Negativo

Em mãos não tão hábeis ou pouco acostumadas a lidar com o gênero super-herói, Imperdoável seria mais uma série com a ideia pra lá de batida sobre o que aconteceria se o Superman se tornasse um vilão.

Mark Waid conhece bem os caminhos – e atalhos – para explorar esse conceito. Tanto que outros lados variantes desse mesmo prisma sombrio foram explorados pelo roteirista em obras como O Reino do Amanhã (com Alex Ross), lançado no Brasil pela Abril e Panini, e também em Império, publicado pela Mythos, em 2017, com arte de Barry Kitson.

A série não cai na armadilha de ser desinteressante logo na sua desmedida sequência inicial, na qual vale a propaganda feita na época do seu lançamento nos Estados Unidos pela Boom! Studios, em 2009, que estampava em letras garrafais “Waid é mau”.

É um mundo estranho e conhecido ao mesmo tempo. Vindo tanto do heroísmo puro de décadas de um certo Homem de Aço, quanto do rolo compressor amoral do desprezo de vidas que se tornaram muitas variações “realistas” desse mesmo tema pós-anos 1980.

O leitor conhece muito bem o nível de poder do obscuro Plutoniano, por se tratar de um análogo ao Superman. Concomitantemente, é apresentado aos poucos, em flashbacks e testemunhos, como ele despertou o desprezo pelos que outrora estendeu a mão.

Nas primeiras impressões desses motivos, há um paralelo feito com o que se presencia no coletivismo das redes sociais, a nossa “superaudição”. As manifestações de opiniões por vezes grosseiras e provocativas (no mau sentido), que podem levar a um desentendimento ou batalhas ideológicas no ciberespaço servem de analogia nos primeiros sinais de insatisfação do Plutoniano.

Voltando aos atalhos que Waid sabe muito bem trilhar, o escritor sabe que o leitor vai simpatizar com os personagens, mesmo que esses não sejam apresentados superficialmente, sem espaço para desenvolvê-los. Mesmo jogados na trama, os habituados ao gênero vão identificar as referências dos ex-aliados do antagonista que são caçados pelo mesmo, uma espécie de Liga da Justiça sem passado conhecido, mas à qual se apegam por ter a ciência de estarmos “familiarizados” em certos graus com seus equivalentes de outras editoras.

Sem eleger um único ponto da virada de casaca do outrora protetor altruísta, a história avança para pontos mais desastrosos, como a expectativa envolvendo a “Lois Lane” desse universo. O roteirista sabe que é necessário um conjunto de fatores para tornar seu conceito central forte e justificável, algo que é deixado de lado para sagas com a mesma ideia.

Desse modo, a curiosidade tanto de como aconteceu esse ponto de virada, quanto das origens do todo-poderoso algoz da humanidade é mantida, bem como será a solução para detê-lo.

A segunda metade inédita do encadernado (a Devir tinha lançado uma com metade das edições deste volume, em 2013) mantém o nível, incluindo elementos pouco ou nada explorados pela contraparte mais famosa do seu personagem, como (moderados) fetiches sexuais.

Outros heróis coadjuvantes ganham contornos mais bem definidos para serem usados a favor da narrativa, seja por uma traição escondida – que acarreta numa cena dúbia de como seria solucionado unilateralmente isso – ou pelo bom humor de brincar com os clichês quando um personagem negro se queixa de racismo por ter os “básicos” poderes elétricos.

Utilizando poderes e arquétipos do gênero, Waid brinca com detalhes que geralmente são usados apenas quando são úteis para a trama, promovendo-os como uma “costura” para sua investida de quebrar emocionalmente o maior e mais poderoso herói da Terra.

A arte de Peter Krause (mais lembrado pelos desenhos no formatinho Shazam!, da Abril, com argumento de Jerry Ordway), não compromete ou atrapalha, evocando o traço bem habitual do gênero, incluindo erros anatômicos ou de perspectivas e proporções. Em poucos momentos de virada, ele brilha – um deles é o que envolve um dos super-heróis gêmeos.

Sobre a retomada da série pela Devir, a editora acertou em juntar dois encadernados em cada volume (em um total de cinco), além de abrir mão do formato “paraguaio” (16 x 23 cm) para o tradicional americano (17 x 26 cm).

A edição nacional está disponível em capa dura e cartonada (sem orelhas) com aplique de verniz, papel couché de boa gramatura e impressão, além de ter introdução da Mark Waid, posfácio de Grant Morrison e uma galeria de capas originais, alternativas e promocionais, assinadas por nomes como John Cassaday (de Planetary).

Lá fora, Imperdoável chegou a ser indicada a prêmios como o Eisner e o Harvey Awards em categorias como Melhor Escritor e Melhor Série.

Com o mérito de cumprir o que se propõe a entregar, a HQ chega a empolgar como um bom exercício de What If...?, sem insultar a inteligência do leitor, graças ao virtuosismo calejado do veterano que é tão familiar quanto as exclamações: “Olhe! Lá no céu!”

Classificação:

4

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