O Lixo da História
Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial
Autor: Angeli (roteiro e arte).
Preço: R$ 55,00
Número de páginas: 312
Data de lançamento: Abril de 2013
Sinopse
Desde 2001, Angeli dedicou incontáveis charges aos conflitos que atravessaram o Oriente Médio após o 11 de setembro. Passou pelo governo Bush, pelas guerras do Afeganistão e do Iraque, pelo conflito entre Israel e Palestina, chegando até os distúrbios recentes no Egito e na Síria.
O resultado é um painel abrangente das principais questões que mobilizaram o noticiário político internacional nos últimos dez anos.
O lixo da História reúne esta produção, organizada cronologicamente e com projeto gráfico de Elisa V. Randow. Ao fim, uma extensiva cronologia, que parte da fundação do Estado de Israel, ilumina e aprofunda os temas abordados pelo autor.
Positivo/Negativo
Angeli, Laerte e o falecido Glauco (também conhecidos como Los Três Amigos) são inegavelmente patronos da atual geração do humor gráfico no Brasil. Angeli teve seu grande sucesso como quadrinhista nas décadas de 1980 e 1990, com personagens marcantes como Rê Bordosa, Meia Oito, Os Skrotinhos, Mara Tara, Wood & Stock e outros tantos reverenciados até hoje.
Mas as charges, um lado muito importante da sua produção, nem sempre recebeu a devida atenção. E elas são mais complicadas para trabalhar editorialmente, pois são feitas para funcionar naquele instante e, passado o furor da notícia, a graça muitas vezes se perde e poucos compreendem o que o artista queria dizer.
Apesar de produzir charges continuamente para a Folha de S.Paulo e o portal UOL, Angeli, infelizmente, só teve coletâneas tímidas desse material.
Suas charges ganharam um destaque maior no período em que Fernando Henrique Cardoso foi presidente, quando a Ensaio lançou FHC - Biografia Não-Autorizada e a Boitempo publicou O presidente que sabia javanês - com Angeli ilustrando as crônicas de Carlos H. Cony.
Agora, a Quadrinhos na Cia., nova casa editorial do autor, reuniu as charges dos anos 2000 focadas na agressiva política externa de George W. Bush e sua guerra contra o terror.
Longe desses conflitos entre os Estados Unidos e o Oriente Médio, é fácil esquecer algumas coisas e tachar os anos 2000 como um período de paz. Contudo, quando o leitor vê os anos passarem no livro, e as charges tingidas de sangue marcadas pela presença constante de um Bush orelhudo, meio palerma e agindo como uma criança mimada que trata vidas humanas como brinquedos, logo vêm à memória as pesadas marcas que esses eventos espalharam pela última década.
Não há muito o que dizer do traço tão peculiar, sujo e marcante de Angeli. E na coletânea pode-se observar a diversidade dos seus acabamentos, que vão de desenhos bem finalizados e mais limpos, até aqueles em que se vê todas as linhas usadas para a construção do desenho.
A edição da Quadrinhos na Cia. ficou caprichada, e é acompanhada de uma linha do tempo no final do livro que ajuda a contextualizar as charges com os acontecimentos históricos a que elas se relacionam.
Vale dizer que a editora poderia ter aproveitado a oportunidade para revisar o texto de algumas charges, uma vez que todas ganharam novas legendas, com letras digitais baseadas na caligrafia do Angeli - um trabalho feito pela excelente Lilian Mitsunaga.
Faltou também um pouco de cortesia ao Grupo Folha, que merecia um destaque mais explícito como publicador original do material - essa informação só aparece na ficha catalográfica. Ainda assim, fica a torcida para que a Quadrinhos na Cia. reúna em outra coletânea as charges sobre a política nacional no mesmo período.
Vale lembrar que Angeli ganhou todos os dezesseis HQ Mix na categoria de melhor chargista. E basta ler O lixo da História para entender por que ele sempre é o mais votado.
Classificação