O boxeador
Editora: 8Inverso – Edição especial
Autor: Reinhard Kleist (roteiro e desenhos) – Originalmente em Der boxer - Die wahre geschichte des Hertzko Haft (tradução de Augusto Paim).
Preço: R$ 51,00
Número de páginas: 200
Data de lançamento: Julho de 2013
Sinopse
A história real do polonês Hertzko Haft. Como ele sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e aos campos de concentração divertindo militares nazistas como pugilista, em combates entre os prisioneiros.
Positivo/Negativo
“Depois de tudo o que eu sofri, que mal pode me fazer um homem com luvas de boxe?”
Essa é a epígrafe que abre O boxeador, mais uma história real quadrinizada pelo alemão Reinhard Kleist, o mesmo de Johnny Cash - Uma biografia (2009), Elvis (2010) e Castro (2011), todas lançadas no Brasil pela 8Inverso.
O cenário aqui é a Polônia no final dos anos 1930, em plena Segunda Guerra Mundial. Para sobreviver, a família do adolescente judeu Hertzko Haft contrabandeava através da fronteira que dividia o país em dois, devido à ocupação alemã.
Acidentalmente preso pela SS (organização paramilitar ligada ao partido nazista), pela primeira vez Haft soube o que era está sozinho, sem a ajuda da família e sem a sua noiva, Leah.
Conquistando a simpatia de alguns oficiais, logo extravasou toda a sua raiva e frustração nos ringues improvisados dos campos de concentração, para a distração dos nazistas. O último som que o pugilista derrotado escutava não era do gongo, mas de um tiro na cabeça.
Ao longo das vitórias, Haft logo se transformaria na “Fera Judia”.
No decorrer da narrativa, Kleist apresenta a trajetória de sofrimento do protagonista que justifica a epígrafe do álbum. Interessante notar que não há maniqueísmos, nos quais apenas os alemães são malignos.
Além de judeus que tentam sobreviver à custa dos maus-tratos de outros no exercício de kapos – prisioneiros a quem os nazistas designavam tarefas de chefia –, o álbum mostra até cenas de canibalismo praticadas pelos famintos detentos.
Na segunda parte da HQ, o protagonista cruza o oceano e começa sua carreira profissional nos ringues norte-americanos com um objetivo bem diferente de quem busca os sonhos na “terra das oportunidades” com sua fama.
O quadrinista ainda mantém a atenção do leitor depois do “pior” na Europa. Os desafios e dificuldades são totalmente novos, incluindo lidar com a máfia nova-iorquina.
A terceira e última parte costura as pontas soltas no passado de forma emotiva. O autor justifica a pequena introdução usando o filho mais velho, Alan Scott Haft, e o próprio Hertzko, que reforçou a curiosidade no começo, repetindo-a no final, quando o leitor já está “saciado”.
A base do artista alemão foi a biografia inédita no Brasil intitulada Um dia eu contarei tudo - A história de sobrevivência do boxeador judeu Hertzko Haft, escrita pelo primogênito Alan.
Na melhor escola de Will Eisner (1917-2005), Reinhard Kleist sabe equilibrar os jogos de luz e sombras, dar vida e dinamismo aos personagens (com destaque para a sequência de luta contra o lendário Rocky Marciano) e – o mais importante – contar uma história sem se apropriar de maneirismos ou narrativas sofisticadas.
Apesar do preço salgado (pra se ter uma ideia, Castro tem o mesmo valor com quase 90 páginas a mais), a edição da gaúcha 8Inverso carrega o mesmo padrão das obras anteriores do autor alemão: capa cartonada com orelhas, páginas antirreflexivas (com ressalva na gramatura) e boa impressão.
A obra é complementada com um amplo texto explicativo traçando um panorama do boxe no campo de concentração, escrito pelo jornalista esportivo Martin Krauss, pin-ups e estudo de personagens, além das biografias do autor e tradutor.
Este ano, O boxeador venceu o Peng! de melhor álbum em língua alemã no Festival de Quadrinhos de Munique e o Grande Prêmio do Festival de Quadrinhos de Lyon.
Classificação