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O Fotógrafo – Uma história no Afeganistão – Volume 3

30 maio 2014

O Fotógrafo – Uma história no Afeganistão – Volume 3Editora: Conrad Editora – Série de álbuns em três partes

Autores: Didier Lefèvre (argumento e fotografias), Emmanuel Guibert (roteiro e desenhos) e Frédréric Lemercier (diagramação e cores).

Preço: R$ 51,00

Número de páginas: 112

Data de lançamento: Julho de 2010

Sinopse

A jornada chega ao fim. Depois de três meses acompanhando uma expedição da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) ao Afeganistão, o fotógrafo francês Didier Lefèvre conclui a missão de mostrar ao mundo a história e a cultura de um país arrasado pela pobreza e pela guerra durante a invasão soviética em 1986.

Decidido a fazer a viagem de volta ao Paquistão sem a companhia do MSF, Lefèvre se depara com muitos obstáculos.

Positivo/Negativo

Nos anos 1980, época em que se passa O Fotógrafo, a lembrança mais palpável sobre o povo afegão se resumia a tímidos flashes de notícias no telejornal e ao resgate que Sylvester Stallone planejava para salvar seu mentor das mãos dos soviéticos em Rambo 3 (1988).

Com os atentados de 11 de Setembro de 2001, o Afeganistão voltou à baila, mas geralmente o Ocidente pouco conhece sobre essa região. O que se tem ciência é revestido de preconceito e estereótipos.

O desconhecido é um dos atrativos desta série, que habilmente mistura quadrinhos coloridos e as fotografias em preto e branco do protagonista da história, Didier Lefèvre, pela sua viagem clandestina com a organização não governamental e sem fins lucrativos que oferece ajuda médica a populações em situações emergenciais.

No primeiro volume, os registros fotográficos apresentavam e contextualizavam o país e a homérica passagem da caravana dos Médicos Sem Fronteiras do Paquistão ao Afeganistão.

Já no segundo álbum, Lefèvre clica com suas lentes as várias mazelas da guerra, que não poupa mulheres, crianças ou idosos. São atrocidades remediadas com as condições precárias de trabalho e solidariedade da equipe médica.

Neste terceiro e último tomo, o francês planeja sua volta ao Paquistão de maneira inusitada: sozinho.

O volume começa com uma série de fotos, que vão alternando cada vez menos com os quadrinhos, devido ao racionamento de rolos de filmes que Lefèvre se impôs para captar toda a jornada.

A ideia da obra não é fazer uma simples “fotonovela”. Neste álbum, se percebe mais o uso da arte para preencher as memórias do fotógrafo, em virtude da escassez dos registros da sua máquina.

Em suma, o que o trio de autores faz aqui é uma história em quadrinhos, que utiliza como ferramenta importante o recurso da foto.

Inicialmente, o que parecia ser uma viagem tranquila de “turista”, revela-se a maior aventura dos três volumes. O primeiro obstáculo a ser vencido é a incompreensão da língua local, o que transforma o “exótico” estrangeiro no centro das atenções do pernoitamento nos vilarejos. Uma verdadeira “coletiva de imprensa” de curiosos.

Ao passar das páginas e dos dias, o tom cômico de O Fotógrafo ganha contornos dramáticos. O leitor começa a sofrer junto com o protagonista, desde a impaciente espera por uma escolta, passando pela preguiça e desinteresse dos guias, até a aflição da ignorância de pequenos detalhes, como o de amarrar a carga no cavalo.

Em um dos momentos de maior aflição, pela primeira vez o leitor é presenteado pela diagramação de Frédréric Lemercier (que também cuida das cores) de uma página dupla, na qual o silêncio é ensurdecedor. Uma fotografia aparentemente simples e fora de contexto, mas carregada de sentimento na história.

Apesar de não ser hiper-realista, a arte minimalista de Emmanuel Guibert (do ótimo A Guerra de Alan, lançado no Brasil pela Zarabatana) casa perfeitamente com a narrativa fotográfica de Lefèvre.

Na verdade, pouco importa esse detalhe matrimonial. O leitor compactua com a remodelagem daqueles momentos desenhados, que ganham moldura documental no preto e branco do ofício do fotojornalista francês. A fotografia nada mais é do que uma extensão das qualidades artísticas e profissionais exclusivas do personagem principal, utilizadas para enriquecer a narrativa.

A Conrad caprichou na edição nacional, com capa dura, aplique de verniz e papel couché com excelente impressão. O que faltava nos volumes anteriores foi reservado para o encerramento: pequenos textos sobre os principais personagens e o destino de cada um deles.

No perfil de Didier Lefèvre, uma trágica atualização informa sobre sua prematura morte, em 29 de janeiro de 2007, vítima de um ataque cardíaco, aos 49 anos.

Pouco antes de morrer, no dia 27, Lefèvre, Guibert e Lemercier ganharam o tradicional Festival de Angoulême por este terceiro volume de O Fotógrafo.

Um trabalho imortalizado não só em seus registros fotográficos, mas nos recortes das suas reminiscências de um país que ficou menos exótico, estereotipado ou desconhecido para o Ocidente pós-Bin Laden por meio da Nona Arte.

Classificação

5,0

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