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O azul indiferente do céu

29 novembro 2013

O azul indiferente do céuEditora: Marca de Fantasia – Edição especial

Autor: Shiko (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 22,00

Número de páginas: 80

Data de lançamento: Novembro de 2013

Sinopse

Fábula urbana sobre a violência e a banalização da morte na América Latina, ao reencenar os últimos momentos do ativista colombiano Héctor Abad Gómez, assassinado em 1987.

Positivo/Negativo

Um dos grandes quadrinistas da nova geração, Shiko já estava no cenário desde os anos 1990, mas sempre situado às margens do “mercado” nacional – que só de alguns anos pra cá ganhou novos impulsos com a internet, o surgimento de editoras - multinacionais e independentes - e as mudanças editoriais que tanto sonhava nomes como Flavio Colin (1930-2002).

Sem cair no demérito de avaliar o cenário nacional de quadrinhos – que está aprendendo a andar – Shiko foi moldando sua técnica autodidata nos fanzines fotocopiados (no seu caso, apropriadamente chamado de Marginal Zine), nos trabalhos publicitários e no grafite.

A excelência do seu traço já era um aliado de sua qualidade textual, na qual bebia tanto de Moebius quanto dos mangás, passando por literatos como Alberto Camus, Moacyr Scliar e o conterrâneo Augusto dos Anjos.

Depois de lançar de forma independente Blue Note (álbum em parceria com Biu, escritor de Aparecida Blues), uma coletânea de seus zines em Marginal (Marca de Fantasia), ganhar notoriedade com a adaptação homônima de O Quinze (Ática) e sua participação em MSP Novos 50 e Piteco - Ingá (ambos da Panini), o quadrinhista volta ao meio independente com O azul indiferente do céu.

Praticamente sem falas e recordatórios, Shiko mostra um grande domínio de narrativa por meio de brincadeiras com as onomatopeias (em que a “arma” também pode ser a informação e o registro fotográfico) e o uso dos recursos cinematográficos para não só causar o impacto visual necessário, como “casar” imagens como se tudo aquilo fosse orgânico e ligado um ao outro.

Um exemplo é a transitoriedade espaço-temporal em uma engenhosa “montagem” entre a prensa do texto jornalístico de Héctor Abad Gómez e sua própria morte por meio de queima de arquivo, evidenciando que ele já tinha sido assassinado quando seu artigo, no qual denunciava que “a vida de um homem não valia mais do que oito dólares”, foi publicado.

Detalhes como o dinheiro deixado após um trago no boteco ou a religiosidade latino-americana evidenciada no desfecho mostram frestas de um universo bem próximo da realidade brasileira.

A expectativa gerada causa um suspense tamanho que o leitor “prende a respiração” acompanhando os poucos personagens envolvidos, seja o fotógrafo ou o próprio jornalista veterano.

A bela e detalhada arte de Shiko possui uma miscelânea de referências, que vão desde Will Eisner (1917-2005) até uma “pegada” europeia e nipônica, mas sem deixar de possuir uma precisa “impressão digital” do quadrinhista.

A edição é acompanhada de um pequeno cartão que mostra a foto do corpo de Héctor Abad Gómez e um texto explicando quem foi o ativista colombiano de um lado e a foto da família com o poema traduzido de Jorge Luiz Borges que encerra a HQ (e que dá nome ao álbum) do outro.

O azul indiferente do céu é uma prova de que a poesia de sabermos que “somos a ausência que seremos” pode ser transposta para a brevidade de uma história em quadrinhos.

Classificação

4,5

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