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O Aranha - O terror da Rainha Zumbi

21 fevereiro 2014

O Aranha - O terror da Rainha ZumbiEditora: Mythos – Edição especial

Autores: David Liss (roteiro) e Colton Worley (arte) – Originalmente em The Spider # 1 a # 6 (Tradução de Jotapê Martins).

Preço: R$ 49,90

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Fevereiro de 2014

Sinopse

Richard Wentworth é um condecorado herói de guerra que sacrificou tudo, incluindo a mulher que ama, pelo dever.

Mas a cidade de Nova York está despedaçada pelo crime e pela corrupção. Com a polícia sobrecarregada e a população indefesa, Wentworth torna-se um justiceiro implacável e impiedoso, como os criminosos que ele irá caçar.

Positivo/Negativo

Antes dos quadrinhos e da TV, a diversão das massas, no começo do Século 20, eram os pulps, os livros impressos em papel barato, vendidos por centavos nos Estados Unidos e que desfilavam heróis aventureiros nas suas páginas.

Mesmo sem grandes pretensões no quesito de qualidade artística, nomes até então desconhecidos, como Raymond Chandler e Dashiell Hammett, poderiam ser encontrados nesse tipo de literatura.

Se os super-heróis foram uma fórmula que deu certo, eles devem agradecer aos tubos de ensaios dos pulps. Um dos nomes mais famosos dessa literatura barata foi O Sombra, personagem que surgiu primeiramente em programas de rádio, nos quais um Orson Welles pré-Cidadão Kane fazia a sinistra gargalhada e assustava seus conterrâneos com invasões alienígenas.

Foi justamente O Sombra que inaugurou esta coleção de heróis pulps modernizados pela norte-americana Dynamite, com seu primeiro arco com roteiros de Garth Ennis, O fogo da criação, trazido ao Brasil pela Mythos.

O segundo título foi o pouco conhecido O Aranha, um justiceiro criado em 1933 por Harry Steeger, de uma editora concorrente justamente do Sombra.

Richard Wentworth era um playboy (um status básico nos pulps) veterano da Primeira Guerra Mundial, que matava criminosos com duas pistolas e marcava seu símbolo na testa de seus inimigos. Provavelmente, elementos do personagem serviram como argamassa para Bob Kane criar um certo Batman, anos depois.

Com finalidade de ressuscitar o herói para o mundo dos quadrinhos, a Dynamite chamou o romancista policial David Liss e o artista Colton Worley. O resultado poderia ser infinitamente melhor do que se constata no final da leitura do volume.

Liss tem uma carreira literária premiada. Seu primeiro romance, A conspiração de papel (lançado no Brasil pela Record), ganhou o prestigiado Edgar Allan Poe Awards de Melhor Estreia em 2000, dentre outros.

Mas o que poderia ser uma homenagem à época dos pulps, ou uma “modernização” do autor para O Aranha, não passa de uma “sombra” de clichês.

Quando apresenta as motivações do personagem, o roteirista entra na velha história de mostrar tudo que há de podre nas metrópoles, e que a solução é simplesmente meter bala em criminosos, honrando os piores programas sensacionalistas de telejornal policial.

A motivação para fazer isso? Porque ele pode, oras. Resposta simples e direta, vinda dos pensamentos do personagem, como se toda essa pose e espírito de bad boy fosse alguma novidade ou item necessário para uma modernização.

Para quebrar a suposta tensão imposta pelo protagonista, algumas situações de matança dos meliantes são “amenizadas” com uma piadinha sem graça, típica de um filme do Batman dirigido por Joel Schumacher.

Pior ainda: Liss introduz novos personagens que servem para um espiral de falatório repetitivo. Joe Hilt, o corrupto policial encarregado de capturar o Aranha não faz o leitor esquecer a sua principal meta a cada aparição até o final do arco.

É natural – principalmente nas HQs de super-heróis – recapitular o que aconteceu na edição anterior, mas o “mantra” aqui está sempre em um tom acima, soando o tempo todo didático e esquematizado.

Tudo soa forçado e incongruente. Nita Van Sloan, ex-noiva de Wentworth e atual esposa do comissário de polícia Stanley Kirkpatrick, principal aliado do herói (outra característica absorvida pelo Batman), é editora do principal jornal de Nova York, mas não tem a curiosidade de saber o que está acontecendo, nem quando o seu marido pede para se afastar do caso principal que as autoridades estão lhe dando.

O “Alfred” de Richard Wentworth, Ram Singh, deixa de ser o mordomo e se torna advogado do protagonista. Mesmo assim, não deixa os estereótipos físicos, como o turbante indiano. Sua presença não vai além de ajudar a socar alguns zumbis com a arte marcial oriunda de seu país.

Apesar de ter um bom gancho gore, com uma cabeça de um zumbi explodindo no primeiro capítulo, os zumbis da vilã não criam tensão, não assustam e não mordem. A única dúvida que vem à cabeça do leitor é como a polícia faz para conter as infestações a cada capítulo.

Básica também é a caracterização da Anput, a Rainha Zumbi: no kit completo, uma origem pelas bandas do Cairo, trajes egípcios e uma motivação tão forte e criativa quanto a do próprio Aranha.

Existe ainda um cientista para desvendar o antídoto do gás que “zumbifica” as pessoas. A cabeça explodindo, como em Scanners, filme cult do canadense David Cronenberg, praticamente é a única baixa do lado das vítimas.

Não é a primeira vez que romancistas não correspondem às expectativas quando migram para os quadrinhos, vide exemplos tanto daqui do Brasil (como a Vanessa Barbara, em A máquina de Goldberg), quanto lá fora (Charles Huston e sua fase no Cavaleiro da Lua, publicada em Marvel Action).

A aura da inocência de outrora ou até mesmo os clichês do gênero poderiam ser trabalhados com mais criatividade ou inteligência. Vez por outra, esses personagens dos pulps são homenageados ou inspiram novas bases nos quadrinhos – vide a divertida série Tom Strong, de Alan Moore, e Planetary, de Warren Ellis.

Também não muito conhecido pelas bandas brasileiras, a arte fotográfica de Colton Worley mostra impacto e força a princípio. O quadrinhista tem seus bons momentos nas composições e diagramações, mas seu traço se revela bastante truncado na narrativa.

Um exemplo é quando a jornalista Nita Van Sloan se vê cercada pelos zumbis. Em momento algum as suas tranquilas feições se alteram, o ápice da canastrice.

Completando o volume, as capas originais produzidas por Alex Ross, John Cassaday, Francesco Francavilla e Ron Lesser, além de comentários do escritor para a primeira edição e minguados esboços criados por Ross.

A edição da Mythos tem capa dura, papel couché de alta qualidade e uma curiosidade: O Sombra – Volume 1 – O fogo da criação tem 212 páginas e custa R$ 39,90, enquanto O Aranha – O terror da Rainha Zumbi possui 172 páginas por R$ 49,90. Provavelmente, o valor “salgado” seja pela diferença das tiragens.

Nem a bela “muleta”, a capa de Alex Ross, que atrai a atenção dos leitores para a HQ, salva clássicos heróis dos pulps de cair na pior das armadilhas: o terrível ataque dos clichês assassinos, trucidando as histórias.

Classificação

1,0

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