Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Matadouro de unicórnios

19 agosto 2016

Matadouro de unicórniosEditora: Veneta – Edição especial

Autor: Juscelino Neco (roteiro e arte).

Preço: R$ 39,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento: Maio de 2016

Sinopse

Gonçalo é um escritor em crise que divide seu tempo entre a alta literatura e bicos como ghost writer para pagar as contas. Na sarjeta, ele é chamado para "melhorar" anonimamente a biografia de um serial killer nacionalmente conhecido como "o maníaco do shopping".

Essa incumbência faz Gonçalo ter ideias que colocam a sua própria vida num sangrento espiral de brutalidade, canibalismo e violência sem sentido.

Positivo/Negativo

Depois da pegada trash, nonsense e extravagante de seu álbum de estreia, Parafusos, zumbis e monstros do espaço, Juscelino Neco mantém seu caldeirão revisionista fervendo com esses mesmos elementos, adicionando também ingredientes psicológicos neste thriller carregado com muito sangue.

O epicentro de Matadouro de unicórnios é o endeusamento dos assassinos em série, vistos quase sempre como "celebridades" no enquadramento sensacionalista dos veículos de comunicação.

É essa visão distorcida que instiga a cobiça de Gonçalo, jovem escritor que batalha para ter sucesso e sempre é vencido pela dura realidade do mercado. Esse cenário faz com que ele tope tudo, inclusive colocar o lençol branco de "escritor fantasma" para oferecer na surdina certa dignidade literária a outras obras.

Quando ele se depara com o culto ao matador denominado "o maníaco do shopping" (alusão ao real "maníaco do parque", que cometia os crimes no final dos anos 1990, em São Paulo), tem uma estúpida e bizarra ideia para atrair a atenção do público e mídia para o seu talento da escrita e garantir as tão almejadas fama e grana.

Neste ínterim, o quadrinhista tem espaço para promover uma crítica (literalmente) ácida aos protestos ideológicos exagerados e às manifestações artísticas, tudo com um humor peculiar, trivial e desmedido, uma marca cada vez mais registrada no seu trabalho.

Assim como a HQ anterior, a comédia de erros é apunhalada pela inspiração de filmes como o cult Henry – Retrato de um assassino (1986), dirigido por John McNaughton e estrelado por Michael Rooker (que interpretou o irmão do personagem Daryl no seriado televisivo The Walking Dead). Um cartaz do longa-metragem, inclusive, pode ser encontrado durante a busca desesperada de Gonçalo pelo reconhecimento.

A produção cinematográfica norte-americana é baseada na história real do serial killer Henry Lee Lucas (1936-2001), que confessou envolvimento em cerca de 600 assassinatos. Uma curiosidade é que um dos pôsteres desse filme foi ilustrado por Joe Coleman, artista que faz retratos de assassinos em série famosos.

Ainda no tocante do cinema, a arte estilizada com nuances de cinza de Juscelino Neco mostra-se bastante dinâmica, com angulações e sequências que ditam o ritmo bem pontuado, inclusive quando ele coloca vários quadros fixos, deixando a movimentação narrativa para os próprios personagens.

Quando se entra no clima da trama, as possíveis falhas das justificativas nas ações do protagonista podem muito bem ser relevadas pela maneira propositalmente absurda e gore com a qual é conduzida a trama.

No conjunto, o que destoa realmente é a forma praticamente homogênea de balonamento e a tipografia escolhida para a obra. Não existe uma harmonia entre os desenhos e as representações gráficas das falas. Isso até poderia indicar um "distanciamento" do protagonista em relação ao que se passa na sua vida, mas esse recurso impera na boca de todos os outros personagens.

O álbum publicado pela Veneta tem capa cartonada com orelhas, papel off-set, boa impressão e formato 17 x 24 cm. Um detalhe negativo é a capa pouco criativa, que traduz muito pouco sobre a obra em si.

Com toques detetivescos, inclusive uma inusitada lufada de fantasia (justificando o batismo da HQ) em meio à profusão de sangue e mortes, Matadouro de unicórnios realiza os devaneios violentos não apenas do personagem-escritor de "monocelhas", mas também do seu autor e do leitor voyeur.

Como sempre, no final dos dividendos, o julgamento dos "valores culturais" desse tipo de publicação vai depender da fama, do mercado, do "ouvi falar" e de vários outros velhos batidos fatores que colocarão a obra em destaque na vitrine ou jogada numa cesta de promoção numa dessas livrarias da vida.

Em suma, talvez essa medida de valores seja o pior de todos os "assassinos seriais" – tanto no mundo de carne, osso e sangue, quanto na ficção com base de celulose.

Classificação

4,0

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